quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Provocador 0072

Comentário feito em Logos e Mithos

Já que todo muno falou (e muito bem) sobre o texto em si, e sobre a questão da unção e bla...bla...bla, quero falar um pouco deste trecho que (como diria o Levi:) pincei do texto:

"...O estranho é que Cristo (o Ungido), veio nos ensinar a ser humildes, servos uns dos outros e não o que temos visto hoje..."

Será que foi isso mesmo que ele veio ensinar?

Talvez até quisesse fazer isso, mas fez de forma errada, creio eu.

O Que mais vemos hoje em dia (e neste ponto o texto está perfeito) é crente achando que é melhor que ateu, que é melhor do que os que não creem, achando que é melhor que católico, achando que é melhor do que crentes de outra denominação, e crente achando que é melhor do que membros de sua própria igreja. Mas também , havia de ser assim. Olhem estas falas:

"Aquele que crê em mim nunca estará sozinho."

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai se não por mim."

"Das ovelhas que meu Pai me confiou,
nenhuma se perderá"

"Todos devem honrar o Filho, como honram o Pai: quem não honra o Filho, também não honra o Pai, que O enviou"

"Se vós Me conhecêsseis a Mim, também conheceríeis a meu Pai"

"Acredites, pois aqueles que não o fizerdes, eu vos desacreditarei perante meu Pai. Não me negareis, pois aqueles que o fizerdes, eu vos negarei perante meu Pai. Por fim, não vos julgueis, pois aqueles que assim o fizerdes, eu vos julgarei perante meu Pai"

"Eu e o Pai somos Um só; aquele que Me viu, viu ao Pai... o Pai está em Mim e Eu estou no Pai... tudo que é Meu é Teu (do Pai) e o que é Teu é Meu... Nós (Pai e Filho) viremos e faremos nossa morada nele..."

"Para isto eu nasci e vim ao mundo, para dar testemunho da verdade; todo o que está pela verdade, ouve a minha voz"

"Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá"

Jesus queria apenas espiritualizar as pessoas, queria que elas fossem boas. sem querer fazer piadas, jesus "criou" o "Imperativo categórico" kantiano, milênios antes de Kant nascer, ou não se lembram da frase: "Fazei aos outros tudo aquilo que quer que lhe façam, ou o contrário disto. Kant disse; Façamos as coisas de maneira que desejemos que todos façam a mesma coisa em nossa situação. na minha opinião é plágio de Kant.rss

São os cristãos que orgulhosamente apontam Jesus Cristo como alguém de extrema pobreza,e deveras humilde. Devemos levar em conta um quesito fundamental para se pensar o quanto isso é julgado em nome de um valor muito cultuado no cristianismo que é a humildade. A humildade, lamentavelmente, é considerada um valor nobre não só para os religiosos, mas para as pessoas em geral. O humilde é um orgulhoso que se orgulha da negação da vida enquanto condição para sua dignificação.

Parece-me que se tirar a humildade enquanto valor cristão não resta pobreza a Jesus Cristo, pelo contrário, Jesus pertencia à elite, assim como os cristãos de hoje pertencem a uma elite de seres humanos. Melhores que todos, escolhidos, menina dos olhos de Deus, povo eleito, futuros moradores do céu, herdeiros do reino, consequentemente...POVO UNGIDO.

E só são assim, creio eu, porque deram ouvidos a um homem (muito letrado) que se dizia o próprio Deus. Onde está a humildade em se afirmar que é o Criador do mundo?

O Provocador

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Provocador 0071

Comentário em: Logos e Mithos

E então gente?! Quem é que posta agora? Anderson, Anja ou Eu? Vamos lá, quero aplicar todo o metodismo que prometi a Anja. Estive ausente por algum tempo, mas estou de volta. Totalmente "reconfigurado", mas sempre com acidez na ponta da língua. Não é possível que nós não possamos chegar num nível mais alto de conhecimento, com tantas feras que temos aqui. Este espaço é para mais perguntas que respostas, e acredito que ninguém aqui está muito interessado em respostas fechadas sobre nossa existência, porque se tiver...tá por fora.

