segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Vida, pelos olhos da Morte


Por Noreda Somu Tossan

Enxergar as coisas exatamente como elas são, pode ser uma tarefa muito difícil, mas em contra partida, pode trazer incríveis recompensas para aquelas que insistem em desconfiar de tudo que é muito agradável aos olhos, que vivem o lema: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia". A morte é um terror para bilhões de seres humanos, mas para outros, nada mais é, do que o encerramento de um estado que é inexoravelmente transitório, onde não há temor, e aguardá-la pode não ser um comportamento pessimista e mórbido.

Schopenhauer, como sua filosofia “pessimista", muito contribuiu para que a humanidade vivesse melhor. Posso citar a exortação que ele faz ao destemor  da morte, ou, ao valor dela frente à vida sofrida e miserável  que muitos levam. Mais que o fechamento de um ciclo, a morte é o fim do sofrimento, ou seja, o retorno ao descanso, ao silêncio, à quietude. Assim como outrora descansávamos em uma sepultura que era o útero materno, descansaremos novamente, desta vez, no útero desta terra que nos acolheu e nos deu nossa porção de experiências .

Dizer para valorizar a morte, pode soar estranho, muitos podem entender que estou dizendo para desvalorizar a vida, mas também pode-se encontrar um novo significado para quem se considera um “lutador” nesta vida que, desde a primeira inspiração de oxigênio, não se mostrou nada fácil.
A vida, para grande maioria dos seres humanos, é literalmente uma luta, e tratar a morte, não como uma derrota ou um final sem glória e vergonhoso, e sim como o retorno ao silêncio da própria existência, é comparável à promessa Bíblica de um lugar de paz e tranqüilidade, onde não haverá mais dor, ou até mesmo à perspectiva budista de se alcançar o nirvana.

Schopenhauer dizia que: “Trabalho, aflição, necessidade e esforço, constituem a sorte da maioria das pessoas durante toda sua existência”, mas também afirma logo depois, algo que eleva a dignidade humana. “Para uma tal espécie, nenhum outro palco se presta, nenhuma outra  a existência”.
O próprio cristianismo é uma escancarada  "filosofia do pessimismo". O poder através do qual o cristianismo conseguiu vencer, primeiro o Judaísmo, e logo em seguida o paganismo de Roma e da Grécia, está unicamente em seu pessimismo, na declaração de que nossa condição é excessivamente deplorável e pecaminosa, enquanto o Judaísmo e o Paganismo eram otimistas.

É possível encontrar com facilidade, passagens bíblicas que nos levam a considerações deste tipo, mas olhando por outro ângulo, apresentam a morte como uma valorização da vida. Vale salientar que, nos lábios do filósofo Jesus, essas asseverações em favor da morte, ganham ares de inspiradora fé no significado da própria vida. Ex: “Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que perdê-la por minha causa, reencontrá-la-á”.

Na boca de Buda não foi diferente: “Olhai ao vosso redor e contemplai a vida. Tudo é passageiro e nada duradouro. Só nascimento e morte, crescimento e decadência, combinação e dissolução”. Também Epicuro disse após examinar detalhadamente a existência: “A morte não dos concerne, pois quando somos, ela não é, e quando ela é, já não somos ”.

Será que a filosofia chamada de pessimista, realmente não tem utilidade nos dias de hoje?  Será que devemos rejeitar um remédio só porque seu gosto é um pouco amargo? E ignorarmos que na existência há males muito mais amargos que este remédio, não seria uma opção alienante?

Edson Moura (baseado em estudo sobre a filosofia de Schopenhauer)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eu sou você no futuro!


Por Noreda Somu Tossan

Gente! Cansei! Não quero mais falar de Deus! Deus não pode ser questionado. Deus jamais descerá ao nível do homem para provar que existe, portanto, vamos falar de outra coisa...sei lá, qualquer coisa.

