quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Provocador 0072

Comentário feito em Logos e Mithos

Já que todo muno falou (e muito bem) sobre o texto em si, e sobre a questão da unção e bla...bla...bla, quero falar um pouco deste trecho que (como diria o Levi:) pincei do texto:

"...O estranho é que Cristo (o Ungido), veio nos ensinar a ser humildes, servos uns dos outros e não o que temos visto hoje..."

Será que foi isso mesmo que ele veio ensinar?

Talvez até quisesse fazer isso, mas fez de forma errada, creio eu.

O Que mais vemos hoje em dia (e neste ponto o texto está perfeito) é crente achando que é melhor que ateu, que é melhor do que os que não creem, achando que é melhor que católico, achando que é melhor do que crentes de outra denominação, e crente achando que é melhor do que membros de sua própria igreja. Mas também , havia de ser assim. Olhem estas falas:

"Aquele que crê em mim nunca estará sozinho."

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim."

"Das ovelhas que meu Pai me confiou,
nenhuma se perderá"

"Todos devem honrar o Filho, como honram o Pai: quem não honra o Filho, também não honra o Pai, que O enviou"

"Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a meu Pai"

"Acredites, pois aqueles que não o fizerdes, eu vos desacreditarei perante meu Pai. Não me negareis, pois aqueles que o fizerdes, eu vos negarei perante meu Pai. Por fim, não vos julgueis, pois aqueles que assim o fizerdes, eu vos julgarei perante meu Pai"

"Eu e o Pai somos Um só; aquele que Me viu, viu ao Pai... o Pai está em Mim e Eu estou no Pai... tudo que é Meu é Teu (do Pai) e o que é Teu é Meu... Nós (Pai e Filho) viremos e faremos nossa morada nele..."

"Para isto eu nasci e vim ao mundo, para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz"

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá"

Jesus queria apenas espiritualizar as pessoas, queria que elas fossem boas. sem querer fazer piadas, jesus "criou" o "Imperativo categórico" kantiano, milênios antes de Kant nascer, ou não se lembram da frase: "Fazei aos outros tudo aquilo que quer que lhe façam, ou o contrário disto. Kant disse; Façamos as coisas de maneira que desejemos que todos façam a mesma coisa em nossa situação. na minha opinião é plágio de Kant.rss

São os cristãos que orgulhosamente apontam Jesus Cristo como alguém de extrema pobreza,e deveras humilde. Devemos levar em conta um quesito fundamental para se pensar o quanto isso é julgado em nome de um valor muito cultuado no cristianismo que é a humildade. A humildade, lamentavelmente, é considerada um valor nobre não só para os religiosos, mas para as pessoas em geral. O humilde é um orgulhoso que se orgulha da negação da vida enquanto condição para sua dignificação.

Parece-me que se tirar a humildade enquanto valor cristão não resta pobreza a Jesus Cristo, pelo contrário, Jesus pertencia à elite, assim como os cristãos de hoje pertencem a uma elite de seres humanos. Melhores que todos, escolhidos, menina dos olhos de Deus, povo eleito, futuros moradores do céu, herdeiros do reino, consequentemente...POVO UNGIDO.

E só são assim, creio eu, porque deram ouvidos a um homem (muito letrado) que se dizia o próprio Deus. Onde está a humildade em se afirmar que é o Criador do mundo?

O Provocador

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Provocador 0071

Comentário em: Logos e Mithos

E então gente?! Quem é que posta agora? Anderson, Anja ou Eu? Vamos lá, quero aplicar todo o metodismo que prometi a Anja. Estive ausente por algum tempo, mas estou de volta. Totalmente "reconfigurado", mas sempre com acidez na ponta da língua. Não é possível que nós não possamos chegar num nível mais alto de conhecimento, com tantas feras que temos aqui. Este espaço é para mais perguntas que respostas, e acredito que ninguém aqui está muito interessado em respostas fechadas sobre nossa existência, porque se tiver...tá por fora.

O interesse em saber por que existimos, não é um interesse "casual", como colecionar figurinhas da copa do mundo, ou moedas, ou selos por exemplo. Quem se interessa pelos assuntos que discutimos aqui, toca num assunto que vem sendo discutido pelo homem praticamente desde quando passamos a 'habitar este planetinha"

Os assuntos tratados aqui (e o Edu vai concordar comigo) tem como intuito, quebrar muitas superstições que rodeiam nossas vidas, mostrando com muitas situações não tem uma relação de causa e efeito entre elas, como alguns imaginam. A Teologia e a Filosofia aqui aplicadas, acredito, tem como fundamento advertir os leitores e debatedores quantos aos perigos das conclusões precipitadas, porque sabemos que as conclusões precipitadas podem levar a muitas formas de superstição.

O Provocador

O Provocador 0070

A mente humana sofre mudanças dependendo do estado em que se encontre o possuidor dela. Quando o humano está bem consigo mesmo, dificilmente ele procurará uma religião onde possa encontrar a Deus. Ele dança, ele trabalha , lê um livro, se diverte com bobagens do cotidiano, assiste filmes, pratica esportes, enfim, uma infinidade de ocupações ele encontra, menos a religião .

Quando está melancólico e abatido (e não for um existencialista), tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do mundo sobrenatural, e mergulhar mais fundo ainda no sofrimento. Pode realmente acontecer que, após ter se entregue profundamente as opiniões religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma melhora da saúde ou das circunstâncias, que restaure o seu bom humor, deixando-o animado para o futuro, antes incerto, agora, com a religião, certo.

