Pobre de nós ateus que, como
cordeiros ingênuos, caímos em covis de lobos ferozes. Pobres de nós ateus que
somos vilipendiados pelos intolerantes crentes, e não temos nem sequer a
oportunidade de manifestarmos nossa opinião, pois tudo que falamos é tolice.
Crentes estes que esqueceram que divino era só o mestre Jesus, e eles, assim
como nós ateus, tombaremos sobre a mesma terra e apodreceremos a medida em que
somos devorados pelos vermes. Vermes estes que, ao contrário do que disse o
messias, acabará ao ver que nada de nós existe mais para ser consumido.
sábado, 30 de junho de 2012
domingo, 24 de junho de 2012
Ainda faço minhas escolha
Não me tirem as lembranças, pois elas são o
combustível que faz meu coração bater. Não me tirem a dor, pois ela é o
parâmetro para que eu possa avaliar minha saúde. Não me tirem a tristeza, pois
somente com ela eu consigo lembrar-me de como fui feliz. Não me tirem a
escuridão, porque aos poucos meus olhos desprezarão a luz.
Não me tirem a fome, para que eu não reclame do
pouco que ainda tenho. Não me tirem a pobreza, pois certamente eu desprezaria o
miserável. Não me façam elogios, para que o orgulho não me domine. Não deixem
de me abraçar, para que a frieza não tome o lugar do calor humano.
Não me falem sempre a verdade, porque algumas
mentiras nos mantêm amigos. Não me mostrem tudo, para que eu não perca a
vontade de descobrir coisas novas. Não me tirem a insônia, porque dormindo eu
não vejo a vida passar. Não afastem a morte de mim, porque é eminência de sua
chegada que me deixa com sede de viver mais um dia.
Não furtem meus livros, porque às vezes eles são
meus únicos companheiros. Não se esqueçam de mim, para que, uma vez morto, eu
não deixe de existir. Não me amem demais, para que a insegurança não atormente
tua alma. Não me amem de menos, para que eu não me sinta tão rejeitado.
Não tirem meus filhos, porque eu os amo muitíssimo.
Não se apeguem demais às pessoas, para que quando elas se forem, você também
não se vá. Não me deixem envelhecer além do necessário, para que eu não me
sinta um total inútil. Não me mantenha vivo, se acaso tornar-me um peso em suas
vidas.
Não se enganem comigo, pois posso não ser a
pessoa que imaginam que eu seja. Não se entristeçam se um dia descobrirem que
os enganei, porque eu só quis fazer o bem, escolhendo uma mentira que salva a
uma verdade que destrói. Não pensem que não percebe quando estou sendo
enganado, pois sei que algumas verdades são tão preciosas que devem ser
escondidas até com as maiores mentiras.
Odeiem-me, e depois de me conhecer melhor, talvez
me amem. É melhor do que me amarem, e ao saber como sou verdadeiramente, me
odeiem. Porque sabemos quão maravilhosas são as pessoas que não conhecemos
intimamente. Não se encantem com meu jeito engraçado, pois por traz deste rosto
alegre, pode existir um coração triste, uma mente confusa e um ser miserável e
mau.
Não gastem sua saúde buscando dinheiro demais,
pois lá na frente, olhará para trás e verá que nada fez, e que é um velho,
doente e solitário. Então gastará a fortuna acumulada em busca de saúde, amigos
e paz. Mas não encontrará. Sentará e rirá de suas próprias tolices.
Não viva pensando no futuro, vivendo uma época
que ainda não existe, pois certamente, ao chegar lá, começará a saborear apenas
os sonhos do passado, então entenderá que deveria ter aproveitado mais o
presente, amado quem estava ao seu lado e experimentado os prazeres da
juventude
E para terminar este testamento, feito numa época
em que minhas saúde mental ainda não havia me abandonado, digo: Não sintam-se
culpados por coisa alguma, porque todas essas escolhas foram minhas...não
suas.
Edson Moura
domingo, 17 de junho de 2012
“Não estava lá, mas posso imaginar”
“Não estava lá, mas
posso imaginar”
A imagem de crianças com suas
canecas de ferro fundido nas mãos, implorando por um pouco de leite, ou
migalhas de pão, não me saem da cabeça. São imagens forjadas por minha mente,
eu sei, pois eu nunca presenciei tais fatos. Auschwitz-Birkenau, este é seu nome, e se, mesmo sem conhecê-la, consigo
sentir o terror invadir-me ao simples som de seu nome, posso imaginar o terror
que habitava os homens e mulheres que para lá foram levados.