Brincadeirinha, vamos falar do cara sim, pois assim ele ficará com raivinha de nós e quem sabe não nos aparecerá ou enviará um espírito destruidor para nos punir? (risos) 

Um dia no ano de 2062, perguntei para um velhinho passante, se ele tinha fé em algo, tipo...na ciência. Ele me fitou e disse: “A verdade não tem que ser aceita com fé. Fé é para os fracos! Eu até que creio na ciência, pois ela nos dá fatos, e contra fatos, muitas vezes não existem argumentos.

Taí, gostei desse cara. Mas quando achei que ele já tinha concluído seu raciocínio, ele bradou bem alto:

“A fé pode ser chamada de "falência intelectual". Se o único modo de você aceitar uma afirmação é tendo fé, então você está reconhecendo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos”.

Enfiei o rabinho entre as pernas e "sartei de banda", pois o cara era da pesada. Como sou muito chato, e o método que adotei para descobrir as “verdades” é o “socrático”, perguntei para ele se Jesus não fez o que dizem que fez para que nós fôssemos salvos. Ele nem sequer pensou para responder essa, foi logo vomitando: 

Velhinho:  Digamos que a redenção cristã se baseie em dois conceitos principais: “o sofrimento do indivíduo cancela o pecado do mesmo” e “o inocente (Jesus) pode cumprir a pena em lugar do culpado (nós)”. Fazer o inocente pagar pelo pecador, ainda por cima com um sofrimento improdutivo, não seria apenas um ato de vingança contra a pessoa errada e só faz juntar um mal a outro mal? 

Calei por um momento e respondi: Sim pode ser, mas o que dizer das bilhões de pessoas que acreditam que Jesus salva? Não seria presunção minha e sua, achar que nós estamos certos e elas erradas? 

O velhinho de cabelos brancos não me perdoou, deu-me outra cassetada: “ Mesmo que  5 bilhões de pessoas acreditem numa coisa que é estúpida, essa coisa continuará sendo estúpida”.

Eu: Então o inferno não existe? E nós ateus não iremos para lá? Por que o senhor é um ateu?

Velhinho: A Bíblia nos diz que Jesus foi sacrificado para nos redimir de nossos pecados e nos salvar do fogo eterno. A Bíblia também nos diz que se não acreditarmos nisto queimaremos no fogo eterno. Não é um pouco paradoxal essa afirmação? Meu jovem, eu posso dizer, sem medo de estar errado, que todos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que os crentes. Quando eles entenderem  porque é que rejeitam todos os outros deuses possíveis, entenderão porque é que eu rejeito o deus deles.

Eu: Mas o senso comum religioso nos diz que temos que aceitar os mistérios de Deus, e que no tempo certo tudo será revelado. A verdade deve ser aguardada. Dizem que eu faço perguntas demais. O que o senhor me diz sobre essa afirmação? 

Velhinho: Ora, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não (fé em Deus sem questionamentos), desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro (pode ter sido roubado), desde que ele esteja na nossa mão.

Eu: Um amigo meu, chamado “capitão”, me disse uma vez que ser ateu é uma forma de crença. Ele não está meio certo? Outro amigo chamado “prodígio”, acredita que Deus protegeu Moisés e que ainda protege sua igreja até hoje. Como faço pra provar que ele está falando besteiras?

Velhinho: Não! O “capitão”  está totalmente errado! Onde já se viu?! Dizer que ateísmo é uma crença é o mesmo que dizer que careca é uma cor de cabelo. E para o prodígio, pergunte para ele se a “assembléia de Deus” onde ele congrega lá em Campinas tem para-raios no telhado. Se tiver, é por falta de confiança em Deus. (risos do velhinho). E mais, devemos sempre questionar essa lógica que afirma um Deus onipotente e onisciente, que criou um homem falível e o culpa por seus defeitos.

Eu: Então essa história de que Deus me ama e quer o meu melhor, não passa de papo furado? Eu não vou para o paraíso morar com Deus? O cristianismo nos garante o céu! (risinhos sarcásticos)

Velhinho: O cristianismo nos afirma que há um ser invisível, que vive no céu e micro-gerencia nossa vida, está atento a tudo que fazemos, o tempo todo. O ser invisível tem uma lista de 10 coisas (mandamentos) que ele quer que a gente cumpra. Se você infringir qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar super especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você sim! (risinhos também sarcásticos do velhinho)

Eu: Opa! Peraí, o senhor, mesmo com esses cabelos brancos, não tem autoridade para falar essas coisas. 

