quarta-feira, 13 de julho de 2011

“Copa de milionários num país de miseráveis”


Por Noreda Somu Tossan

Recentemente, (no portal transparência Brasil) foi levantada uma estimativa de o quanto seria gasto pelos governos, Federal, Estadual e Municipal, nesta Copa do Mundo de 2014 que será realizada no Brasil, e os cálculos feitos já ultrapassavam os 23 Bilhões de Reais. Estes números excedem em muito, o que já foi gato com Educação (14,9 Bilhões), ou com Assistência Social (11,8 Bilhões).

O investimento de dinheiro de impostos de nós brasileiros, no financiamento de uma competição internacional PRIVADA, tem como já era de se esperar, provocado críticas. Mas lamento informar que a situação pode ser ainda mais grave do que o esperado. Um levantamento feito pelo consultor legislativo do Senado, Alexandre Guimarães, indica que os gastos com este evento futebolístico podem atingir o vergonhoso número de 62,5 Bilhões de Reais, ou seja, 40 Bilhões de Dólares, o que transformaria esta Copa do Mundo na mais cara da história.

Só para efeito de comparação, a Copa da Africa do sul, realizada em 2010, até então a mais cara, custou modestos 14,5 Bilhões, em Reais. Se somarmos as o capital gasto com as três últimas Copas, o total é de 46,8 Bilhões de Reais, valor este, menor que o previsto para a Copa do Brasil. Parece-me até que nós estamos querendo ser notados, não pelo péssimo futebol que desempenharemos nesta Copa, mas sim, pelo dinheiro que conseguiremos mandar pelo ralo. Vale uma frase do meu amigo Marcio Alves: “Se não posso ser notado por ser o melhor, que seja então lembrado por ser o melhor dos piores”.

Mas como chegamos a este número astronômico de 62,5 Bilhões? Alexandre Guimarães considerou os 33 Bilhões anunciados pelo presidente Dilma Rousseff para as obras de infra-estrutura, incluindo investimentos em saúde e segurança, mais 7 Bilhões para construção de estádios, mais os 20 Bilhões do BNDES para o “trem bala” que ligará a cidade de São Paulo e Rio de Janeiro. (Elefante branco que certamente não ficará pronto até a Copa do Mundo). Esta obra foi anunciada como uma importante medida para melhorar o fluxo de pessoas entre as duas cidades durante os jogos, mas...

É claro, o Ministério dos Esportes nega este custo como total, questiona a credibilidade do levantamento e classifica o número como “cabalístico” e sem “nenhum fundamento”. Já o Governo Federal alega que os valores somados incluem investimentos permanentes na infra-estrutura do País, portanto, não deveriam ser considerados. Penso eu que, se amanhã ou depois, o Governo quiser, pode também alegar que vai construir a usina de Angra 3 para produzir energia para a Copa, logo, dizer que é um benefício permanente.

Vejam que estes dados ainda são de Janeiro, pois o Governo ainda não divulgou os dados atualizados. Também não está incluído no montante, o superfaturamento que é práxis, as greves que acontecerão quando a pressão sobre os operários aumentar, e outros contratempos e desconfortos que não podem faltar às obras brasileiras. Enfim, torço para que o Brasil não passe da primeira rodada, e que a vergonha se junte ao saldo negativo que, querendo ou não teremos de pagar, pois o brasileiro, este sim o único culpado por vivermos num mais tão defasado em matéria de educação, necessita desta lição.

Edson Moura

sábado, 9 de julho de 2011

"ES. comeu M., logo, J. era corno"

Por Noreda Somu Tossan

Atenção! Para preservar a integridade das pessoas citadas neste artigo, optei por usar apenas as iniciais de seus nomes, salvaguardando assim, suas respectivas identidades e, por conseguinte, suas reputações.

M. era uma bela jovem, porém, deveras assanhada. Estava de casamento marcado com um rapaz , já bem mais velho que ela. O Rapaz era muito trabalhador, desde muito pequeno aprendera a trabalhar com as mãos e já tinha uma clientela fixa em sua oficina.

