quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Caro Senhor prefeito de São Paulo,
Sou
apenas mais um desses estranhos animais que têm por habitat esta cidade
tão “linda”, mas espero que o senhor leia meu desabafo.
Me considero um monstro de resistência
e um expert em sobrevivência, pois o paulistano é, antes de tudo, um
bravo. Às vezes até penso em sair de São Paulo por algum tempo para
descansar de seus perigos e desconfortos (uma vez até pensei em ser correspondente de guerra lá no Iraque, só para ter um pouco de “paz” e
sossego), mas desisti.Já me acostumei com esse modo de vida, a viver
perigosamente, literalmente, “matando um leão por dia”, pois não sou um
covarde como esses equilibristas que passeiam sobre fios entre os
arranha-céus desta cidade. Fico olhando pra eles lá em cima...longe dos
trens lotados...dos ônibus e das lotações (onde pessoas se comportam
como animais selvagens debandando ao ver seu predador), atravessando as
avenidas...pelo alto..em suas seguras cordas-bambas e penso: eu quero
ver é você caminhar aqui no chão...aqui é que mora o perigo.
Eu sou tão ousado que tenho coragem
suficiente para pegar um ônibus ou mesmo um trem e ir dentro dele
(quando consigo entrar é claro) até a zona oeste da cidade. Vivo assim,
dia a dia, noite a noite, essa jornada que os historiadores do futuro,
embasbacados, chamarão a “Saga Edsoniana”. Já fiz mesmo várias viagens
na CPTM e SPTrans. Eu sou um bravo, ah! Se sou!.
Sei também que não me resta nenhum
direito nesta terra; respiro o ar dos escapamentos dos carros e até bebo
água da represa de Guarapiranga, todos os dias o meu trem margeia o
famoso Rio Tietê, considerado um dos mais lindos esgotos a céu aberto do
mundo; aspiro o perfume da estação Vila Olímpia, que muito me faz
lembrar uma possilga e...sobrevivo.
Mas eu não estou reclamando...jamais!
Já me aconteceu escapar de morrer caindo de um ônibus em que eu vinha
dependurado em noite chuvosa e ao chegar em casa encontrar a minha caixa
d’gua perfeitamente seca. Dia desses, ao tentar embarcar no trem
sentido Pinheiros, presenciei um fato corriqueiro (para mim), minha
marmita de alumínio amassou “mais uma vez”...é hora de trocar. Se nossas
moedas não fossem de material tão sólido, nem elas resistiriam à
pressão.
Estou enviando esta carta ao senhor,
meu prefeito, apenas para pedir que mandes plantar umas flores à beira
do rio Pinheiros, as capivaras que por alí passeiam irão adorar. Por
falar em capivaras, outro dia uma delas atacou um ciclista desatento que
esbarrou numa delas. Mas a culpa foi mesmo do ciclista, pois ele, de
forma irrespónsável, desviou abruptamente de um caminhão da prefeitura
que vinha na contra-mão da ciclovia. Cara doido!
Obrigado senhor prefeito, por ter
mandado parar de chover na cidade. Já não aguentava mais ouvir os
pobres, que vivem dizendo que não têm “nada”, dizerem que perderam
“tudo” na enchurrada...quanta incoerência deles não é? E por falar em
chuva, sem querer encomodar, será que o senhor pode mandar chover
novamente? É que o clima está tão seco que a “pouquíssima” poluição
daqui está causando irritação nos olhinhos das crianças. Um dia desses
até ouvi um colega dizer que nós devemos agradecer ao senhor por termos o
privilégio de sermos os únicos que conseguimos “ver” o ar que
respiramos. Muito obrigado prefeito!
Edson Moura
(Inspirado em Rubem Braga - Rio, junho de 1951)
Nenhum comentário:
Postar um comentário