Velhinho: Eu tenho tanta autoridade quanto o Papa. Eu só não tenho tantas pessoas que acreditam nisso.

Eu: Então o senhor é a favor da separação entre Igreja e Estado? Nossa moral não está arraigada à Igreja? E essa herança religiosa não nos fez uma sociedade melhor, mais amorosa e justa?

Velhinho: Por favor, não seja tolo! Eu sou completamente a favor da separação da Igreja e do Estado. Minha idéia é que essas duas instituições nos fodem o suficiente individualmente, portanto, ambas juntas é a morte certa.
Eu: Será que algum dia conseguiremos fazer com que um crente deixe de acreditar e se torne um ateu como nós? O mundo seria mais amoroso se todos fôssemos crentes? Paulo e Jesus disseram que devemos amar uns aos outros assim como amamos ao nosso Deus. A fé não é uma “prova”, segundo Paulo?

Velhinho: Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar. Como disse o ateu Friedrich Nietzsche: “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. Eles (os crentes) dizem que acreditam na necessidade da religião… Mas eles não são sinceros! Eles acreditam mesmo é na necessidade da polícia! Amor ao “nosso” Deus? Por favor, não há no mundo amor e bondade bastante para que ainda possamos dá-los a seres imaginários. Uma visita ao hospício mostrará a você que a fé não prova nada.

Eu: O senhor não aprova nenhuma religião? Algumas proporcionam uma felicidade, mesmo que ilusória. Isso não é bom para ajudar-nos a encarar a vida dura? Pessoas são felizes em seus mundinhos!

Velhinho: Não importa o quão feliz me deixe, se não é verdadeiro, se não é real, muito obrigado. É assim que penso quanto aos deuses e mitos de todas as religiões
.
Eu: A religião parece ter um ponto fraco. O senhor poderia me dizer qual seria ele?

Velhinho: Não vou criar nada, apenas vou repetir o que Epicuro disse: Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja? Então é malevolente. Se é capaz e deseja? Então por que o mal existe? Se não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Meu jovem, Se a ciência já mostrou que a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?

Eu: Para encerrar esta nossa proveitosa conversa, o que seria necessário para acabar com a fé de um crente?

Velhinho: É simples: Basta Deus existir!  Pois, se Deus existisse, a fé se tornaria desnecessária e todas as religiões entrariam em colapso.A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amém. Como já disse, a fé é a falência intelectual. Se o único modo de você aceitar uma afirmação é pela fé, então você está admitindo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos
.
Muito obrigado por seu tempo, não vou mais aporrinhá-lo com minhas perguntas. Mas antes que fosse, gostaria de saber seu nome.

Velhinho: Meu nome é Edson Moura, mas todos me conhecem por Noreda.


domingo, 19 de dezembro de 2010

O fanatismo (segundo Voltaire)


Por Noreda Somu Tossan

Fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta. Mas, aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático. 

João Diaz, retirado em Nuremberg, firmemente convencido de que o papa é o Anticristo do Apocalipse e que tem o signo da besta, não era mais que um entusiasta.

Já Bartolomeu Diaz, que partiu de Roma para ir assassinar santamente o seu irmão e que efetivamente o matou pelo amor a Deus, foi um dos mais abomináveis fanáticos que em todos os tempos pôde produzir a superstição.

Polieuto, que vai ao templo num dia de solenidade derrubar a destruir as estátuas e os ornamentos, é um fanático menos horrível do que Diaz, mas não menos tolo. Os assassinos do duque Francisco de Guise, de Guilherme, príncipe de Orange, do rei Henrique III, do rei Henrique IV e de tantos outros foram energúmenos enfermos da mesma raiva de Diaz.

