quinta-feira, 8 de abril de 2010
Eles
estavam apavorados, a chuva já durava uma semana, o medo refletido em seus olhos
era apenas uma demonstração de que até os mais fortes se apavoram. O mestre
estava com eles, mas ainda assim temiam. De repente um estrondo..um barulho bem
conhecidos desses doze homens que moravam na
encosta.
Os gritos
começaram...e a correria se alastrou. Um deles, o mais “incrédulo”,olhou pela
janela, e não pode acreditar no que seus olhos lhe mostrava: Toneladas de terra
descendo o morro...casas sendo soterradas...corpos de crianças e mulheres
revolvendo no meio daquele lamaçal..animais..carros..móveis, tudo era carregado
e em poucos segundos já não se podia mais
vê-los.
Mestre!
Ele gritou. Faça alguma coisa! Vai deixar-nos perecer...não vê que vamos morrer
nessa avalanche? Um deles, o mais impulsivo, saiu correndo, foi tentar resgatar
um garotinho que acabara de ser tragado pela terra, mas nem houve tempo, uma
árvore enorme o acertou e ele ficou inconsciente...uma casa literalmente inteira
caiu por cima do homem..não houve tempo pra nada...o Pedro
morreu.
O mestre
olhava tudo aquilo atônito e se perguntava: “O que será que eles querem que eu
faça?..será quer eles não sabem que eu sou apenas um homem?...e que eles devem
conformar-se com as agruras da vida?” Sabíamos que este local era perigoso para
se construir...sabíamos que a qualquer momento isso
aconteceria.
Não posso
acalmar o deslizamento! Ele gritou. Nada posso fazer! Espero que vocês entendam
que a vida é assim mesmo, não pode ser mudada com passes de mágica, não se pode
acreditar que só pelo fato de crerem em mim...não lhes acontecerá nenhum
mal.
Enquanto
ele ainda falava, a segunda onda de terra soterrou a casa onde os onze homens
ainda estavam...e o silêncio tomou conta do local. Uma escuridão imensa se
abateu sobre eles, a pressão em seus peitos era enorme...onde está o
oxigênio...não posso respirar...pensava João.
Matheus
sentia um ardor mortal em seus pulmões que lutavam desesperadamente por um
último fôlego...mas foi em vão...já era tarde. Todos os doze homens morreram
ali...assim como outras centenas de pessoas. Nada pode ser feito, a natureza é
implacável quando não a respeitamos.
“A todos
aqueles que perderam amigos e parentes no Rio de Janeiro, as minhas mais
sinceras condolências”
“Mães! As
lágrimas irão cessar, embora as lembranças de seu menino correndo pelos becos da
favela jamais sairão de sua mente”.
“Maridos
e esposas! Sua vida agora terá que prosseguir! Mesmo sendo assaltados
constantemente pelos “flashs” dos momentos bons e maus que passaram
juntos”.
“Filhos!
Cresçam! E no momento oportuno, saiam das áreas de risco. Suas mães e pais
falecidos no desastre gostariam de velos longe do
perigo”.
Assim é a
vida!
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