Ele deverá então, se for honesto, admitir que se a religião tem uma base de construção, esta é o terror que aflige o homem, e ele tem apenas pequenos intervalos de tranquilidade, pois a religião necessita da dor para que mais e mais adeptos a recebam.

Este é um pensamento moderno, arrojado, existencial, o que difere de muitos pensamentos nesta confraria. É muito legal estudarmos a passado da religião, mas e quanto ao presente? O que dizer do agora? Foi tudo muito bonito o que Jesus fez, mas também Sócrates o fez, e nem por isso consideramos hoje todos os seus pensamentos certos, pelo contrário, podemos até encontrar afirmações que o deixaria envergonhado hoje. Ora, ele também dizia que ouvia uma voz que era maior que ele. Também incomodava os cidadãos de sua cidade, assim como Jesus. Também teve um julgamento injusto, e assim como Jesus, também preferiu a morte a negar seus ideais.

Jesus é um mito, Sócrates é um mito menor, o como todo mito, cada vez que se fala dele, mais glamour colocamos em sua história. Mas estão no passado, e quando o presente lhes afronta, ficam deslocados. A ética que não conseguimos praticar não é divina, pelo contrário, é bem humana, assim como totalmente humano foi Jesus.
 
O Provocador

domingo, 7 de outubro de 2012

O Provocador 0069

Comentário em: Logos e Mithos

É Eduardo Medeiros meu caro amigo, foi isso que eu quis dizer quando disse que disse a minha mãe (madonna, esta fala ficou horrível, mas prossigamos) que era tudo auto-sugestão. Só não quis usar a palavra crença.

O Cérebro humano é um mistério tão grande quanto o universo, aliás, já disseram que nosso cérebro é um universo de apenas um quilo. Sendo assim Edu, se nosso cérebro fosse tão simples ao ponto de conseguirmos entender essas coisa inexplicáveis de agora, seríamos certamente, tão idiotas que não conseguiríamos entendê-lo. Talvez as coisas tenham que ser asssim.

O homem é diferente de um cão, que,   ao lançarmos um galho de árvore, corre para buscar. Nós homens antes de corrermos para pegar, intuitivamente queremos saber de onde o galho veio, quem o jogou, e se possível por que o jogou, e o que ganho se for buscá-lo. O que não percebemos é que não podemos nos comparar ao cão, mas sim, ao galho. Nós somos um pedaço do universo infinito, possivelmente nunca o compreenderemos. Nem o Universo literal, nem o universo que é nossos cérebros.

Que bosta não!?

O Provocador

sábado, 6 de outubro de 2012

O Provocador 0068

Comentário em:

Algo que gostaria que nosso teólogo Eduardo explicasse, é por quê os demônios não entram num ateu? Não vale dizer que o fato de ser ateu já um sinal de possessão, pois não vou aceitar hein?!

Não é uma coisa estranha gente? Deus permitir que primeiro a pessoa seja possuída pelo demônio para só então entrar com providência. Fazendo uma analogia rápida, seria o mesmo que dizer que primeiro um laboratório tem que criar a doença para depois inventar a cura. (o que não duvido que aconteça)

Será que para os que acreditam nesses eventos, não pensam que pode haver um desejo um tanto obscuro de Deus? O que dizer então dos crentes (crentes mesmo) que são supostamente possuídos?

Creio que essas perguntas devam ser respondidas, antes mesmo de tentarmos responder às perguntas da GUI. Passo a batata quente então para nossa queridíssima Guiomar Barba.

 Das duas uma: Ou tudo isso não passa de loucura ou auto-sugestão, ou um ateu é totalmente imune às investidas dos demônios, uma vez que um ateu sério não dá créditos ao Diabo.

Sendo assim, creio que ser crente é perigoso demais.

Ah! Já sei: Os demônios querem na verdade apenas afrontar a Deus, roubando uma ovelha de seu aprisco. Mas meu cérebro não para de formular hipóteses e mesmo antes de escrever estas linhas, outras perguntas já são concebidas:

Não teria o sangue do cordeiro mais poder que a astúcia do Diabo? Deveríamos duvidar das narrativas Bíblicas quanto a essas questões? Assim como João Batista, que depois de um tempo preso, pediu a um dos discípulos que perguntassem a Jesus se ele era mesmo o Messias que há pouco o próprio João havia anunciado, e dito que não era digno de desatar, carregar ou costurar suas alparcas?

Enfim...tudo leva a crer que algo está errado:

Ou a narrativa da menina possessa

Ou a narrativa Bíblica que nos garante proteção mediante redenção divina.

Ou eu, que não acredito em nada disso.

O Provocador

O Provocador 0067

Comentário feito em:


Grosso modo, posso afirmar que o culto religioso funciona como uma hipinose coletiva, e de fato há benefícios para pessoas que apresentam um quadro leve de distúrbio psíquico. Note que estou pontuando positivamente o ritual religioso como um todo. Infelizmente, e eu posso dizer com propriedade, pois já presenciei situações extremas, que há casos também em que o contrário acontece, ou seja: A pessoa possuía uma propensão para determinado transtorno, e procurou a igreja para que as inquietações possem sanadas, mas o que aconteceu foi que um gatilho foi disparado, e o quadro da pessoa passou a piorar gradativamente, até que o pastor solicitou que a família a encaminhasse a um psiquiatra. A pessoa hoje está bem, desde que psicotrópicos foram receitados.

O que aprendi com isso?

Aprendi que o culto religioso bem dirigido e por profissionais competentes, com um mínimo de formação em Psicologia Cognitiva, pode ajudar e muito uma pessoa que se sente possuída por demônios, mas assim como um bom Psicólogo, é preciso saber quando devemos pedir ajuda Psiquiátrica.