O interesse em saber por que existimos, não é um interesse "casual", como colecionar figurinhas da copa do mundo, ou moedas, ou selos por exemplo. Quem se interessa pelos assuntos que discutimos aqui, toca num assunto que vem sendo discutido pelo homem praticamente desde quando passamos a 'habitar este planetinha"

Os assuntos tratados aqui (e o Edu vai concordar comigo) tem como intuito, quebrar muitas superstições que rodeiam nossas vidas, mostrando com muitas situações não tem uma relação de causa e efeito entre elas, como alguns imaginam. A Teologia e a Filosofia aqui aplicadas, acredito, tem como fundamento advertir os leitores e debatedores quantos aos perigos das conclusões precipitadas, porque sabemos que as conclusões precipitadas podem levar a muitas formas de superstição.

O Provocador

O Provocador 0070

A mente humana sofre mudanças dependendo do estado em que se encontre o possuidor dela. Quando o humano está bem consigo mesmo, dificilmente ele procurará uma religião onde possa encontrar a Deus. Ele dança, ele trabalha , lê um livro, se diverte com bobagens do cotidiano, assiste filmes, pratica esportes, enfim, uma infinidade de ocupações ele encontra, menos a religião .

Quando está melancólico e abatido (e não for um existencialista), tudo o que para fazer é meditar sobre os terrores do mundo sobrenatural, e mergulhar mais fundo ainda no sofrimento. Pode realmente acontecer que, após ter se entregue profundamente as opiniões religiosas no seu pensamento e imaginação, ocorra uma melhora da saúde ou das circunstâncias, que restaure o seu bom humor, deixando-o animado para o futuro, antes incerto, agora, com a religião, certo.

Ele deverá então, se for honesto, admitir que se a religião tem uma base de construção, esta é o terror que aflige o homem, e ele tem apenas pequenos intervalos de tranquilidade, pois a religião necessita da dor para que mais e mais adeptos a recebam.

Este é um pensamento moderno, arrojado, existencial, o que difere de muitos pensamentos nesta confraria. É muito legal estudarmos a passado da religião, mas e quanto ao presente? O que dizer do agora? Foi tudo muito bonito o que Jesus fez, mas também Sócrates o fez, e nem por isso consideramos hoje todos os seus pensamentos certos, pelo contrário, podemos até encontrar afirmações que o deixaria envergonhado hoje. Ora, ele também dizia que ouvia uma voz que era maior que ele. Também incomodava os cidadãos de sua cidade, assim como Jesus. Também teve um julgamento injusto, e assim como Jesus, também preferiu a morte a negar seus ideais.

Jesus é um mito, Sócrates é um mito menor, o como todo mito, cada vez que se fala dele, mais glamour colocamos em sua história. Mas estão no passado, e quando o presente lhes afronta, ficam deslocados. A ética que não conseguimos praticar não é divina, pelo contrário, é bem humana, assim como totalmente humano foi Jesus.
 
O Provocador

domingo, 7 de outubro de 2012

O Provocador 0069

Comentário em: Logos e Mithos

É Eduardo Medeiros meu caro amigo, foi isso que eu quis dizer quando disse que disse a minha mãe (madonna, esta fala ficou horrível, mas prossigamos) que era tudo auto-sugestão. Só não quis usar a palavra crença.

O Cérebro humano é um mistério tão grande quanto o universo, aliás, já disseram que nosso cérebro é um universo de apenas um quilo. Sendo assim Edu, se nosso cérebro fosse tão simples ao ponto de conseguirmos entender essas coisa inexplicáveis de agora, seríamos certamente, tão idiotas que não conseguiríamos entendê-lo. Talvez as coisas tenham que ser asssim.

O homem é diferente de um cão, que,   ao lançarmos um galho de árvore, corre para buscar. Nós homens antes de corrermos para pegar, intuitivamente queremos saber de onde o galho veio, quem o jogou, e se possível por que o jogou, e o que ganho se for buscá-lo. O que não percebemos é que não podemos nos comparar ao cão, mas sim, ao galho. Nós somos um pedaço do universo infinito, possivelmente nunca o compreenderemos. Nem o Universo literal, nem o universo que é nossos cérebros.

Que bosta não!?

O Provocador

sábado, 6 de outubro de 2012

O Provocador 0068

Comentário em:

Algo que gostaria que nosso teólogo Eduardo explicasse, é por quê os demônios não entram num ateu? Não vale dizer que o fato de ser ateu já um sinal de possessão, pois não vou aceitar hein?!

