Onde está
aquele menino que escondia-se embaixo dos cobertores e agarrava-se à sua mãe,
temendo que o bicho papão o viesse buscar?
Onde está você
pequeno “Edinho”? Que tantas vezes fez xixi na cama só por medo de ir ao
banheiro na escuridão da noite.
Cadê aquela
criança inocente que dizia que nunca ia se casar, só para ficar pra sempre
juntinho de sua progenitora? Cadê?!!
Cresceu o
garoto, e aos poucos conheceu o mundo. Mas não perdeu a ternura e ainda
continuava imaginando o perigo que rondava do lado de fora da
casa.
Já é um jovem,
mas ainda guarda resquícios da sua tenra infância. Pensa que é homem, e talvez
até seja. Não... não é!
Parou de fazer
malvadezas com os bichanos. Já não atira mais pedras no vidro do ônibus e se
esconde dentro da escola. Já não vai mais ao super-mercado roubar bonequinhos
dos “comandos em ação”.
Andar de
bicicleta? Nem pensar. Nadar no córrego canalizado, e com água suja da chuva?
Nananinanão! Invadir a casa dos japoneses para arrancar o pacote de café que
ficava dependurado como simpatia? Nunca mais. Quanto tempo
faz?!
Caramba!! Ele
até cabulava aula e subia por um cano de PVC até o telhado da escola, só pra
comer jambo e mijar na caixa d’agua. Rsrsr Espero que nenhum dos meus amigos de
escola leia este texto...beberam meu mijo!
Onde está o
garoto que largou a escola para trabalhar em dois empregos, na esperança de
juntar dinheiro e sair da favela? Pra onde foi o sonhador que dizia que ia ser
escritor quando crescesse? Ele cresceu.
Alguém aí viu o
rapaz que adorava pregar na igreja? O diácono que passava noites em claro
estudando a Bíblia? O cooperador que ensinava que é preciso amar uns aos outros,
não importando o tamanho da ofensa, onde ele está?
Amadureceu o
rapaz, tornou-se um homem, agora é pra valer. Já não alimenta mais sonhos. Não
tem mais medo de escuro, nem sente mais o prazer infantil de esconder-se embaixo
das cobertas. Sua mãe já está velha, e a distancia impede que ele se aconchegue
em seus braços. Mentira! Não é a distancia não! É a idade. A idade que chegou
como uma onda e varreu todo a proximidade que tinha com a Dona
Iris.
Com a
maturidade veio a coragem, e trouxe consigo a insensibilidade. Já foi o tempo em
que sentia medo. Hoje encara a tudo e a todos sem receio. Até ousou desafiar
Deus. Pobre Deus, está sofrendo nas mãos do Edinho.
Ser criança é
tão bom! É tão bom sentir medo. E num mundo onde o medo é quem dita as
diretrizes para uma vida plena, o maior medo que se pode sentir é justamente o
não sentir medo de nada.
Edson
Moura
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