Gente! Minha opinião particular. Sem fundamento Cientifico ou Acadêmico. Sem preconceito também. 

O Provocador

O Provocador 0066

A sobrevivência até nossos dias do misticismo dos tempos de Noé e a superstição não me irritam tanto quanto a aceitação acrítica das obras de misticismo e superstição, religiosas ou não, que podem defraudar, humilhar e às vezes inclusive matar. Como todos os seres humanos, também sou imperfeito. Às vezes sou intolerante e condescendente e não sinto nenhuma simpatia pelas fragilidades humanas que fundamentam a credulidade. Depoimentos como este narrado no texto, podem ser tanto nocivos quanto benéficos, dependendo da receptividade, e da fragilidade psíquica do "paciente-fiel".

O Provocador

O Provocador 0065

Monumental Levi meu mestre Bronzeado!!! Parafraseando o bigodudo: Não afugente de si o "demônio", pois ele pode ser a melhor coisa que você possui". Às vezes Sartre também ajuda: "O inferno são os outros". Entendo (corrija-me se estiver errado) Guiomar, e como já disse em comentários anteriores, que o medo é o combustível da superstição, do misticismo, e por conseguinte da religião. Não é tão mal assim sentir medo. O Medo nos mantêm afastados dos perigosos. O medo aciona o gatilho do "lute" ou "corra". O medo nos impede de cometer o mesmo erro. O medo da punição nos impede de matar, de roubar, de ferir. O medo nos impede de trair. O medo do pecado nos impede de ferir a nosso Deus. O medo de nosso Deus nos impede de cometer os "pecados". E o medo do diabo, consequentemente nos aproxima de Deus. Por mais que eu não acredite, tenho que respeitar o medo, ou a crença (que pode até ser sinônimo)da possessão demoníaca. como já disseram, não sei quem: De todos os medos que temos, o medo que mais devemos temer é justamente o medo de não ter mais medo de nada".

Se ninguém assumir a autoria da frase, por favor, digam que é minha! Rsss

O Provocador

O Provocador 0064

Comentário feito em:
http://logosemithos.blogspot.com.br/2012/10/vivendocom-propositos-lucas-13.html#comment-form

Quanto às indagações da Guiomar acerca dos eventos ocorridos com uma menina que alega ter uma irmã possuída por demônios. Acho que ela ainda não entendeu que todos aqui estão tentando dizer de forma delicada que tudo não passou de:

1) Uma mentira inocente contada pela pessoa que narra a cartinha

2) Uma meia-mentira, pois na verdade talvez a pessoa apenas tenha dito o óbvio tipo: Você está em casa! (é lógico, se ela atendeu ao telefone). Você está com aquela sua camisa branca! (partindo do principio lógico de que a pessoa ao telefone sempre usa, ou, usa costumeiramente camisas brancas não seria nenhum absurdo a dedução). Você está sentada naquela poltrona de respaldar (Novamente, o raciocínio lógico deduz que a pessoa estivesse sentada no mesmo lugar que costuma sentar quando atende ao telefone, que por sua vez não é sem fio, o que impediria a pessoa de ficar caminhando pela casa). E por que eu disse "meia-verdade"? Porque a pessoa que ouviu as "adivinhações" acabou, "inconscientemente", aumentando os eventos.

3)A pessoa "possuída pelo demônio" desenvolveu algum tipo de telepatia, percepção extra-sensorial, anomalia cognitiva, o que seria pouco provável, uma vez que embora muitos experimentos científicos sobre a telepatia tenham sido realizados, incluindo aqueles feitos recentemente por universidades respeitáveis nos Estados Unidos(alguns com resultados positivos), a existência da telepatia não é aceita pela maioria dos cientistas e céticos com o eu. Mesmo com todas pesquisas e estudos relativos aos assuntos psiônicos, as evidências existentes ainda não tem o peso suficiente para que seja aceita a existência do fenômeno

Até que seja possível comprovação científica a respeito do mecanismo do fenômeno. Deve-se questionar, neste sentido, quais são os fatores que contribuem para que uma determinada teoria seja aceita enquanto científica e não outras. Em ciência, assim como em toda área do conhecimento, sempre estão em pauta interesses que escapam meramente do campo "científico", tais como interesses financeiros, econômicos, políticos e ideológicos.

Bom, é até onde posso tentar responder as perguntas da Guiomar. Não estou dizendo que estou certo, mas também não estou afirmando que estou errado. O Levi talvez pudesse contribuir um pouco mais com a questão do inconsciente coletivo, o que fiz foi apenas esboçar minha opinião

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Eles, os juízes, vistos por um advogado" (Piero Calamandrei)

