quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ninguém
gosta de ser chamado de inútil e ninguém quer se tornar obsoleto um
dia, mas pensando bem, quando nos tornamos desnecessários na vida de
outras pessoas, estamos dando indícios de que essas pessoas já podem
caminhar com as próprias pernas. Na sociedade moderna constatamos esta
“deformação” em muitos lares.
Recordo-me de quando meus filhos
eram totalmente dependentes de mim. Quantas vezes dei mamadeira pra
minha primogênita Julia? Quantas vezes troquei a frauda da minha
Jéssica? Como me emocionava quando o Jonas me pedia para carregá-lo no
colo, pois estava cansado e precisava ser levado? Como era bom ouvir o
Cauã pedir para eu segurar sua mãozinha ao atravessar uma rua? Eles eram
totalmente dependentes, indefesos, ingênuos, despreparados para
enfrentar a árdua empreitada de viver.
Quero que eles cresçam. Desejo
que eles aprendam a “se virar” sozinhos, espero quem um dia consigam
largar minhas mãos e caminhar rumo à suas liberdades, sem medos, sem
melindres, totalmente tranqüilos e abnegados, como se deve ser o homem.
A maioria dos pais hoje em dia
são super-protetores. Tratam sues bebezinhos de 15 anos como se ainda
fossem crianças de colo. Não vêem que estão lhes fazendo mal e que isso
poderá acarretar uma série de problemas no futuro. Dizem que estão
apenas amando seus filhos e não querem que nada ruim lhes aconteça, mas o
que não percebem é que “inconscientemente” estão limitando seus filhos
para a vida. Medo de que seus filhos os abandonem ao atingir a
maioridade, pavor de que um dia sua prole lhes vire as costas e partam.
Mas acredito que acontecerá exatamente o contrário, ou seja, filhos que
não estão preparados para cuidar de si mesmos, estes sim, não poderão
cuidar de seus pais.
Penso diferente hoje. Confesso
que já me enganei dizendo que protegia meus filhos por amor a eles, mas
na verdade protegia-os por amor a mim, por medo de ser abandonado, medo
de ser esquecido um dia. Hoje estou 32 anos e quatro filhos que ainda
dependem parcialmente de mim. Venho me esforçando para torná-los
auto-suficientes. Preparando-os psicologicamente para uma possível
ausência minha, mostrando aos poucos que não estarei para sempre ao lado
deles. Sei que parece insensibilidade minha, mas não é. Amo tanto meus
filhos, mas tanto, que preciso fazê-los entender que serei inútil para
eles no futuro.
Quero que um dia eles possam dizer:
“Pai, eu não preciso mais do
senhor! Pode soltar minha mão.” Quero tornar-me um total inútil para
meus filhos, mas nunca quero deixar de ser importante para eles. Quero
sempre fazer parte de suas vidas, mas não quero ser um porto seguro para
nenhum deles. Quero ser lembrado por eles, como um pai que precisa de
ajuda e não como um pronto-socorro financeiro. Não quero que se tornem
arrogantes e pretensiosos, herdeiros abastados que não souberam o que é
privação. Quero que vençam na vida...mas os ensinarei a perder também.
Filhos! Chegará um dia em que não estarei perto...e tenho certeza que saberão o que fazer na hora do desespero.
Mãe! Obrigado por largar minha
mão na hora certa. Tornei-me um homem e não esqueci de ser menino quando
necessário. A vida tornou-me robusto no corpo, mas mantive meu coração
franzino e delicado, como deve ser. Espero estar sendo útil, ensinando
que precisaremos ser inúteis um dia.
Edson Moura
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