Passara os últimos meses economizando o quanto podia para comprar os móveis para a sua modesta casinha. J. era seu nome , bem aparentado, corpo esbelto e cultivava uma bela barba preta que lhe conferia pelo menos cinco anos a mais do que realmente tinha. J. sempre respeitou M., e nunca a tocara mais intimamente, embora ela sempre o provocasse, insinuando-se, e tocando-lhe em partes erógenas do corpo.

M., como já disse, era muito assanhada, já tinha 15 anos e seus hormônios já a faziam passar calores . Usava roupas que chamavam atenção dos rapazes de seu bairro. Já era de se esperar que o pior acontecesse .

Numa noite cálida M. foi deitar-se, com uma camisola transparente, seios protuberantes escapavam de vez em quando de dentro de suas vestes. Era uma cena irresistível ver aquela bela mulher contorcer-se na cama à medida em que o lençol que lhe cobria as curvas caia ao chão , expondo seu sexo. A propósito...a janela estava aberta, e alguns que passavam, vindos das baladas noturnas, não deixavam de dar uma espinhadinha na moça gostosa. ES. Já estava a dois dias na gandaia, recém liberto da escravidão de seu “patrão”, ele só pensava agora em diverti-se. Quando passou em frente a janela , não se conteve ,parou , ficou um bom tempo admirando aquela ninfeta sex, e fez o impensável:

Num momento de extrema excitação, pulou a janela e pôs-se ao lado da cama de M., tirou suas calças e expôs seu membro rijo. Só masturbar-se não estava resolvendo, precisava ir além. Deitou-se ao lado de M.e, suavemente arremeteu para dentro da moça. M. soltou um gemido de satisfação e à medida que ele entrava e saia de sua gruta, M. delirava de prazer.

M. acorda de seus “sonhos” eróticos e quando finalmente seu cérebro consegue organizar seu senso espacial, ela se da conta de que tem um homem em cima de si. A primeira reação de M. foi de repelir aquele varão, mas algo em sua mente a dizia que ficasse tranqüila, que tudo aquilo que lhe estava acontecendo não era uma obra do acaso. Na verdade a voz que ela ouvia era de ES., que sussurrava em seu ouvido coisas do tipo:

“relaxe criança, você foi escolhida entre tantas para ter uma noite de prazer como nunca mais terá”, ou, “este membro que recebes agora, mudará tua vida, pois és bendita entre todas as outras com quem já me deitei... achastes graças aos meus olhos”. Ela relaxou então, e foi recíproca às caricias de ES.

Quarenta dias se passaram e M. se viu desesperada ao ver que sua menstruação não vinha. Como darei a noticia a J? Ele vai me matar! Meu Deus... Por quê?

Quando J. Recebeu a noticia de que sua noiva (que nunca havia tocado) estava grávida, desesperou-se, perdeu o chão, e num ato de desespero tentou fugir da sua cidade. Mas o pai de M. mandou alguns de seus capangas para interceptá-lo. Deram-lhe uma surra e o trouxeram de volta. Ele contou tudo à seu sogro, que ficou perplexo e também arrependido por tê-lo julgado um cafajeste. Ao final, para colocar panos quentes em toda esta desgraça, inventaram uma historia tão , mas tão absurda, que, por incrível que pareça, até hoje se acredita nela.

FIM

quarta-feira, 6 de julho de 2011

“Morte...morte...morte”

                                

Por que escrevo tanto sobre a morte? Será que sou considerado por muitos, uma pessoa frustrada, com propensão ao suicídio, totalmente destituído de perspectiva de vida? Talvez esta seja a verdade dos indivíduos que apenas lêem meus textos, mas não me conhecem de fato. A filosofia antiga está repleta de pensamentos acerca da morte, e isso não fazia dos filósofos que propunham a “tenebrosa temática”, homens mórbidos.