 
Breve resumo apurado sobre a obra imortal do célebre advogado italiano que além da prática e além da cátedra, soube melhor que ninguém explorar a alma humana do Judiciário.
O circo do advogado faz parte do rito da audiência. (folhas 33).
O aforismo iura novit curia (o juiz conhece o direito) não é apenas uma regra de direito processual, que significa que o juiz deve encontrar por si a norma que serve ao fato, sem esperar que as partes a sugiram; é também uma regra de bons modos forenses, a qual adverte que, se quiser ganhar a causa, o advogado não deve tomar ares de ensinar ao juiz aquele direito, em que a boa educação impõe considerá-los mestres. (Folhas 35).
O advogado deve saber sugerir de forma muito discreta ao juiz os argumentos que lhe dêem razão, de tal modo que este fique convencido de os ter encontrado por conta própria. (folhas 41).
Do juiz ao advogado: “Cumpra, pois, livremente seu dever, que é o de falar; mas faça-o de maneira a nos ajudar a cumprir o nosso, que é o de compreender”. (folhas 69).
O silêncio é de ouro para a probidade do advogado.
O arrazoado da defesa, para ser verdadeiramente útil, não deveria ser um monólogo contínuo, mas um diálogo vivaz com o juiz, que é o verdadeiro interlocutor – e que deveria responder com os olhos, com os gestos, com as interrupções. Interromper significa reagir, e a reação é o melhor reconhecimento da ação estimuladora. (Folhas 79). A objetividade do discurso do advogado deve orientar-se pela clareza, concisão e harmonia com seus ouvintes.
A sustentação oral, em vez de parte integrante do processo, degenerou assim numa espécie de parênteses de divulgação inserido no meio do processo. A forma de eloqüência em que melhor se fundem as duas qualidades mais apreciadas do orador, a brevidade e a clareza, é o silêncio. (Folhas 81).
“Ele aceita melhor a brevidade, ainda que obscura: quando um advogado fala pouco, o juiz, mesmo que não compreenda o que ele diz, compreende que tem razão”. (folhas 83). A arte é a medida da disciplina.
“O cliente não sabe que, muitas vezes, depois de uma vitória, deveria abraçar comovido não o seu advogado, mas o advogado do adversário” (folhas 90).
Da pré-concepção do Juiz surge o esvaziamento da retórica. (folhas 96).
O virtuoso reconhecimento do advogado está na sua objetividade pela qual expõe o que quer e onde quer chegar. “Defenda as causas com zelo, mas sem exagerar. Se escreve demais, ele não lê; se você fala demais, ele não ouve; se você é obscuro, ele não tem tempo para tentar compreendê-lo. Para ganhar a causa, é necessário empregar argumentos medianos e simples, que oferecem ao juiz o fácil caminho da menor resistência. (folhas 104/105).
“Imparcial deve ser o juiz, que está acima dos contendores; mas os advogados são feitos para serem parciais, não apenas porque a verdade é mais facilmente alcançada se escalada de dois lados, mas porque a parcialidade de um é o impulso que gera o contra-impulso do adversário, o estímulo que suscita a reação do contraditor e que, através de uma série de oscilações quase pendulares de um extremo a outro, permite ao juiz apreender, no ponto de equilíbrio, o justo”. (folhas 126).
“Que quer dizer grande advogado? Quer dizer advogado útil aos juízes para ajudá-los a decidir de acordo com a justiça, útil ao cliente para ajudá-lo a fazer valer suas razões. Útil é aquele advogado que fala o estritamente necessário, que escreve clara e concisamente, que não entulha a audiência com sua personalidade invasiva, não aborrece os juízes com sua prolixidade e não os deixa suspeitosos com sua sutileza – exatamente o contrário, pois, do que certo público entende por grande advogado”. (folhas 132).
“Na advocacia cível, a diferença entre os bons profissionais e os espertalhões é a seguinte: enquanto estes se empenham para encontrar nas leis razões que permitam aos cliente violar legalmente a moral, aqueles buscam na moral as razões para impedir os clientes de fazerem o que as leis permitem”.(folhas 136).
“O mais precioso trabalho do advogado civilista é o que ele realiza antes do processo, matando os litígios logo no início com sábios conselhos de negociação”. (folhas 147).
“Considerar a questão do direito como um teorema a ser demonstrado por meio de fórmulas abstratas, em que os homens são representados por letras e o interesse por cifras, é coisa que o jurista pode fazer num tratado ou numa lição; mas o advogado prático deve ver, por trás das fórmulas, os homens vivos. Deixemos os professores ensinarem na escola que a lei é igual para todos; caberá depois ao advogado explicar aos clientes que o direito civil é feito sobretudo para os bem situados, havendo para os demais o direito penal”. (folhas 149).
Quanto à necessidade de leis obscuras para elevar-se a litigiosidade e, desta forma, fortalecer o Estado e sua autoridade. (folhas 152).
“As taxas judiciárias constituem, assim, um verdadeiro regime de protecionismo, para não prejudicar a florescente produção nacional de injustiça”. (folhas 155).
“A experiência da vida parlamentar demonstrou-me que, quase sempre, especialmente no fim da sessão, a única maneira de pôr de acordo a maioria e oposição é propor a suspensão”. (folhas 157).
Sobre acreditar em demasia na jurisprudência. (folhas 162).
“Mas o advogado deve sempre manter em torno da interpretação a ser dada às leis certa elasticidade de opinião, de modo que, seja como for, possa adotar, quando se trata de defender o interesse do seu cliente, a interpretação que, por ser seguida pelas mais respeitadas autoridades, assegure à sua causa as maiores probabilidades de vitória”. (folhas 167).
Sobre a clareza da sentença judicial: dizer o direito à partir dos fatos. (Folhas 171).
 