Crianças que num dia brincavam com seus animais de estimação, faziam suas
refeições, aconchegavam-se no colo de suas mães e lambiam o bigodinho deixado
pelo leite morno que tomavam, no outro se viam desamparadas, famintas,
carentes, absolutamente sós num lugar onde o único conforto imaginável seria a
esperança de um dia adentrarem os portões do céu e descansarem nos braços de
seu Deus.
Quem afagaria seus cabelos quando tivessem um pesadelo noturno? Quem
daria aquele beijinho quando caíssem e de leve, esfolassem os joelhos? Quem os
protegeria dos monstros que existem debaixo de suas camas? Quanta dor foi causada a essas crianças. É
nessa hora que eu me desespero com o ser humano. É nessa hora que não consigo
conter a taquicardia e as lágrimas que brotam de meus olhos. Homens animais que
tratam suas crianças como lixo, como descartáveis, não se dão conta de que uma
espécie que não pode proteger seus filhotes, que não sente a extrema
necessidade de dar carinho a eles, não merecem permanecer vivos.
O que dizer das mães, que pela força foram arrancadas de suas crias,
vendo-os serem carregados para longe do lar, para a morte certa? Quem pode
sentir uma fração da dor de um pai que ao observar a partida de seu filho, para
sei lá onde, sente-se o mais inútil dos seres. Sem forças para lutar o que pode
fazer é apenas chorar. Não estive lá, mas posso imaginar. A estupidez de um
austríaco mostrou o quão insano pode ser o homem.
As mulheres chegavam aflitas dos
comboios de trens para Auschwtz, Sobibór, Treblinka, Majdanec, Belzec,
desesperadas por um pedaço de pão para seus filhos famintos. Imagine viajar por
dois dias, 170 pessoas espremidas em um único vagão. E quando chegavam eram
rapidamente selecionadas pelos médicos da SS. Entre as da esquerda ficavam as
que serviriam no regime de escravidão nos campos de concentração; as da
direita, juntamente com crianças, idosos
e deficientes, iam para as câmaras de gás.
Carregando suas malinhas, muitas vezes após mais de um dia sem comer, sedentas e com frio, as crianças perguntavam: “mamãe, estou com fome, onde vamos?”. Provavelmente as mães não sabiam o que responder. Algumas, creio eu, num esforço descomunal para consolá-las, diziam: “Vamos tomar banho e depois jantar.” Quem conhece a história sabe que este banho seria o seu último, e refeições certamente não precisariam mais, pois os chuveiros eram adaptados para sair, não água, mas sim um gás letal.
Carregando suas malinhas, muitas vezes após mais de um dia sem comer, sedentas e com frio, as crianças perguntavam: “mamãe, estou com fome, onde vamos?”. Provavelmente as mães não sabiam o que responder. Algumas, creio eu, num esforço descomunal para consolá-las, diziam: “Vamos tomar banho e depois jantar.” Quem conhece a história sabe que este banho seria o seu último, e refeições certamente não precisariam mais, pois os chuveiros eram adaptados para sair, não água, mas sim um gás letal.
Eles não gritavam, nem choravam,
pais e filhos judeus, ciganos, negros, ou doentes mentais, tiravam as roupas,
reuniam- se em circos familiares, beijavam- se e despediam-se uns dos outros,
esperando por um sinal dos homens maus
da SS que ficavam perto da vala com
chicotes nas mãos. Quantas vezes me imaginei naquele cenário? Pensando e
repensando qual seriai a minha reação? Será que eu imploraria por clemência?
Será que me agigantaria diante dos soldados e morreria lutando por minha
família? Talvez sim. Ou talvez eu permanecesse parado, como um covarde,
contemplando a máquina de matar de Hitler em pleno funcionamento. Não ouviriam
de mim nenhum pedido de clemência diante do pelotão de fuzilamento... talvez.