Devemos, ou pelo menos deveríamos, desde pequenos, começar a pensar que a morte não é nada para nós, porque todo o bem e todo o mal residem apenas na sensação. Sendo assim, um entendimento correto deste fato torna nossa vida mortal deliciosa, visto que não impõe um tempo infinito, pelo contrário, afasta o desejo de imortalidade. Porque nada há de terrível na vida para quem compreende que não há nada de terrível em não viver. A morte, o mais tenebroso dos males, não é nada para nós, porque enquanto nós existimos, a morte não existe e quando a morte está presente nós estamos ausentes.

Ao falar de morte, muitos de nós “bate na madeira” para “isolar”, quanta bobagem, quanto medo irracional, pois, se analisarmos cuidadosamente a frase de Epícuro acima, veremos que ele acertou em suas ponderações sobre a morte. Como podemos sentir medo de uma situação que, ao nos acometer, nem sequer estaremos mais presentes? Outros já dizem que não querem nem imaginar a sua própria morte, com a desculpa de que existem pessoas que dependem de sua presença para subsistir, exemplo um filho recém nascido, uma esposa dependente, ou uma mãe já idosa. Mentira! Estão é com medo.

Nesta paranóia delirante de céu e inferno, muitos de nós nos esquecemos de viver bem. A maioria de nós não se preocupa em levar uma vida com intensidade, uma vida autêntica, com algumas virtudes necessárias, e também algumas mazelas. Nos preocupamos apenas com quanto tempo poderemos viver. Todos podem viver bem, mas, o poder de viver muito, este definitivamente ninguém tem. Então por que não exercitar a “sensação” de estar morto, de não mais pertencer ao mundo? Parece ridículo isto que proponho? Pois saibam que todos os dias, mesmo sem sabermos, praticamos este exercício.

Ao acordamos, após uma noite de sono, nada mais fazemos que “despertar” para a vida, mais um dia em que desfrutaremos da singular experiência de se estar vivo. Podemos comparar isto a um nascimento, pois a cada despertar, nascemos para um novo dia de vida. E ao final deste dia que, dependendo de como o aproveitamos, terá sido bom ou mal, repousaremos nosso corpo em uma cama, ou seja lá onde quer que dormimos, e nos entregaremos ao sono, que nada mais é do que a morte deste dia que infelizmente findou. O que é a morte senão um adormecer sem sonhos?!

Cometemos um erro em não pensarmos na morte. Fugimos de uma futuro inexorável e evitamos pensar na única coisa que nos está garantida, a saber, a morte. O problema é que imaginamos a morte sempre à nossa frente, olhamos para a morte hoje, como uma sombra de nosso futuro, sem percebermos que uma grande parte dela já foi deixada para trás. Cada segundo, cada minuto e cada hora do nosso passado pertence à morte.

Aproveitem esta ÚNICA vida ao máximo, mesmo que enganosamente lhe prometam outra num lugar “melhor”. Não arrisque desperdiçar uma experiência tão maravilhosa quanto VIVER na Terra.

Edson Moura

domingo, 3 de julho de 2011

“Uma tragédia pós-moderna”

Um amigo me procurou angustiado, pois estava vivendo, segundo ele, um dos maiores dilemas de sua vida. Embora tenha insistido para que ele me contasse logo de uma vez qual era esse dilema, ele me disse que precisava de pelo menos três cervejas para criar coragem. (pensi comigo: “Lá vem outra daquelas estórias maçantes de gente fraca que não sabe lidar com os percalços que a vida lhe impõe”.

Sentamos à mesa de um “boteco” chamado “botequim do Edu”, pedi uma “original”, acendi um cigarro para mim e fui surpreendido quando ele pediu um para si, tendo em vista que nunca o vira fumando. Então ele respirou fundo e começou a contar-me sua “tragédia engarrafada”:

Noreda, você sabe que estou namorando uma garota de dezessete anos, não sabe? Pois bem, embora todos nos olhem meio atravessado, talvez pela diferença de idade pois já estou com trinta e nove, talvez pela beleza da menina em contraste com minha péssima aparência, ou apenas por verem um casal tão apaixonado se abraçando pelas ruas, enfim, as pessoas nos observam.