“A fundamentação das sentenças é certamente uma grande garantia de justiça, quando consegue reproduzir exatamente, como num esboço topográfico, o itinerário lógico que o juiz percorreu para chegar à sua conclusão. Nesse caso, se a conclusão estiver errada, poder-se-á descobrir facilmente, através da fundamentação, em que etapa do seu caminho o juiz perdeu o rumo”. (folhas 175).
“Sob esse aspecto é bom que também o juiz tenha um pouco de habilidade do advogado, porque, ao redigir a fundamentação, deve ser o defensor da tese já estabelecida por sua consciência”. (folhas 179).
“Os motivos declarados são bem diferentes dos verdadeiros, e que, com muita freqüência, a fundamentação oficial nada mais é que um biombo dialético para ocultar os móbeis verdadeiros, de caráter sentimental ou político, que levaram o juiz a julgar assim”. (folhas 191).
“A melhor homenagem que um aluno pode fazer ao seu mestre é demonstrar-lhe que se tornou melhor do que ele”. (folhas 207).
“Porque o debate oral é a expressão da confiança (‘basta-me a tua palavra”), enquanto a escrita é a expressão da desconfiada cautela (‘ as palavras voam, os escritos ficam’)”. (folhas 211).
As digressões exaradas pelo juiz orbitam entre a justiça e a política, moldando-lhe a postura. (Folhas 221).
“Se, de acordo com a lei corretamente entendida, o pobre for a parte errada, a piedade pela sua miséria não o deve fazer triunfar contra a justiça”. (folhas 242).
A interpretação da lei remonta sempre à origem de sua concepção, ou melhor, substancialmente, à inspiração política que circula nela e a torna socialmente atual. Assim toda a interpretação jurídica permeia certa dose de opção política. (folhas 245).
É sempre mais difícil ao magistrado manter sua independência em tempos de liberdade do que em tempos de tirania. (folhas 248).
“Cada povo têm a magistratura que merece” (folhas 258). “Julgar os outros implica, a cada instante, o dever de ajustar as contas com a sua consciência”. (folhas 259).
“Os juízes são como membros de uma ordem religiosa: é preciso que cada um deles seja um exemplo de virtude, se não quiser que os crentes percam a fé”. (folhas 264).
“A justiça é um fluido vivo, que circula nas fórmulas vazias da lei, como o sangue nas veias”. (folhas 268).
“Lex specialis, sententia generalis – assim o legislador e o juiz remetem um ao outro a responsabilidade: e um e outro podem dormir sonos tranqüilos, enquanto o inocente balança na forca”. (folhas 273).
“O verdadeiro perigo não vem de fora: é um lento esgotamento interno das consciências, que as torna aquiescentes e resignadas; uma crescente preguiça moral, que à solução justa prefere cada vez mais a acomodadora, porque não perturba o sossego e porque a intransigência requer demasiada energia”. (folhas 277).
“Debaixo da ponte da justiça passam todas as dores, todas as misérias, todas as aberrações, todas as opiniões políticas, todos os interesses sociais. E seria bom que o juiz fosse capaz de reviver em si para compreendê-los, cada um desses sentimentos: experimentar a prostração de quem rouba para matar a fome ou o tormento de quem mata por ciúmes; ser sucessivamente (e, algumas vezes, ao mesmo tempo) inquilino e locador, meeiro e proprietário de terras, operário em greve e industrial”. (folhas 280).
“É bom que não se perceba que a função que nossa sociedade atribui à justiça é, com freqüência, a de conservar as injustiças consagradas nos códigos”. (folhas 281).
“Ele acredita que está em jogo a justiça, ao passo que está em jogo apenas seu amor próprio. Sem perceber, obstinando-se em sua tese, de juiz se transforma em parte”. (folhas 290).
“O drama do juiz é a solidão, porque ele, que para julgar deve estar livre de afetos humanos, e situado um degrau acima dos semelhantes, raramente encontra a doce amizade que requer espíritos do mesmo nível. O drama do juiz é a contemplação contínua das tristezas humanas”. (folhas 355).
“Justiça não quer dizer insensibilidade, que o juiz, para ser justo, nem por isso deve ser impiedoso. Justiça quer dizer compreensão, mas o caminho mais direto para compreender os homens é aproximar-se deles com o sentimento”. (folhas 359).
“Acredita-se comumente que a missão específica do advogado seja fazer-se ouvir pelos juízes; na realidade, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes”. (folhas 376).

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sorriso Falso



Sorriso falso

Vá mentindo pra todo mundo
É fácil enganar os que te rodeiam
Abra um sorriso quando a dor massacrá-lo
Ou quando a saudade atormentar tua alma
Naqueles dias de um vazio sem fim


Gargalhe quando tudo findar
Quando do pouco que tinhas, nada mais restar
E Teus sonhos e objetivos evaporarem
Ria quando o teu sol perder a luz
E sentires uma cruz ferir teus ombros cansados

Abrace aquele que carrega um punhal
Beije no rosto dos que te desprezam
Sente-se á mesa do seu inimigo e com ele beba
Mantenha a farsa até que ele se afeiçoe a você
Sorria quando a vontade for de chorar


Sorria, vá mentindo que não sente dor
E ao notarem que você está sorrindo
Todos que não são atentos irão supor
Que você é a pessoa mais feliz do mundo
E você sorrirá, e o sorriso, este talvez, seja verdadeiro.

Edson Moura

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Negro Drama (Sociologia das Ruas)


Negro drama, entre o sucesso e a lama, dinheiro, problemas, inveja, luxo, fama. Negro drama, cabelo crespo e a pele escura, a ferida, a chaga, a procura da cura. Negro drama, tenta ver e não vê nada, a não ser uma estrela, longe meio ofuscada. Sente o drama, o preço, a cobrança, no amor, no ódio, a insana vingança. Negro drama, eu sei quem trama e quem tá comigo, o trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fodido. O drama da cadeia e favela, túmulo, sangue, sirene, choros e velas.