Não é uma coisa estranha gente? Deus permitir que primeiro a pessoa seja possuída pelo demônio para só então entrar com providência. Fazendo uma analogia rápida, seria o mesmo que dizer que primeiro um laboratório tem que criar a doença para depois inventar a cura. (o que não duvido que aconteça)

Será que para os que acreditam nesses eventos, não pensam que pode haver um desejo um tanto obscuro de Deus? O que dizer então dos crentes (crentes mesmo) que são supostamente possuídos?

Creio que essas perguntas devam ser respondidas, antes mesmo de tentarmos responder às perguntas da GUI. Passo a batata quente então para nossa queridíssima Guiomar Barba.

 Das duas uma: Ou tudo isso não passa de loucura ou auto-sugestão, ou um ateu é totalmente imune às investidas dos demônios, uma vez que um ateu sério não dá créditos ao Diabo.

Sendo assim, creio que ser crente é perigoso demais.

Ah! Já sei: Os demônios querem na verdade apenas afrontar a Deus, roubando uma ovelha de seu aprisco. Mas meu cérebro não para de formular hipóteses e mesmo antes de escrever estas linhas, outras perguntas já são concebidas:

Não teria o sangue do cordeiro mais poder que a astúcia do Diabo? Deveríamos duvidar das narrativas Bíblicas quanto a essas questões? Assim como João Batista, que depois de um tempo preso, pediu a um dos discípulos que perguntassem a Jesus se ele era mesmo o Messias que há pouco o próprio João havia anunciado, e dito que não era digno de desatar, carregar ou costurar suas alparcas?

Enfim...tudo leva a crer que algo está errado:

Ou a narrativa da menina possessa

Ou a narrativa Bíblica que nos garante proteção mediante redenção divina.

Ou eu, que não acredito em nada disso.

O Provocador

O Provocador 0067

Comentário feito em:


Grosso modo, posso afirmar que o culto religioso funciona como uma hipinose coletiva, e de fato há benefícios para pessoas que apresentam um quadro leve de distúrbio psíquico. Note que estou pontuando positivamente o ritual religioso como um todo. Infelizmente, e eu posso dizer com propriedade, pois já presenciei situações extremas, que há casos também em que o contrário acontece, ou seja: A pessoa possuía uma propensão para determinado transtorno, e procurou a igreja para que as inquietações possem sanadas, mas o que aconteceu foi que um gatilho foi disparado, e o quadro da pessoa passou a piorar gradativamente, até que o pastor solicitou que a família a encaminhasse a um psiquiatra. A pessoa hoje está bem, desde que psicotrópicos foram receitados.

O que aprendi com isso?

Aprendi que o culto religioso bem dirigido e por profissionais competentes, com um mínimo de formação em Psicologia Cognitiva, pode ajudar e muito uma pessoa que se sente possuída por demônios, mas assim como um bom Psicólogo, é preciso saber quando devemos pedir ajuda Psiquiátrica.

Gente! Minha opinião particular. Sem fundamento Cientifico ou Acadêmico. Sem preconceito também. 

O Provocador

O Provocador 0066

A sobrevivência até nossos dias do misticismo dos tempos de Noé e a superstição não me irritam tanto quanto a aceitação acrítica das obras de misticismo e superstição, religiosas ou não, que podem defraudar, humilhar e às vezes inclusive matar. Como todos os seres humanos, também sou imperfeito. Às vezes sou intolerante e condescendente e não sinto nenhuma simpatia pelas fragilidades humanas que fundamentam a credulidade. Depoimentos como este narrado no texto, podem ser tanto nocivos quanto benéficos, dependendo da receptividade, e da fragilidade psíquica do "paciente-fiel".

O Provocador

O Provocador 0065

Monumental Levi meu mestre Bronzeado!!! Parafraseando o bigodudo: Não afugente de si o "demônio", pois ele pode ser a melhor coisa que você possui". Às vezes Sartre também ajuda: "O inferno são os outros". Entendo (corrija-me se estiver errado) Guiomar, e como já disse em comentários anteriores, que o medo é o combustível da superstição, do misticismo, e por conseguinte da religião. Não é tão mal assim sentir medo. O Medo nos mantêm afastados dos perigosos. O medo aciona o gatilho do "lute" ou "corra". O medo nos impede de cometer o mesmo erro. O medo da punição nos impede de matar, de roubar, de ferir. O medo nos impede de trair. O medo do pecado nos impede de ferir a nosso Deus. O medo de nosso Deus nos impede de cometer os "pecados". E o medo do diabo, consequentemente nos aproxima de Deus. Por mais que eu não acredite, tenho que respeitar o medo, ou a crença (que pode até ser sinônimo)da possessão demoníaca. como já disseram, não sei quem: De todos os medos que temos, o medo que mais devemos temer é justamente o medo de não ter mais medo de nada".