O mais detestável exemplo de fanatismo é aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de São Bartolomeu, seus concidadãos que não iam à missa.      
Há também os fanáticos de sangue frio: são os juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles. E esses juízes são tão mais culpados...tão mais merecedores da execração do gênero humano, quanto, um homem tomado de um acesso de furor como os assassinos que não podem ouvir a vós da razão.

Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cérebro a doença é quase incurável. Eu vi convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer, se acaloravam cada vez mais, seus olhos encarniçavam-se, seus membros tremiam, o furor desfigurava seus rostos e teriam matado quem quer que os houvesse contrariado.

 Não há outro remédio contra essa doença epidêmica senão o espírito filosófico que, progressivamente difundido, adoça enfim a índole dos homens, prevenindo os acessos do mal porque, desde que o mal fez alguns progressos, é preciso fugir e esperar que o ar seja purificado. As leis e a religião não bastam contra a peste das “almas”. A religião, longe de ser para elas um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados. Esses miseráveis têm incessantemente presente no “espírito” o exemplo de Aode, que assassina o rei Eglão...de Judite, que corta a cabeça de Holoferne quando deitada com ele... de Samuel, que corta em pedaços o rei Agague. Eles não vêem que esses exemplos respeitáveis para a antigüidade são abomináveis na época atual; eles haurem seus furores da mesma religião que os condena.

As leis são ainda muito impotentes contra tais acessos de raiva. Essa gente está persuadida de que o “espírito santo” que os penetra está acima das leis e que o seu entusiasmo é a única lei a que devem obedecer.

O que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, conseqüentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar?

De ordinário, são os velhacos que conduzem os fanáticos e que lhes põem o punhal nas mãos: assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia – segundo se diz – imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que ele lhes apontasse.

Só houve uma religião no mundo que não foi abalada pelo fanatismo, é a dos letrados da China. As seitas dos filósofos estavam não somente isentas dessa peste como constituíam o remédio para ela: pois o efeito da filosofia é tornar a alma tranqüila e o fanatismo é incompatível com a tranqüilidade. Se a nossa “santa” religião tem sido freqüentemente corrompida por esse furor infernal, é à loucura humana que se deve culpar.

Edson Moura (extraído do Dicionário Filosófico de Voltaire)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“Eu sou você no futuro”


Por: Edson Moura

Gente! Cansei! Não quero mais falar de Deus! Deus não pode ser questionado. Deus jamais descerá ao nível do homem para provar que existe, portanto, vamos falar de outra coisa...sei lá, qualquer coisa.

Brincadeirinha, vamos falar do cara sim, pois assim ele ficará com raivinha de nós e quem sabe não nos aparecerá ou enviará um espírito destruidor para nos punir? (risos) 

Um dia no ano de 2062, perguntei para um velhinho passante, se ele tinha fé em algo, tipo...na ciência. Ele me fitou e disse: “A verdade não tem que ser aceita com fé. Fé é para os fracos! Eu até que creio na ciência, pois ela nos dá fatos, e contra fatos, muitas vezes não existem argumentos.

Taí, gostei desse cara. Mas quando achei que ele já tinha concluído seu raciocínio, ele bradou bem alto:

“A fé pode ser chamada de "falência intelectual". Se o único modo de você aceitar uma afirmação é tendo fé, então você está reconhecendo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos”.

Enfiei o rabinho entre as pernas e "sartei de banda", pois o cara era da pesada. Como sou muito chato, e o método que adotei para descobrir as “verdades” é o “socrático”, perguntei para ele se Jesus não fez o que dizem que fez para que nós fôssemos salvos. Ele nem sequer pensou para responder essa, foi logo vomitando: 

Velhinho:  Digamos que a redenção cristã se baseie em dois conceitos principais: “o sofrimento do indivíduo cancela o pecado do mesmo” e “o inocente (Jesus) pode cumprir a pena em lugar do culpado (nós)”. Fazer o inocente pagar pelo pecador, ainda por cima com um sofrimento improdutivo, não seria apenas um ato de vingança contra a pessoa errada e só faz juntar um mal a outro mal? 