Conheci a garota acerca de seis meses e posso dizer sem hesitação que foi amor à primeira vista. Não consigo explicar como ela me chamou a atenção. Quando a vi, meu coração disparou, era como se eu já a conhecesse, rolou uma química, uma atração muito forte. Ela estava linda, vestida com uma saia um tanto quanto curta, cabelos ondulados e dourados, olhos castanhos e uma pela branca como a de uma boneca de porcelana.

Sempre achei que essas coisas de amor não existiam e que tudo não passava de divagações de poetas recalcados e solitários que apenas conseguiam viver um grande amor em suas imaginações melancólicas. Enganei-me! Estava, aliás, estou apaixonado por esta garota, e tenho certeza que o sentimento é recíproco. Já trocamos juras de amor e até temos planos de nos casarmos.

Nos demos muito bem na cama e embora já tenha transado com muitas mulheres, nunca tive relações sexuais tão intensas como as que tenho hoje com ela. Você acredita que eu fui o primeiro homem de sua vida? Pois é, ela era virgem, e isso me atraiu mais ainda nela. Saber que uma mulher é apenas sua, que homem algum a havia tocado, é de deixar qualquer sujeito com o ego inflado.

Neste momento interrompi o discurso do meu amigo, porque além de já esta ficando excitado, estava vendo que não havia tragédia nenhuma para ser contada, apenas contemplava um homem se gabando por estar saboreando um dos melhores momentos de sua vida, querendo apenas que eu tomasse conhecimento de seu apogeu sexual. Pedi mais uma cerveja e acendi outro cigarro. Mandei já irritado que continuasse. Foi então que seu semblante mudou. Seus olhos lacrimejaram e quase pude ver um homem desesperado, gritando por socorro em meio a uma catástrofe existencial.

Noreda, sempre achei que já a conhecia. Seus olhos me eram familiares e os traços simétricos de seu rosto me faziam lembrar de alguém , como se já nos conhecêssemos. Achei que era fruto da minha imaginação, e que meu coração, tão apaixonado, me fazia acreditar que aquela era minha alma gêmea, mas não era bem assim.

Você não tem noção do tamanho do choque, do pavor que se apossou de mim no dia em que ela me levou à sua casa para que eu conhecesse seus pais. Eu realmente estava com medo da reação deles, pois até eu sabia que eles não aceitariam que sua menina se envolvesse com um cara tão velho. Mas fui mesmo assim!

Ao chegar ao portão da casa, vi uma mulher de seus trinta e poucos anos, cabelos também dourados e ondulados, um corpo ainda atraente apesar da idade. Confesso que não olhei diretamente em seus olhos, talvez por vergonha, talvez por medo, ou apenas porque estava com os olhos fixos, admirando seus seios fartos e arredondados. À medida que fui saindo do torpor causado por aquele corpo atraente, fui levantando os olhos para finalmente encará-la, foi aí que meu sangue gelou...

Era a Sônia! Lembra dela? Aquela minha namorada da juventude! Aquela que eu dispensei depois de tirar sua virgindade. Não me julgue Noreda, eu tinha apenas vinte e dois anos, não estava pronto para ficar com apenas uma mulher, queria aproveitar a vida, e nem me preocupei em dar um motivo para o fim do namoro. Apenas terminei e viajei para fora do país para ganhar algum dinheiro.

Ela me olhou horrorizada, quase desmaiou ao reconhecer-me. Seus lábios arroxearam e foi preciso pegar um copo d’água para ela. O marido estava chegando do trabalho e não me deu muita atenção, apenas perguntou o que estava acontecendo enquanto afagava o cabelo da esposa e pedia para a filha apresentar o seu namorado a ele. Sônia estava catatônica. Não dizia uma palavra sequer. Apenas quando o marido foi até a cozinha verificar porque a filha estava demorando tanto para trazer mais um copo de água com açúcar foi que ela me pegou firme pelo braço, olhou fundo nos meus olhos e com lágrimas rolando por sua face ela disse:

Este que está na cozinha não é o pai biológico dela. Eu me casei já grávida e ele não sabe a verdade e espero que continue assim. Uma coisa é certa... Você não pode mais namorar com ela, pois esta menina é sua filha.