Se ninguém assumir a autoria da frase, por favor, digam que é minha! Rsss

O Provocador

O Provocador 0064

Comentário feito em:
http://logosemithos.blogspot.com.br/2012/10/vivendocom-propositos-lucas-13.html#comment-form

Quanto às indagações da Guiomar acerca dos eventos ocorridos com uma menina que alega ter uma irmã possuída por demônios. Acho que ela ainda não entendeu que todos aqui estão tentando dizer de forma delicada que tudo não passou de:

1) Uma mentira inocente contada pela pessoa que narra a cartinha

2) Uma meia-mentira, pois na verdade talvez a pessoa apenas tenha dito o óbvio tipo: Você está em casa! (é lógico, se ela atendeu ao telefone). Você está com aquela sua camisa branca! (partindo do principio lógico de que a pessoa ao telefone sempre usa, ou, usa costumeiramente camisas brancas não seria nenhum absurdo a dedução). Você está sentada naquela poltrona de respaldar (Novamente, o raciocínio lógico deduz que a pessoa estivesse sentada no mesmo lugar que costuma sentar quando atende ao telefone, que por sua vez não é sem fio, o que impediria a pessoa de ficar caminhando pela casa). E por que eu disse "meia-verdade"? Porque a pessoa que ouviu as "adivinhações" acabou, "inconscientemente", aumentando os eventos.

3)A pessoa "possuída pelo demônio" desenvolveu algum tipo de telepatia, percepção extra-sensorial, anomalia cognitiva, o que seria pouco provável, uma vez que embora muitos experimentos científicos sobre a telepatia tenham sido realizados, incluindo aqueles feitos recentemente por universidades respeitáveis nos Estados Unidos(alguns com resultados positivos), a existência da telepatia não é aceita pela maioria dos cientistas e céticos com o eu. Mesmo com todas pesquisas e estudos relativos aos assuntos psiônicos, as evidências existentes ainda não tem o peso suficiente para que seja aceita a existência do fenômeno

Até que seja possível comprovação científica a respeito do mecanismo do fenômeno. Deve-se questionar, neste sentido, quais são os fatores que contribuem para que uma determinada teoria seja aceita enquanto científica e não outras. Em ciência, assim como em toda área do conhecimento, sempre estão em pauta interesses que escapam meramente do campo "científico", tais como interesses financeiros, econômicos, políticos e ideológicos.

Bom, é até onde posso tentar responder as perguntas da Guiomar. Não estou dizendo que estou certo, mas também não estou afirmando que estou errado. O Levi talvez pudesse contribuir um pouco mais com a questão do inconsciente coletivo, o que fiz foi apenas esboçar minha opinião

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Eles, os juízes, vistos por um advogado" (Piero Calamandrei)