Passageiro do Brasil, São Paulo agonias, que sobrevive em meio às zorras e covardias, periferias, vielas e cortiços, você deve tá pensando o que você tem a ver com isso. Desde o início, por ouro e prata, olha quem morre, então veja você quem mata. Recebe o mérito, a farda, quem pratica o mal, me ver, pobre, preso ou morto, já é cultural.

Histórias, registros, escritos, não é conto nem fábula, lenda ou mito. Não foi sempre dito que preto não tem vez, então olha o castelo e não, foi você quem fez cuzão, eu sou irmão dos meus trutas de batalha, eu era a carne agora sou a própria navalha. Tim..tim, um brinde pra mim, sou exemplo, de vitórias, trajetos e glórias. O dinheiro tira um homem da miséria, Mas não pode arrancar de dentro dele a favela.

São poucos que entram em campo pra vencer, a alma guarda o que a mente tenta esquecer, olho pra trás e vejo a estrada que eu trilhei, “mó cota” , quem esteve lado a lado e quem só fico na bota, entre as frases, fases e várias etapas, do quem é quem, dos mano e das minas fracas. Um Negro drama de estilo, pra ser e se for tem que ser, se temer é milho. Entre o gatilho e a tempestade, sempre a provar que sou homem e não covarde.

Que Deus me guarde, pois eu sei que ele não é neutro, vigia os ricos , mas ama os que vem do gueto, eu visto preto, por dentro e por fora, guerreiro, poeta entre o tempo e a memória. Ora, nessa história vejo o dólar, e vários quilates, falo pro mano que não morra e também não mate, o tic tac não espera veja o ponteiro, essa estrada é venenosa e cheia de morteiro, pesadelo é um elogio, pra quem vive na guerra a paz nunca existiu, num clima quente a minha gente sua frio, vi um pretinho e seu caderno era um fuzil.

Daria um filme! Uma negra e uma criança nos braços, solitária na floresta de concreto e aço, veja, Olhe outra vez o rosto na multidão, a multidão é um monstro sem rosto e coração. Em São Paulo, terra de arranha-céu a garoa rasga a carne é a “torre de babel”, família brasileira, dois contra o mundo, mãe solteira de um promissor vagabundo. Luz, câmera e ação, gravando a cena vai, um bastardo, mais um filho pardo e sem pai. Ei, Senhor de engenho eu sei, bem quem você é, sozinho, “cê” num “guenta”,sozinho, “cê” num entra a pé.

Você disse que era bom e a favela ouviu, lá também tem Whiski e Red Bull, Tênis Nike e Fuzil, admito, seu carro é bonito, é, eu não sei fazer, Internet, videocassete, os “carro loco”, atrasado eu tô um pouco sim tô, eu acho, só que, seu jogo é sujo e eu não me encaixo, eu sou problema de montão, de carnaval a carnaval, eu vim da selva, sou leão, sou demais pro seu quintal. Problema com escola eu tenho mil, “Mil fita”, inacreditável, mas seu filho me imita, no meio de vocês ele é o mais esperto, ginga e fala gíria, gíria não, dialeto. Esse não é mais seu, Hó, subiu, entrei pelo seu rádio, tomei, “cê” nem viu, “nóis é isso ou aquilo”, O quê? “Cê” não dizia, seu filho quer ser preto, há, que ironia.

Cola o pôster do 2Pac ai, que tal, que “cê” diz, sente o Negro drama vai, tenta ser feliz, ei bacana quem te fez tão bom assim, o que “cê” deu, O que “cê”faz, o que “cê” fez por mim? Eu recebi seu ticket, quer dizer kit de esgoto a céu aberto e parede Madeirit, de vergonha eu não morri, tô firmão, eis-me aqui, você não, você não passa quando o mar vermelho abrir, eu sou o mano homem duro do gueto, o Brow, obá, aquele louco que não pode errar, aquele que você odeia amar nesse instante, pele parda e ouço funk, e de onde vem os diamantes?... Da lama, valeu mãe... Negro drama... Drama... drama.
Autor: Mano Brow do grupo Racionais Mc's

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Raiva, domine-a ou seja dominado




Resolvi postar este artigo depois de experimentar um momento de extrema irritação no trabalho. foi um dia daqueles onde o desejo de estrangular uma pessoa é o único sentimento que nos faz sentir humanos. Mas, depois de controlar a pulsão de violência, percebi que era possível re-significar o momento, canalizando para aquilo que mais gosto de fazer, a saber, escrever. Talvez a pessoa mais apta a discutir o assunto seja o mestre Levi, mas também sei que cada um aqui já passou por situações semelhantes, e fico curioso para saber como cada um conseguiu lidar com o sentimento de raiva. Nessas horas a Fé (notem de qual fé estou falando) pode ajudar muito, mas, e para aqueles que não a possuem? Pode um ateu ter mais controle emocional de que um Cristão, ou um Budista, ou um Muçulmano? esta é a pergunta. Só posso falar por mim mesmo, que sou ateu, mas ainda assim, não sei se os dez anos que experimentei o Cristianismo moldaram um caráter menos belicoso. Talvez sim.