Madonna! Se eu não estivesse sentado numa cadeira do bar, teria caído no chão. Fiquei pasmo. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. Uma tragédia! Sim, uma tragédia é o que é! Nem Sófocles poderia imaginar uma desgraça tamanha. Tive pena do meu amigo. Procurei palavras, mas não encontrei. Arrisquei dizer algo, mas a voz não brotava, era como se minhas cordas vocais tivessem sido cortadas. Baixei a cabeça e pude ouvi-lo dizendo algo que me deixou ainda mais espantado:

Eu não vou deixá-la Noreda! Eu a amo e não temos laços fraternais.Mesmo que seja seu pai, e que tenhamos laços sanguíneos, não posso aceitar que um detalhe genético interrompa um amor tão lindo. Vou contra tudo e contra todos para que possamos nos casar e vivermos felizes.

Levantei, acendi mais um cigarro, paguei a conta do bar e disse:

Boa sorte meu amigo, você vai precisar. Virei às costas e parti, como se aquilo não me incomodasse. Como se aquela situação não me afligisse a alma que não tenho. Enquanto a brisa da tarde soprava em meu rosto pude sentir uma fisgada no coração. Algo parecido com uma sensação de alívio...

Alívio por não estar no lugar dele.

Edson Moura

“Uma tragédia pós-moderna”


Um amigo me procurou angustiado, pois estava vivendo, segundo ele, um dos maiores dilemas de sua vida. Embora tenha insistido para que ele me contasse logo de uma vez qual era esse dilema, ele me disse que precisava de pelo menos três cervejas para criar coragem. (pensi comigo: “Lá vem outra daquelas estórias maçantes de gente fraca que não sabe lidar com os percalços que a vida lhe impõe”.

Sentamos à mesa de um “boteco” chamado “botequim do Edu”, pedi uma “original”, acendi um cigarro para mim e fui surpreendido quando ele pediu um para si, tendo em vista que nunca o vira fumando. Então ele respirou fundo e começou a contar-me sua “tragédia engarrafada”:

Noreda, você sabe que estou namorando uma garota de dezessete anos, não sabe? Pois bem, embora todos nos olhem meio atravessado, talvez pela diferença de idade pois já estou com trinta e nove, talvez pela beleza da menina em contraste com minha péssima aparência, ou apenas por verem um casal tão apaixonado se abraçando pelas ruas, enfim, as pessoas nos observam.

Conheci a garota acerca de seis meses e posso dizer sem hesitação que foi amor à primeira vista. Não consigo explicar como ela me chamou a atenção. Quando a vi, meu coração disparou, era como se eu já a conhecesse, rolou uma química, uma atração muito forte. Ela estava linda, vestida com uma saia um tanto quanto curta, cabelos ondulados e dourados, olhos castanhos e uma pela branca como a de uma boneca de porcelana.

Sempre achei que essas coisas de amor não existiam e que tudo não passava de divagações de poetas recalcados e solitários que apenas conseguiam viver um grande amor em suas imaginações melancólicas. Enganei-me! Estava, aliás, estou apaixonado por esta garota, e tenho certeza que o sentimento é recíproco. Já trocamos juras de amor e até temos planos de nos casarmos.

Nos demos muito bem na cama e embora já tenha transado com muitas mulheres, nunca tive relações sexuais tão intensas como as que tenho hoje com ela. Você acredita que eu fui o primeiro homem de sua vida? Pois é, ela era virgem, e isso me atraiu mais ainda nela. Saber que uma mulher é apenas sua, que homem algum a havia tocado, é de deixar qualquer sujeito com o ego inflado.