 
Breve resumo apurado sobre a obra imortal do célebre advogado italiano que além da prática e além da cátedra, soube melhor que ninguém explorar a alma humana do Judiciário.
O circo do advogado faz parte do rito da audiência. (folhas 33).
O aforismo iura novit curia (o juiz conhece o direito) não é apenas uma regra de direito processual, que significa que o juiz deve encontrar por si a norma que serve ao fato, sem esperar que as partes a sugiram; é também uma regra de bons modos forenses, a qual adverte que, se quiser ganhar a causa, o advogado não deve tomar ares de ensinar ao juiz aquele direito, em que a boa educação impõe considerá-los mestres. (Folhas 35).
O advogado deve saber sugerir de forma muito discreta ao juiz os argumentos que lhe dêem razão, de tal modo que este fique convencido de os ter encontrado por conta própria. (folhas 41).
Do juiz ao advogado: “Cumpra, pois, livremente seu dever, que é o de falar; mas faça-o de maneira a nos ajudar a cumprir o nosso, que é o de compreender”. (folhas 69).
O silêncio é de ouro para a probidade do advogado.
O arrazoado da defesa, para ser verdadeiramente útil, não deveria ser um monólogo contínuo, mas um diálogo vivaz com o juiz, que é o verdadeiro interlocutor – e que deveria responder com os olhos, com os gestos, com as interrupções. Interromper significa reagir, e a reação é o melhor reconhecimento da ação estimuladora. (Folhas 79). A objetividade do discurso do advogado deve orientar-se pela clareza, concisão e harmonia com seus ouvintes.
A sustentação oral, em vez de parte integrante do processo, degenerou assim numa espécie de parênteses de divulgação inserido no meio do processo. A forma de eloqüência em que melhor se fundem as duas qualidades mais apreciadas do orador, a brevidade e a clareza, é o silêncio. (Folhas 81).
“Ele aceita melhor a brevidade, ainda que obscura: quando um advogado fala pouco, o juiz, mesmo que não compreenda o que ele diz, compreende que tem razão”. (folhas 83). A arte é a medida da disciplina.
“O cliente não sabe que, muitas vezes, depois de uma vitória, deveria abraçar comovido não o seu advogado, mas o advogado do adversário” (folhas 90).
Da pré-concepção do Juiz surge o esvaziamento da retórica. (folhas 96).
O virtuoso reconhecimento do advogado está na sua objetividade pela qual expõe o que quer e onde quer chegar. “Defenda as causas com zelo, mas sem exagerar. Se escreve demais, ele não lê; se você fala demais, ele não ouve; se você é obscuro, ele não tem tempo para tentar compreendê-lo. Para ganhar a causa, é necessário empregar argumentos medianos e simples, que oferecem ao juiz o fácil caminho da menor resistência. (folhas 104/105).
“Imparcial deve ser o juiz, que está acima dos contendores; mas os advogados são feitos para serem parciais, não apenas porque a verdade é mais facilmente alcançada se escalada de dois lados, mas porque a parcialidade de um é o impulso que gera o contra-impulso do adversário, o estímulo que suscita a reação do contraditor e que, através de uma série de oscilações quase pendulares de um extremo a outro, permite ao juiz apreender, no ponto de equilíbrio, o justo”. (folhas 126).
“Que quer dizer grande advogado? Quer dizer advogado útil aos juízes para ajudá-los a decidir de acordo com a justiça, útil ao cliente para ajudá-lo a fazer valer suas razões. Útil é aquele advogado que fala o estritamente necessário, que escreve clara e concisamente, que não entulha a audiência com sua personalidade invasiva, não aborrece os juízes com sua prolixidade e não os deixa suspeitosos com sua sutileza – exatamente o contrário, pois, do que certo público entende por grande advogado”. (folhas 132).
“Na advocacia cível, a diferença entre os bons profissionais e os espertalhões é a seguinte: enquanto estes se empenham para encontrar nas leis razões que permitam aos cliente violar legalmente a moral, aqueles buscam na moral as razões para impedir os clientes de fazerem o que as leis permitem”.(folhas 136).
“O mais precioso trabalho do advogado civilista é o que ele realiza antes do processo, matando os litígios logo no início com sábios conselhos de negociação”. (folhas 147).
“Considerar a questão do direito como um teorema a ser demonstrado por meio de fórmulas abstratas, em que os homens são representados por letras e o interesse por cifras, é coisa que o jurista pode fazer num tratado ou numa lição; mas o advogado prático deve ver, por trás das fórmulas, os homens vivos. Deixemos os professores ensinarem na escola que a lei é igual para todos; caberá depois ao advogado explicar aos clientes que o direito civil é feito sobretudo para os bem situados, havendo para os demais o direito penal”. (folhas 149).
Quanto à necessidade de leis obscuras para elevar-se a litigiosidade e, desta forma, fortalecer o Estado e sua autoridade. (folhas 152).
“As taxas judiciárias constituem, assim, um verdadeiro regime de protecionismo, para não prejudicar a florescente produção nacional de injustiça”. (folhas 155).
“A experiência da vida parlamentar demonstrou-me que, quase sempre, especialmente no fim da sessão, a única maneira de pôr de acordo a maioria e oposição é propor a suspensão”. (folhas 157).
Sobre acreditar em demasia na jurisprudência. (folhas 162).
“Mas o advogado deve sempre manter em torno da interpretação a ser dada às leis certa elasticidade de opinião, de modo que, seja como for, possa adotar, quando se trata de defender o interesse do seu cliente, a interpretação que, por ser seguida pelas mais respeitadas autoridades, assegure à sua causa as maiores probabilidades de vitória”. (folhas 167).
Sobre a clareza da sentença judicial: dizer o direito à partir dos fatos. (Folhas 171).
 
