domingo, 24 de outubro de 2010
...e num momento de estúpida lucidez... puxei o gatilho!
Puxei
o gatilho e fiquei ali parado ouvindo o estampido do tiro ecoar pela
manhã que parecia me recriminar pela minha atitude. Enquanto a fumaça da
pólvora se dissipava e misturava-se com a neblina eu observava trêmulo,
o corpo do homem caído ao chão. Minhas mãos sentiam o calor gerado pelo
disparo, e aos poucos o cano da arma ia esfriando, enquanto eu tomava
consciência do meu ato.
O
Sol agora brilhava com mais intensidade, como se as ondas de calor que
ele projetasse em minha direção fossem uma forma de me dizer se eu
realmente estava satisfeito com meu trabalho. Uma lágrima correu pelo
meu rosto, e a certeza de que aquele crápula que ficou estendido ao chão
nunca mais cometeria adultério, me perseguiu pela mata enquanto eu
corria em direção ao meu carro.
O
sangue que escorrera de seu nariz já estava seco agora. Aos poucos ele
recobrou a consciência e levantou-se meio atordoado, sem entender muito
bem o que estava acontecendo. Fez uma rápida verificação para ver se
encontrava o buraco causado pelo projétil... mas não encontrou nada. Foi
então que olhou para uma árvore à sua frente e viu a marca da bala.
Ele
não atirou em mim! Ele não atirou em mim! Meu Deus, mesmo vendo o ódio
estampado em seu rosto, e tendo a chance de acabar com a minha vida sem
que ninguém soubesse, ele não atirou em mim! Por quê?
Eu
chego em casa e desabo em minha cama. Uma história passa por minha
cabeça enquanto eu tento pegar no sono. Fiz bem meu trabalho. Com
certeza ele aprendeu a lição. Isto ficou claro ao ver como ele mijou nas
calças enquanto eu apontava o revólver bem no meio de seus olhos. O
susto foi tanto que ele até desmaiou... eu ri neste momento.
Ninguém
tem o direito de tirar uma vida, isso eu aprendi como o meu mestre. O
amor incondicional, a longanimidade, a mansidão, a temperança do Galileu
nunca saíram de meu coração. Embora eu não acredite em muitas das
estórias que me contaram sobre aquele “profeta”, eu jamais poderia negar
que tudo que ele fez e a forma como lidou com a vida...e com a própria
morte, são um exemplo para as gerações que virão.
Tenho
certeza que aquele homem vai pensar mil vezes agora, antes de dar um
passo errado. O bilhete que deixei em seu bolso contém as ordens para o
próximo passo da minha vingança. Ele terá que cumprir tudo que eu deixei
escrito. A primeira coisa a fazer é abdicar do cargo de pastor depois
de uma confissão pública de seus atos. Em seguida terá que pedir perdão
aos membros de sua igreja por tê-los enganado por tanto tempo.
Eu
deixo bem claro que estarei vigiando-o, e se ele não completar sua
missão... não terei tanta piedade da próxima vez que nos encontrarmos
pela madrugada. Finalmente o sono que há muito tempo havia rompido
relações comigo, chegou... vou descansar um pouco agora,deitar minha
cabeça no travesseiro, sem remorso, sem culpa, sem arrependimento afinal
de contas:
A noite foi de matar!
Edson Moura
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