segunda-feira, 6 de setembro de 2010
8º Dia:
Que estranho, não me recordo mais da cor dos seus olhos. Busco
desesperadamente lembrar-me de algumas rugas de expressão ou do desenho
de suas sobrancelhas...mas é em vão. A lembrança daquele rosto que tanto
amo, não existe mais.
7º Dia:
Lembrei-me das vezes em que ele passava horas olhando para mim. Quantas
palhaçadas e caricaturas ele inventava... só pra arrancar um sorriso
meu. Dava-me língua, fazia cara de malvado, olhava-me profundamente e
dizia: Você é lindo! Que idiota ele era. (risos)
6º Dia:
Como era mesmo aquela cicatriz que ele tinha logo abaixo do olho
direito? Minha nossa! Estou preocupado. Estava tão familiarizado com o
rosto dele que agora me assusta só de pensar em esquecê-lo.
5º Dia:
Quem diria, mais de vinte anos nos vendo todos os dias, e agora, depois
de quatro dias sem observá-lo, começo a entender como é fácil esquecer
um rosto. Não posso permitir que a memória me traia, vou vasculhar meu
cérebro em busca de algo em que eu possa ancorar a lembrança de seus
olhos graúdos e castanhos.
4º Dia:
Os dentes eram perfeitos. A maçã do rosto era juvenil embora ele já
tenha trinta e um anos de idade. A barba grossa, mas sempre bem feita,
não permitem que pareça mais velho. Os cabelos negros com um leve
ondulado, o fazem parecer latino.
3º Dia:
Como vou fazer para me barbear? Ele sempre me mostrou como se deve
fazer. E quando eu me cortar com a lâmina afiada, quem vai me fazer ver?
Não pensei que seria tão difícil ficar sem sua imagem.
2º Dia:
Tem uma espinha bem no meio da minha testa. Vou espremê-la. Não, não
posso fazer isso, não sei se ela já esta madura. É melhor deixar ela ai.
Mas, e se as pessoas ficarem olhando? É melhor espremê-la então.
1º Dia:
Vou olhá-lo bem hoje! Estou vendo que seus cílios são grandes, e que
sua boca é bem delineada. Olha só! você tem uma cicatriz bem abaixo do
olha esquerdo. Você a ganhou quando um cachorro o mordeu na face quando
tinha apenas dois aninhos.
Será
que conseguirei concluir esta experiência? Afinal de contas serão oito
dias sem nos vermos. Tirei todos os espelhos de casa. As panelas mais
brilhantes foram escondidas. Até a tela da TV foi coberta com lençol.
Qualquer vasilha que pudesse projetar reflexo fora retirada. Vidros,
garrafas, fotos, vídeos... tudo. Tudo fora preparado para que eu
descobrisse ao longo desses oitos dias, quanto tempo seria necessário
para uma pessoa esqueçer-se de seu próprio rosto.
Edson Moura
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