Calei por um momento e respondi: Sim pode ser, mas o que dizer das bilhões de pessoas que acreditam que Jesus salva? Não seria presunção minha e sua, achar que nós estamos certos e elas erradas? 

O velhinho de cabelos brancos não me perdoou, deu-me outra cacetada: “ Mesmo que  5 bilhões de pessoas acreditem numa coisa que é estúpida, essa coisa continuará sendo estúpida”.

Eu: Então o inferno não existe? E nós ateus não iremos para lá? Por que o senhor é um ateu?

Velhinho: A Bíblia nos diz que Jesus foi sacrificado para nos redimir de nossos pecados e nos salvar do fogo eterno. A Bíblia também nos diz que se não acreditarmos nisto queimaremos no fogo eterno. Não é um pouco paradoxal essa afirmação? Meu jovem, eu posso dizer, sem medo de estar errado, que todos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que os crentes. Quando eles entenderem  porque é que rejeitam todos os outros deuses possíveis, entenderão porque é que eu rejeito o deus deles.

Eu: Mas o senso comum religioso nos diz que temos que aceitar os mistérios de Deus, e que no tempo certo tudo será revelado. A verdade deve ser aguardada. Dizem que eu faço perguntas demais. O que o senhor me diz sobre essa afirmação? 

Velhinho: Ora, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não (fé em Deus sem questionamentos), desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro (pode ter sido roubado), desde que ele esteja na nossa mão.

Eu: Um amigo meu, chamado “capitão”, me disse uma vez que ser ateu é uma forma de crença. Ele não está meio certo? Outro amigo chamado “prodígio”, acredita que Deus protegeu Moisés e que ainda protege sua igreja até hoje. Como faço pra provar que ele está falando besteiras?

Velhinho: Não! O “capitão”  está totalmente errado! Onde já se viu?! Dizer que ateísmo é uma crença é o mesmo que dizer que careca é uma cor de cabelo. E para o prodígio, pergunte para ele se a “assembléia de Deus” onde ele congrega lá em Campinas tem para-raios no telhado. Se tiver, é por falta de confiança em Deus. (risos do velhinho). E mais, devemos sempre questionar essa lógica que afirma um Deus onipotente e onisciente, que criou um homem falível e o culpa por seus defeitos.

Eu: Então essa história de que Deus me ama e quer o meu melhor, não passa de papo furado? Eu não vou para o paraíso morar com Deus? O cristianismo nos garante o céu! (risinhos sarcásticos)

Velhinho: O cristianismo nos afirma que há um ser invisível, que vive no céu e micro-gerencia nossa vida, está atento a tudo que fazemos, o tempo todo. O ser invisível tem uma lista de 10 coisas (mandamentos) que ele quer que a gente cumpra. Se você infringir qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar super especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você sim! (risinhos também sarcásticos do velhinho)

Eu: Opa! Peraí, o senhor, mesmo com esses cabelos brancos, não tem autoridade para falar essas coisas. 

Velhinho: Eu tenho tanta autoridade quanto o Papa. Eu só não tenho tantas pessoas que acreditam nisso.

Eu: Então o senhor é a favor da separação entre Igreja e Estado? Nossa moral não está arraigada à Igreja? E essa herança religiosa não nos fez uma sociedade melhor, mais amorosa e justa?

Velhinho: Por favor, não seja tolo! Eu sou completamente a favor da separação da Igreja e do Estado. Minha idéia é que essas duas instituições nos fodem o suficiente individualmente, portanto, ambas juntas é a morte certa.
Eu: Será que algum dia conseguiremos fazer com que um crente deixe de acreditar e se torne um ateu como nós? O mundo seria mais amoroso se todos fôssemos crentes? Paulo e Jesus disseram que devemos amar uns aos outros assim como amamos ao nosso Deus. A fé não é uma “prova”, segundo Paulo?