Numa dessas divagações, uma cena
se materializou em minha cabeça: “Auschwitz
II estava silenciosa. Podia sentir o frio cortante bater em meu rosto e os
pelos de meu corpo se arrepiarem. Uma fila se estendia pelo campo, era chegada
a hora, mais alguns receberam a permissão para partir. Presenciei uma
família de seis pessoas, um homem e uma mulher de aproximadamente 40 anos, com
duas filhas de 15 e 14 anos, dois meninos, um de 7 e outro de 5 anos apenas... a
mãe abraçava o mais novo. O homem olhava sua esposa com lágrimas nos olhos.
Depois o pai segurou a mão do menino de 7 anos e falou com ele ternamente, não
pude ouvir, mas vi uma lágrima rolar no rosto da criança e logo depois ser
contida pelo dedo polegar do pai. O menino lutava para contê-las.
Uma série de tiros então rompeu o
silêncio. De onde estava não conseguia ter uma visão clara, então dei dois
passos à frente e olhei por sobre o ombro de um soldado da SS. A cena me
aterrorizou. Vi os corpos das crianças se contorcendo, e os de seus pais,
imóvel. Corações que até um instante pulsavam, crianças que outrora sorriam e
brincavam, agora jaziam em cima de uma pilha de outros corpos que morreram antes
deles.
Sempre fico abalado com esses
pensamentos. Chego à triste conclusão de que não houve geração que não
produzisse insanidades, não houve povo que não formasse mentes estúpidas, mas
nos dias de Adolf Hitler nossa espécie foi às raias da loucura. Crianças e adultos
tirados de seus lares, vidas interrompidas pelo desejo megalomaníaco de um só
homem, que com extrema inteligência manipulou as mentes de uma sociedade tida
como a mais culta de todas.
Onde estavam os grandes
filósofos, que não ouviram os gemidos inexprimíveis de crianças e adultos, de
negros e judeus, ciganos e poloneses? Eles também se calaram! Alguns até
aderiram ao pensamento de Hitler e colaboraram com a tentativa de “limpeza
étnica”. Outros comentavam com orgulho que os campos de concentração era uma
industria de massacre sem falhas. Desde a seleção dos que chegavam, à
eliminação dos cadáveres até ao aproveitamento de seus pertences e restos
mortais.
Alguns vêm esses relatos apenas
como estatísticas, outros dizem nunca ter acontecido. São os filhos do
cartesianismo, onde nada escapa da frieza dos números, de dados estatísticos.
Notícias de terremotos que matam milhares e deixa milhões sem lar, chacinas,
Tsunamis, tudo não passa de números para alguns. Para outros (poucos eu sei),
notícias assim chocam, comovem e os fazem repensar seus conceitos. Trazendo uma
verdade implícita em seus sentimentos: “Quando uma sociedade não conhece a
fundo sua história, corre o risco de cometer os mesmos erros, talvez até
maiores”.
Não estivemos lá, mas podemos
imaginar.
Edson Moura
quinta-feira, 14 de junho de 2012
O Provocador 0064
"O Homem não passa de disfarce, mentira e hipocrisia, tanto diante de si mesmo, quanto diante dos outros. Não quer que lhe digam verdades e também evita dizê-las aos outros, e todas essas atitudes são alheias à justiça e à razão, e no fundo são raízes naturais do humano. Nós nos irritamos com políticos eleitoreiros e corruptos, mas não nos damos conta da possibilidade de nos tornarmos as mesmas pessoas nas situações similares às deles. O fato é que não conseguimos nos libertar de nós mesmos e entender que nossos maiores inimigos somos nós mesmos."
O Provocador
O Provocador
domingo, 3 de junho de 2012
“Calos”
Podem não acreditar na minha vida
diferente
Não tiro a razão dos que me veem com
os olhos do passado
Uma parte de mim mudou completamente
Digo isso porque fui bastante
açoitado.
Passei por um processo de
reconstrução
Sofri as dores que um adulto deve
sofrer
Sai da infância feliz e cai num mundo
de desilusão
Forjei a felicidade para sobreviver
Não sou o mesmo homem, talvez igual por fora
Por dentro diferente...
Por dentro é outra história...
Mudei completamente.
Tornei-me um novo ser...
Que em nada se compara com o ser que fui
um dia
Cansado de sofrer...
Resolvi bater no rosto daquele que me
batia
Eu sou um novo ser, bastante transformado
Apanhei mas aprendi, acho que tive
sorte
A cabeça é bem mais fria e o corpo
calejado
Era pra me matar, mas me deixou mais
forte.
Edson Moura
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