Perdi
a conta de quantas vezes disse que amava, quando na verdade, o vazio
“preenchia” meu ser tal qual um buraco negro. Também já não me lembro de
todas as vezes que os tratei com cordialidade e polidez, ao tempo em
que a vontade de mandá-los às favas corroía minhas entranhas, latejando
como uma ferida infeccionada. Enfim, podemos dizer que: Se nunca formos
descobertos numa mentira, seria o mesmo que dizer a verdade. O que
devemos evitar sempre que possível é tentar mascarar um erro com uma
mentira, pois fazendo isso, sempre acabaremos por precisar de uma
segunda...e uma terceira.
Minhas mentiras nunca tiveram a intenção de fazer mal a ninguém, pelo
contrário, elas me ajudaram a conviver com pessoas indesejáveis.
“Conviver”, esta é a palavra correta a ser usada. Santas mentiras se
assim me permitem chamá-las. Desde muito jovem fui condicionado a
praticar a “política da boa vizinhança”. Li em algum lugar, não sei
onde, que algumas verdades são tão preciosas que devem ser protegidas
com as maiores mentiras, e com passar do tempo constatei que esta é uma
verdade. Sabemos que uma verdade, quando é dita com má intenção,
facilmente derrota todas as mentiras que possamos inventar para
defender, proteger ou agradar alguém.
Mentindo poupei algumas pessoas de sofrer, omitindo fatos evitei
celeumas em diversos lugares por onde estive. Sou franco, mas não muito,
até porque excesso de franqueza nos torna mal educados. Jamais diria à
esposa de um amigo que sua comida é ruim, mesmo que muitas vezes seja
intragável. Nunca diria a uma mulher que ela está gorda, ainda que suas
curvas parecessem mais com a circunferência da Terra. Necessitamos da
mentira, ela nos massageia. Estamos tão acostumados a beber de um só
gole uma mentira que nos lisonjeia, enquanto tomamos gota por gota da
verdade que nos amarga a alma.
Verdades já me colocaram em muitas enrascadas. Não quero que pensem que
sou desonesto, pois não tem nada a ver uma coisa com a outra. Honesto
sou, mas minto para salvar, se não ao outro, a mim mesmo. Houve uma
época em que optei por dizer apenas a verdade. Que furada! Angariei
alguns desafetos, chamaram-me de insensível, deixei de estender as mãos
há muita gente. Sofri quando resolvi falar a verdade. Seria realmente
cômico, se não fosse trágico. Quem diria que a verdade teria um peso
inferior ao da mentira, em pleno século XXI?! Nos é muito difícil
acreditar que algo que nos é contado por alguém seja verdade, quando bem
sabemos que mentiríamos se estivéssemos no lugar da pessoa que nos
fala.
Também não vão pensar que tudo que falo é mentira, pois isto não é
verdade. Invariavelmente eu “tenho” que contar algumas verdadezinhas, e,
mesmo correndo o risco de ser mal interpretado, ponho-as para fora,
como lâminas afiadíssimas que cortarão as frágeis linhas de minhas
amizades. Fazer o que não é? É a vida. Afinal de contas, uma mentira
muito bem contada pode dar a volta ao mundo mesmo antes de a verdade ter
a chance de calçar os sapatos, já dizia Winston Churchill
Por que estou abrindo meu coração neste pequeno texto, eu não sei.
Talvez seja um medo “inconsciente” de morrer e não deixar claro para
todos os meus amigos e parentes quem realmente é o Edson Moura. É bem
possível que meu cérebro esteja me traindo e, de certa forma me
obrigando a confessar meus “pecados” antes que seja muito tarde para
fazê-lo. Gostaria muito que meus filhos lessem estas linhas antes da
minha partida, mas também quero que eles saibam que o herói que sempre
me esforcei para ser, não passa de um manipulador de situações (um
manipulador do bem).
Mas falando a verdade agora...não sei se estas linhas são a mais pura
expressão das verdades que vivi, ou mais uma vez, minto para fazê-los um
pouco mais felizes, fazendo-os acreditar que o que escrevo seja
verdade, quando verdadeiramente, conto mais algumas mentiras. Mas que
droga! Chego à conclusão de que “Minto tão bem, que nem eu mesmo sei
quando estou falando a verdade”.
Edson Moura e Noreda Somu Tossan
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