Velhinho: Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar. Como disse o ateu Friedrich Nietzsche: “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. Eles (os crentes) dizem que acreditam na necessidade da religião… Mas eles não são sinceros! Eles acreditam mesmo é na necessidade da polícia! Amor ao “nosso” Deus? Por favor, não há no mundo amor e bondade bastante para que ainda possamos dá-los a seres imaginários. Uma visita ao hospício mostrará a você que a fé não prova nada.

Eu: O senhor não aprova nenhuma religião? Algumas proporcionam uma felicidade, mesmo que ilusória. Isso não é bom para ajudar-nos a encarar a vida dura? Pessoas são felizes em seus mundinhos!

Velhinho: Não importa o quão feliz me deixe, se não é verdadeiro, se não é real, muito obrigado. É assim que penso quanto aos deuses e mitos de todas as religiões
.
Eu: A religião parece ter um ponto fraco. O senhor poderia me dizer qual seria ele?

Velhinho: Não vou criar nada, apenas vou repetir o que Epicuro disse: Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja? Então é malevolente. Se é capaz e deseja? Então por que o mal existe? Se não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Meu jovem, Se a ciência já mostrou que a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?

Eu: Para encerrar esta nossa proveitosa conversa, o que seria necessário para acabar com a fé de um crente?

Velhinho: É simples: Basta Deus existir!  Pois, se Deus existisse, a fé se tornaria desnecessária e todas as religiões entrariam em colapso. A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amém. Como já disse, a fé é a falência intelectual. Se o único modo de você aceitar uma afirmação é pela fé, então você está admitindo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos
.
Muito obrigado por seu tempo, não vou mais aporrinhá-lo com minhas perguntas. Mas antes que fosse, gostaria de saber seu nome.

Velhinho: Meu nome é Edson Moura, mas todos me conhecem por Noreda.

Edson Moura

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sou ateu sim...e daí?

                              
Por Noreda Somu Tossan

Já dizia o sábio filosofo alemão, nacionalizado suíço, de bigode engraçado e língua afiada: "Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo... existe comigo por instinto”. Duas , das muitas religiões que as pessoas criaram para viver melhor, têm discrepâncias que não se pode deixar passar despercebido. O Budismo não nos promete nada, mas nos assegura muita coisa, já o Cristianismo nos promete mundos e fundos, mas não cumpriu nada nesses quase dois mil anos.

 Quando deixamos de olhar a existência hoje e focamos a vida do homem no além , ou seja, no nada, acabamos por tirar da vida a sua beleza intrínseca que é justamente a incerteza do amanhã. Para se crer no além, necessário é que se cometa o suicídio intelectual, pois diante de tanta sujeira, tal atitude se torna essencial. O cristianismo está sendo, até agora a maior desgraça da humanidade, uma vez que ele nos pede (manda) desprezar o corpo e valorizar a espiritualidade, que nada mais é do que o sonho utópico de se alcançar os portões de um céu que não existe de fato, onde encontraremos um Deus que jaz num caixão lacrado e mantido sempre à distância dos curiosos.

Qual o papel da fé nesta história sórdida? Não será outro senão, forçosamente querer que se ignore tudo aquilo que é verdade, mesmo sabendo que as ilusões são por demais fantasiosas para serem aceitas como verdadeiras ou sequer plausíveis.

O que vejo hoje são homens e mulheres de vasto conhecimento, mas sem um pingo de coragem, pois como também asseverou o bigodudo, “Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem.”...e preferem esconder-se atrás de uma falsa crença de que nada sabem e por isso não podem afirmar nada também. (que pena que tenho destes)

Minha crítica, assim como a dele, é contra o idealismo metafísico e suas várias categorias, além dos valores morais que estão atrelados a ele, pois, sendo originados no mundo metafísico, não podem dar diretrizes ao mundo físico. Qual a origem dos valores? Serão eles deixados em uma pedra por Deus? É claro que não! Os valores são moldados e re-moldados por homens que não se deixam levar por contos inconcebíveis, desses que só fazem com que crianças parem de urinar na cama, mas com adultos é preciso uma nova abordagem, mais...digamos...verdadeira.