Neste momento interrompi o discurso do meu amigo, porque além de já esta ficando excitado, estava vendo que não havia tragédia nenhuma para ser contada, apenas contemplava um homem se gabando por estar saboreando um dos melhores momentos de sua vida, querendo apenas que eu tomasse conhecimento de seu apogeu sexual. Pedi mais uma cerveja e acendi outro cigarro. Mandei já irritado que continuasse. Foi então que seu semblante mudou. Seus olhos lacrimejaram e quase pude ver um homem desesperado, gritando por socorro em meio a uma catástrofe existencial.

Noreda, sempre achei que já a conhecia. Seus olhos me eram familiares e os traços simétricos de seu rosto me faziam lembrar de alguém , como se já nos conhecêssemos. Achei que era fruto da minha imaginação, e que meu coração, tão apaixonado, me fazia acreditar que aquela era minha alma gêmea, mas não era bem assim.

Você não tem noção do tamanho do choque, do pavor que se apossou de mim no dia em que ela me levou à sua casa para que eu conhecesse seus pais. Eu realmente estava com medo da reação deles, pois até eu sabia que eles não aceitariam que sua menina se envolvesse com um cara tão velho. Mas fui mesmo assim!

Ao chegar ao portão da casa, vi uma mulher de seus trinta e poucos anos, cabelos também dourados e ondulados, um corpo ainda atraente apesar da idade. Confesso que não olhei diretamente em seus olhos, talvez por vergonha, talvez por medo, ou apenas porque estava com os olhos fixos, admirando seus seios fartos e arredondados. À medida que fui saindo do torpor causado por aquele corpo atraente, fui levantando os olhos para finalmente encará-la, foi aí que meu sangue gelou...

Era a Sônia! Lembra dela? Aquela minha namorada da juventude! Aquela que eu dispensei depois de tirar sua virgindade. Não me julgue Noreda, eu tinha apenas vinte e dois anos, não estava pronto para ficar com apenas uma mulher, queria aproveitar a vida, e nem me preocupei em dar um motivo para o fim do namoro. Apenas terminei e viajei para fora do país para ganhar algum dinheiro.

Ela me olhou horrorizada, quase desmaiou ao reconhecer-me. Seus lábios arroxearam e foi preciso pegar um copo d’água para ela. O marido estava chegando do trabalho e não me deu muita atenção, apenas perguntou o que estava acontecendo enquanto afagava o cabelo da esposa e pedia para a filha apresentar o seu namorado a ele. Sônia estava catatônica. Não dizia uma palavra sequer. Apenas quando o marido foi até a cozinha verificar porque a filha estava demorando tanto para trazer mais um copo de água com açúcar foi que ela me pegou firme pelo braço, olhou fundo nos meus olhos e com lágrimas rolando por sua face ela disse:

Este que está na cozinha não é o pai biológico dela. Eu me casei já grávida e ele não sabe a verdade e espero que continue assim. Uma coisa é certa... Você não pode mais namorar com ela, pois esta menina é sua filha.

Madonna! Se eu não estivesse sentado numa cadeira do bar, teria caído no chão. Fiquei pasmo. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer. Uma tragédia! Sim, uma tragédia é o que é! Nem Sófocles poderia imaginar uma desgraça tamanha. Tive pena do meu amigo. Procurei palavras, mas não encontrei. Arrisquei dizer algo, mas a voz não brotava, era como se minhas cordas vocais tivessem sido cortadas. Baixei a cabeça e pude ouvi-lo dizendo algo que me deixou ainda mais espantado:

Eu não vou deixá-la Noreda! Eu a amo e não temos laços fraternais.Mesmo que seja seu pai, e que tenhamos laços sanguíneos, não posso aceitar que um detalhe genético interrompa um amor tão lindo. Vou contra tudo e contra todos para que possamos nos casar e vivermos felizes.

Levantei, acendi mais um cigarro, paguei a conta do bar e disse:

Boa sorte meu amigo, você vai precisar. Virei às costas e parti, como se aquilo não me incomodasse. Como se aquela situação não me afligisse a alma que não tenho. Enquanto a brisa da tarde soprava em meu rosto pude sentir uma fisgada no coração. Algo parecido com uma sensação de alívio...

Alívio por não estar no lugar dele.

Edson Moura