sábado, 26 de maio de 2012

Agradecimentos

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Caro Senhor prefeito de São Paulo,
Sou apenas mais um desses estranhos animais que têm por habitat esta cidade tão “linda”, mas espero que o senhor leia meu desabafo.

Me considero um monstro de resistência e um expert em sobrevivência, pois o paulistano é, antes de tudo, um bravo. Às vezes até penso em sair de São Paulo por algum tempo para descansar de seus perigos e desconfortos (uma vez até pensei em ser correspondente de guerra lá no Iraque, só para ter um pouco de “paz” e sossego), mas desisti.Já me acostumei com esse modo de vida, a viver perigosamente, literalmente, “matando um leão por dia”, pois não sou um covarde como esses equilibristas que passeiam sobre fios entre os arranha-céus desta cidade. Fico olhando pra eles lá em cima...longe dos trens lotados...dos ônibus e das lotações (onde pessoas se comportam como animais selvagens debandando ao ver seu predador), atravessando as avenidas...pelo alto..em suas seguras cordas-bambas e penso: eu quero ver é você caminhar aqui no chão...aqui é que mora o perigo.

Eu sou tão ousado que tenho coragem suficiente para pegar um ônibus ou mesmo um trem e ir dentro dele (quando consigo entrar é claro) até a zona oeste da cidade. Vivo assim, dia a dia, noite a noite, essa jornada que os historiadores do futuro, embasbacados, chamarão a “Saga Edsoniana”. Já fiz mesmo várias viagens na CPTM e SPTrans. Eu sou um bravo, ah! Se sou!.

Sei também que não me resta nenhum direito nesta terra; respiro o ar dos escapamentos dos carros e até bebo água da represa de Guarapiranga, todos os dias o meu trem margeia o famoso Rio Tietê, considerado um dos mais lindos esgotos a céu aberto do mundo; aspiro o perfume da estação Vila Olímpia, que muito me faz lembrar uma possilga e...sobrevivo.

Mas eu não estou reclamando...jamais! Já me aconteceu escapar de morrer caindo de um ônibus em que eu vinha dependurado em noite chuvosa e ao chegar em casa encontrar a minha caixa d’gua perfeitamente seca. Dia desses, ao tentar embarcar no trem sentido Pinheiros, presenciei um fato corriqueiro (para mim), minha marmita de alumínio amassou “mais uma vez”...é hora de trocar. Se nossas moedas não fossem de material tão sólido, nem elas resistiriam à pressão.

Estou enviando esta carta ao senhor, meu prefeito, apenas para pedir que mandes plantar umas flores à beira do rio Pinheiros, as capivaras que por alí passeiam irão adorar. Por falar em capivaras, outro dia uma delas atacou um ciclista desatento que esbarrou numa delas. Mas a culpa foi mesmo do ciclista, pois ele, de forma irrespónsável, desviou abruptamente de um caminhão da prefeitura que vinha na contra-mão da ciclovia. Cara doido!

Obrigado senhor prefeito, por ter mandado parar de chover na cidade. Já não aguentava mais ouvir os pobres, que vivem dizendo que não têm “nada”, dizerem que perderam “tudo” na enchurrada...quanta incoerência deles não é? E por falar em chuva, sem querer encomodar, será que o senhor pode mandar chover novamente? É que o clima está tão seco que a “pouquíssima” poluição daqui está causando irritação nos olhinhos das crianças. Um dia desses até ouvi um colega dizer que nós devemos agradecer ao senhor por termos o privilégio de sermos os únicos que conseguimos “ver” o ar que respiramos. Muito obrigado prefeito!

Edson Moura

(Inspirado em Rubem Braga - Rio, junho de 1951)

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