Muito já foi dito sobre as emoções ao longo das eras e, com certeza, algumas definições têm sido nominadas como melhores e outras como piores. A palavra emoção deriva do latim movere (pôr em movimento). Isso nos fala da sua natureza de colocar em movimento, de dentro para fora, comunicando ao mundo nossos estados de necessidades internas. Todas, então, seriam úteis e por isso foram mantidas no processo evolucionário humano. Lógico que algumas perderam sua função original e se adaptaram, como puderam, à nova realidade da civilização moderna. Afinal, não precisamos mais correr de leões ou matar animais para nossa alimentação. Mas o sistema de luta e fuga continua ativo.
O homem modernizou a sua estrutura social. No entanto, internamente, em seus processos somáticos, ainda é praticamente o mesmo do tempo das cavernas. Basicamente, estamos preparados para caçar e reproduzir; o resto foi se acumulando ao longo de milhares de anos e reflete-se no que somos hoje: criaturas com respostas emocionais às diversas situações nas quais, às vezes, certas manifestações não seriam necessárias, ou que surgem em dimensões desproporcionais à situação vivida. Caso duvide disso, pergunte a quem tem síndrome do pânico ou algum tipo de fobia. Um exemplo é a pessoa que pode ser considerada corajosa, mas, diante de uma minúscula aranha ou uma inofensiva lagartixa ou barata, literalmente “perde a linha” e surta.

Sempre buscamos diferenciar as emoções umas das outras e tentamos associá-las, relacionando as sensações orgânicas com a situação em que estamos envolvidos, fazendo uma ligação direta entre o fato, nossa interpretação dele e o que sentimos. Além das diversas interpretações diferentes que cada um de nós pode dar às situações semelhantes, ainda existe a intensidade da emoção, às vezes forte demais e, outras vezes, não percebidas adequadamente.

Nos animais, a manifestação de raiva foi observada em dois tipos de comportamentos: o ataque a outros animais, para obtenção de alimento, e a agressão afetiva, que serve para corte às fêmeas ou para demarcação de território. É fato que não sabemos nominar nossas emoções: estamos sempre confundindo o que sentimos. As emoções, na visão dos poetas, fazem de nós humanos, mas a realidade é que elas podem atrapalhar, e muito, aqueles que não conseguem detectar seus próprios estados emocionais.

No ano de 1924, Maranon, neurocientista francês (citado por Richard Restak em O Cérebro Humano, p.141), injetou adrenalina em 210 indivíduos, o que fez surgir sensações fisiológicas em todos eles. Quando o experimentador, de maneira indutiva, contava uma história qualquer com fundo emocional, fazia brotar no sujeito a emoção sugerida no texto. Graças ao efeito da adrenalina, a emoção surgia forte. Dessa maneira ele fez "aparecer" todas as nuances das emoções humanas apenas contando diferentes histórias. Essa experiência foi repetida na década de 1960, com algumas alterações de modelo operacional, mas com resultado similar, por Stanley Scharter e Jerome Singer.

Com a mesma base química, mas com interpretações pessoais diferentes das histórias contadas, o significado individual fez surgir emoções que mais se alinhavam com a perspectiva do indivíduo. Podemos inferir, então, que tecnicamente seriam as mesmas reações somáticas que originam as emoções; apenas os nomes dados pelos sujeitos que as vivenciavam eram diferentes, por conta de suas expectativas ou interpretações do contexto.

Nos dias atuais, a complexidade da origem das emoções é debatida ao extremo e nada está totalmente descartado. Alguns defendem a ideia de quatro emoções básicas, outros de seis estados emocionais naturais. Esse exemplo é puramente ilustrativo para que não percamos de vista a possibilidade de estar dando nomes diversos aos mesmos bois.

Podemos então acreditar que muitas das emoções que sentimos, ou nominamos, têm sua origem na mesma fórmula química endócrina? Seremos então escravos de hormônios e neurotransmissores? Isso nos dá bons argumentos para pensar com cuidado sobre como devemos reagir da próxima fez que estivermos sob forte emoção. Afinal, se a emoção tem a sua forma dada pela interpretação da história contada, se re-significarmos o conteúdo, mesmo sem alterar a base química, podemos alcançar um novo estado emocional.

Isso pode soar apenas como teoria para alguns, pois a prática não deve ser tão fácil. A maioria das pessoas não consegue perceber quando está entrando em um estado emocional alterado. "Sob forte emoção estamos sempre certos!" Todos pensam assim?

Dessa pequena abertura podemos passar a qualificar as emoções básicas, que segundo os estudos do psicólogo estadunidense Paul Ekman, são seis. Tratamos de emoções naturais, aquelas percebidas em todos os humanos com o mesmo código facial de expressão muscular, porém guardando diferenças quanto aos motivos culturais para suas manifestações: o que faz rir um oriental pode fazer chorar um ocidental, por assim dizer.

Personalidades que souberam usar sua raiva...para o bem ou para o mal:

ADOLFO HITLER. O que pode tê-lo tornado uma pessoa destruidora? Talvez a morte do pai em 1903, quando ele tinha apenas 14 anos, ou ainda o falecimento da mãe, em 1908, de câncer, quando o então jovem Adolf não tinha completado 20 anos de vida. Sabemos que ele foi péssimo aluno, rejeitado pela escola de belas-artes de Viena e pela escola de arquitetura. Não foi correspondido no amor declarado em centenas de poemas a Stefanie - isso pode ter sido consequência da enorme diferença de classe social. Em Viena aos 20 anos, Hitler fazia molduras para se sustentar, lavava pratos, limpava carruagens, estava sempre malvestido, vivia em albergues e remexia latas de lixo com seus amigos Neumann e Hanisch em busca de qualquer coisa de valor. Foi expulso de um albergue por não pagar uma prostituta chamada Hannah, que era judia, da qual contraiu sífilis. Em 1913 o exército o recusou, por causa de seu estado de saúde, mas o aceitou como voluntário em 1914, durante a Primeira Guerra. Foi condecorado por um ataque que o deixou cego por três dias, mas sua cegueira era de fundo psicológico, pois o gás era inofensivo.