“A fundamentação das sentenças é certamente uma grande garantia de justiça, quando consegue reproduzir exatamente, como num esboço topográfico, o itinerário lógico que o juiz percorreu para chegar à sua conclusão. Nesse caso, se a conclusão estiver errada, poder-se-á descobrir facilmente, através da fundamentação, em que etapa do seu caminho o juiz perdeu o rumo”. (folhas 175).
“Sob esse aspecto é bom que também o juiz tenha um pouco de habilidade do advogado, porque, ao redigir a fundamentação, deve ser o defensor da tese já estabelecida por sua consciência”. (folhas 179).
“Os motivos declarados são bem diferentes dos verdadeiros, e que, com muita freqüência, a fundamentação oficial nada mais é que um biombo dialético para ocultar os móbeis verdadeiros, de caráter sentimental ou político, que levaram o juiz a julgar assim”. (folhas 191).
“A melhor homenagem que um aluno pode fazer ao seu mestre é demonstrar-lhe que se tornou melhor do que ele”. (folhas 207).
“Porque o debate oral é a expressão da confiança (‘basta-me a tua palavra”), enquanto a escrita é a expressão da desconfiada cautela (‘ as palavras voam, os escritos ficam’)”. (folhas 211).
As digressões exaradas pelo juiz orbitam entre a justiça e a política, moldando-lhe a postura. (Folhas 221).
“Se, de acordo com a lei corretamente entendida, o pobre for a parte errada, a piedade pela sua miséria não o deve fazer triunfar contra a justiça”. (folhas 242).
A interpretação da lei remonta sempre à origem de sua concepção, ou melhor, substancialmente, à inspiração política que circula nela e a torna socialmente atual. Assim toda a interpretação jurídica permeia certa dose de opção política. (folhas 245).
É sempre mais difícil ao magistrado manter sua independência em tempos de liberdade do que em tempos de tirania. (folhas 248).
“Cada povo têm a magistratura que merece” (folhas 258). “Julgar os outros implica, a cada instante, o dever de ajustar as contas com a sua consciência”. (folhas 259).
“Os juízes são como membros de uma ordem religiosa: é preciso que cada um deles seja um exemplo de virtude, se não quiser que os crentes percam a fé”. (folhas 264).
“A justiça é um fluido vivo, que circula nas fórmulas vazias da lei, como o sangue nas veias”. (folhas 268).
“Lex specialis, sententia generalis – assim o legislador e o juiz remetem um ao outro a responsabilidade: e um e outro podem dormir sonos tranqüilos, enquanto o inocente balança na forca”. (folhas 273).
“O verdadeiro perigo não vem de fora: é um lento esgotamento interno das consciências, que as torna aquiescentes e resignadas; uma crescente preguiça moral, que à solução justa prefere cada vez mais a acomodadora, porque não perturba o sossego e porque a intransigência requer demasiada energia”. (folhas 277).
“Debaixo da ponte da justiça passam todas as dores, todas as misérias, todas as aberrações, todas as opiniões políticas, todos os interesses sociais. E seria bom que o juiz fosse capaz de reviver em si para compreendê-los, cada um desses sentimentos: experimentar a prostração de quem rouba para matar a fome ou o tormento de quem mata por ciúmes; ser sucessivamente (e, algumas vezes, ao mesmo tempo) inquilino e locador, meeiro e proprietário de terras, operário em greve e industrial”. (folhas 280).
“É bom que não se perceba que a função que nossa sociedade atribui à justiça é, com freqüência, a de conservar as injustiças consagradas nos códigos”. (folhas 281).
“Ele acredita que está em jogo a justiça, ao passo que está em jogo apenas seu amor próprio. Sem perceber, obstinando-se em sua tese, de juiz se transforma em parte”. (folhas 290).
“O drama do juiz é a solidão, porque ele, que para julgar deve estar livre de afetos humanos, e situado um degrau acima dos semelhantes, raramente encontra a doce amizade que requer espíritos do mesmo nível. O drama do juiz é a contemplação contínua das tristezas humanas”. (folhas 355).
“Justiça não quer dizer insensibilidade, que o juiz, para ser justo, nem por isso deve ser impiedoso. Justiça quer dizer compreensão, mas o caminho mais direto para compreender os homens é aproximar-se deles com o sentimento”. (folhas 359).
“Acredita-se comumente que a missão específica do advogado seja fazer-se ouvir pelos juízes; na realidade, o ofício mais humano dos advogados é ouvir os clientes”. (folhas 376).