É preciso começar a desmascarar  os muitos conceitos pré-formados e as ilusões que o gênero humano criou para se defender da realidade nua e crua. Quem tem coragem de olhar sem medo, para além daquilo que fôra obscurecido pelos “valores universais”...questionar as pequenas-grandes verdades, duvidar que por trás dos ideais que moldaram o caráter da civilização atual existem desejos nocivos que foram incutidos por pessoas manipuladoras e demasiado inteligentes? 

Duvidar da moral tradicional que a religião e a política nos fez o des-favor de apresentar, não é tarefa fácil, mas as máscaras precisam ser retiradas, pois elas escondem a realidade ameaçadora...nauseante... inquietante, mas ainda assim, realidade. Difícil de encará-la? Claro que é! Mas é dela que abstrairemos a visão plena do que é a vida do homem. Uma visão autêntica da vida.
"Não posso viver uma ilusão da realidade humana".

Onde estão essas máscaras? Quais são elas? 

Contemplem um espelho e verão! 

Mas tomem muito cuidado:

 Ao retirá-las estarão expondo o ser humano da forma mais verdadeira possível e pode-se desencadear uma seqüência de explosões de forças desordenadas, algumas vezes belicosas, caracterizando a incerteza e o perigo de se ser humano de verdade.

Edson Moura

sábado, 4 de dezembro de 2010

“Deus não ouve Rap”



Deus, olhai o meu povo...da periferia
É tanta gente triste nessa cidade,
É tanta desigualdade...desse outro lado da cidade,
Mas eu tenho fé, eu tenho fé eu acredito em Deus
Olhai por esses filhos teus.

Senhor!...Oh pai senhor, olhai o meu povo sofrido...da periferia
Ah!olhando pro meu povo vejo a tristeza
Estampada em cada rosto que perdeu a beleza
A vida é embaçada pra quem está no veneno
Uma mãe vendo os seus filhos com fome...sofrendo.

Os mais ricos do mundo só fazem investimentos,
Diversão pra “boyzinhos”, pra coisa ruim e armamentos
Quanto ao meu povo investimento é zero
 O dia-a-dia não é fácil, o dia-a-dia não é belo.

Vários moleques na rua, sem endereço, drogado
Mendigo, gente sofredora, também largado
Se arrastando e com vontade de viver
Muita gente dá de frente, finge que não vê.

De que adianta vida boa e ter tudo da hora
Se o povo está no veneno, meu Deus e agora?
Eu peço ao senhor que de paz e alegria
Cuide de nós... O povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Ah! O povo é mal cuidado, ignorado, esquecido
Os ricos querem mais é ver meu povo fodido
Exploram nossa vida, roubam nosso dinheiro
Eu vejo o povo no veneno, entrando em desespero.

Irmão na ira, sem paz espiritual, se armando
Roubando, se arriscando, porque tá precisando
Apanhando na vida, passando fome, que injustiça
E quando roda, toma coro todo dia da policia.

E a cada dia o crime vai crescendo,
Essa vida deixa o povo revoltado e violento
A pobreza...a miséria, todo dia cresce
Que porra é essa? Meu povo não merece

Um dia, quem só fode a gente, vai se foder
Eles obrigam o meu povo a não ter paz para viver
Que Deus proteja os irmãos que agora estão na correria
Que deus proteja o povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Este é um rap escrito por Ndee Naldinho, e retrata uma realidade ainda existente na periferia de muitas cidades onde as favelas enfeitam a selva de pedra. Há  nove anos ouvi esta música pela primeira vez, e hoje, quando o ano de 2010 já está terminando, vejo que nada mudou.

Será que a força da palavra deste “Raper” não é tão forte assim? Será que o povo merece a vida que leva, por ser tão estúpido, e não perceber que o poder emana das massas? Será que a miséria é um mal necessário para se manter o equilíbrio social?
Não...não! A verdade é que Deus é um sádico e adora observar o povo se fodendo.

Desista Naldinho! Deus não houve Rap!

Edson Moura