WALT DISNEY. Maus tratos na infância podem ter despertado um gênio criativo? Disney viveu em uma fazenda no interior do Missouri, com um pai extremamente severo, que lhe impunha castigos terríveis quase todos os dias. Foi uma infância de sofrimento contínuo e de muito trabalho pesado. Um dia Walt descobriu que não possuía certidão de nascimento e isso fez com que alimentasse a ideia de que era filho adotivo. Podemos perceber a provável influência desses fatos na estrutura familiar de seus personagens. Aos 16 anos, dirigiu ambulâncias para a Cruz Vermelha na Europa, durante a Primeira Guerra Mundial, e viu de perto os horrores do conflito. Anos depois teve seus primeiros personagens, Alice e Oswald, roubados pelo ex-patrão. O interessante foi a resposta que deu quando soube que, por não ter documentado direito sua criação, não havia como reclamar: escreveu um telegrama a seu sócio e irmão dizendo que tudo estava certo, que ele não se preocupasse, pois já havia em sua mente um personagem espetacular: Mickey Mouse.
 

CHARLIE CHAPLIN. Tragédia familiar pode transformar uma pessoa positivamente? Os pais, ambos artistas famosos na época, separaram-se quando Chaplin nem tinha completado três anos de idade. O pai, alcoólatra, não queria contato com o filho, pois já tinha uma amante. Charlie ficou sob os cuidados da mãe, emocionalmente instável. Um dia, quando ele tinha apenas cinco anos, viu a mãe sofrer um problema na laringe enquanto se apresentava em um teatro lotado de soldados; foi vaiada e a plateia atirou coisas sobre ela. Machucada gravemente, ela foi para os bastidores. O pequeno Charlie subiu, sozinho, ao palco e cantou uma música, controlando a massa enfurecida. O pai morreu de cirrose quando ele tinha 12 anos, a mãe foi internada em um asilo, mentalmente perturbada, pois não tinha como cuidar dos filhos. Foi necessário muito esforço durante a infância e a adolescência para que Charlie e seu irmão conseguissem terminar os estudos em uma escola para pobres no sul de Londres. Sofrimento foi sua marca registrada.
 

THOMAS ALVA EDISON. Frequentou a escola, ensino formal, por menos de seis meses. Aprendeu sozinho, e com a ajuda da mãe, lendo apenas o que lhe interessava. Começou a vida vendendo jornais, sanduíches, doces e frutas dentro dos trens. Ficou surdo e sobre isso, quando questionado sobre se a deficiência auditiva o prejudicava, disse uma vez: "Ao contrário, a surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inúteis e me ensinou a ouvir a voz interior. Além do mais, um homem que precisa gritar quando fala nunca diz mentiras".
Uma situação que pode provocar a raiva em bebês nos diz muito da natureza dessa emoção. Uma interferência física: segurar os membros da criança, impedindo seus movimentos, não permitindo que ela se liberte, irá disparar uma rápida reação. Isso demonstra que essa emoção nasce quando algo interfere na nossa intenção de fazer algo. Ela pode ser ampliada se percebermos ser a ação bloqueadora intencional, ou seja, a pessoa que nos impede os movimentos decidiu fazer isso conscientemente.

O aproveitamento de energia provocado pela raiva pode ocorrer naturalmente em algumas pessoas que foram humilhadas, perseguidas ou que tiveram uma interpretação da realidade que ressaltou tal emoção. Poderia ter sido diferente se, em vez de a raiva ser controlada e direcionada para a ação, ela tivesse sido transformada em rancor e ódio. Esses sentimentos poderiam destruir a possibilidade de um pensamento estratégico que oferecesse um rumo ao sujeito que os vivencia.
Raiva que alimenta:
Muitos líderes, gerentes, homens ou mulheres de sucesso tentam provar algo para alguém que no passado os humilhou ou impediu seu desenvolvimento. Desse modo, seu êxito é uma resposta à provação que podem ter passado em outra época. Sua alta autoestima resulta de uma retroalimentação da emoção.

Algumas pessoas relatam que seus sonhos trazem a memória de tempos difíceis e isso proporciona uma energia incrível para levantar pela manhã e lutar no mundo, para nunca mais ter de passar por aqueles momentos terríveis.

A emoção, em si, e o sentimento que ela desperta não é determinante para o comportamento. Como interpretamos as situações e direcionamos nossos recursos é o que determina sucesso, vitória ou doença e morte. Ouvimos sempre dizer que outros fatores, como sorte ou azar, devem ter peso de influência no resultado final. Isso pode ser até possível, mas a decisão de buscar uma situação ou outra nasce no livre arbítrio e esse surge da capacidade de percepção de nossas próprias emoções.

Não se pode tomar uma decisão sem ao menos saber que tipo de emoção esta manifesta em nosso organismo. A pura sensação fisiológica pode não ser suficiente e clara a ponto de permitir uma avaliação definitiva do progresso comportamental.

Não existe emoção ruim. Todas foram mantidas durante a evolução por um bom motivo: são úteis para a manutenção da espécie, ajudam-nos a permanecer vivos. Sem elas poderíamos cometer erros de avaliação e nos colocar em risco de morte, por exemplo. Uma pena que, com a evolução social e cultural, o homem tenha deixado de prestar atenção à linguagem interna, às matrizes biológicas, acabando, muitas vezes, por precipitar ações que podem causar enorme prejuízo a si mesmo.

"Não é a intensidade dos sentimentos elevados que faz os homens superiores, mas a sua duração." (Friedrich Nietzsche).

O Provocador