domingo, 31 de outubro de 2010

"A vingança" parte II

...e num momennto de esdtúpida lucidez...puxei o gatilho.

 Puxei o gatilho e fiquei ali parado ouvindo o estampido do tiro ecoar pela manhã que parecia me recriminar pela minha atitude. Enquanto a fumaça da pólvora se dissipava e misturava-se com a neblina eu observava trêmulo, o corpo do homem caído ao chão. Minhas mãos sentiam o calor gerado pelo disparo, e aos poucos o cano da arma ia esfriando, enquanto eu tomava consciência do meu ato.

O Sol agora brilhava com mais intensidade, como se as ondas de calor que ele projetasse em minha direção fossem uma forma de me dizer se eu realmente estava satisfeito com meu trabalho. Uma lágrima correu pelo meu rosto, e a certeza de que aquele crápula que ficou estendido ao chão nunca mais cometeria adultério, me perseguiu pela mata enquanto eu corria em direção ao meu carro.

O sangue que escorrera de seu nariz já estava seco agora. Aos poucos ele recobrou a consciência e levantou-se meio atordoado, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Fez uma rápida verificação para ver se encontrava o buraco causado pelo projétil... mas não encontrou nada. Foi então que olhou para uma árvore à sua frente e viu a marca da bala. 

Ele não atirou em mim! Ele não atirou em mim! Meu Deus, mesmo vendo o ódio estampado em seu rosto, e tendo a chance de acabar com a minha vida sem que ninguém soubesse, ele não atirou em mim! Por quê?

Eu chego em casa e desabo em minha cama. Uma história passa por minha cabeça enquanto eu tento pegar no sono. Fiz bem meu trabalho. Com certeza ele aprendeu a lição. Isto ficou claro ao ver como ele mijou nas calças enquanto eu apontava o revólver bem no meio de seus olhos. O susto foi tanto que ele até desmaiou... eu ri neste momento.

Ninguém tem o direito de tirar uma vida, isso eu aprendi como o meu mestre. O amor incondicional, a longanimidade, a mansidão, a temperança do Galileu nunca saíram de meu coração. Embora eu não acredite em muitas das estórias que me contaram sobre aquele “profeta”, eu jamais poderia negar que tudo que ele fez e a forma como lidou com a vida...e com a própria morte, são um exemplo para as gerações que virão.

Tenho certeza que aquele homem vai pensar mil vezes agora, antes de dar um passo errado. O bilhete que deixei em seu bolso contém as ordens para o próximo passo da minha vingança. Ele terá que cumprir tudo que eu deixei escrito. A primeira coisa a fazer é abdicar do cargo de pastor depois de uma confissão pública de seus atos. Em seguida terá que pedir perdão aos membros de sua igreja por tê-los enganado por tanto tempo. 

Eu deixo bem claro que estarei vigiando-o, e se ele não completar sua missão... não terei tanta piedade da próxima vez que nos encontrarmos pela madrugada. Finalmente o sono que há muito tempo havia rompido relações comigo, chegou... vou descansar um pouco agora,deitar minha cabeça no travesseiro, sem remorso, sem culpa, sem arrependimento afinal de contas...

A noite foi de matar!

Edson Moura

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Deus não existe!

.

Por Noreda Somu Tossan

Procure entender o pensamento de um existencialista ateu. Ele tenta dizer que Deus não existe e que existe apenas um ser cuja existência precede a essência, a saber...o homem. Como diria Dostoievsk: “Se Deus não existisse tudo seria permitido”. O homem “abandonado” e “sozinho” no mundo, sem um criador no qual possa se amparar é o seu próprio criador.

O homem é o que é. Ele se constrói a partir do nada e por isso vive de angústias, de náuseas, como diria Sartre. “Tentando ser”, o homem depara-se com o desejo de ser Deus e com a angústia de jamais poder sê-lo. A idéia de Deus para o homem é de onipotência e onisciência, e o desejo de sê-lo representa ser e compreender tudo, não sofrer limites e condicionamentos, realizar-se em todos os sentidos possíveis.

Mas Deus não resolve nada. Esta é a base de todo ateísmo sartreano. Ele julgava que Deus não ajudava ou colaborava com as realizações ou problemas humanos, porque toda e qualquer experiência que o homem realiza, seja ela boa ou má, quer o leve ao prazer...à angústia ou até mesmo à náusea, é de sua inteira responsabilidade. O homem é só e, como tal, é responsável por tudo o que fizer, pois o nada de onde vem o persegue por toda a “eternidade”.

Em determinado momento da minha vida eu tive a necessidade de Deus, ele me foi dado, e eu o recebi sem compreender na verdade o que procurava. Mas este Deus por não ter raízes em meu coração, vegetou em mim durante um período de tempo...mas logo morreu.

Posso comparar “fé” com “necessidade”, pois na minha concepção, são termos similares. O homem sente a necessidade de encontrar um sentido para vida, pois, nascido sem razão ou com um propósito pré-determinado, descobre-se como angústia. Essa necessidade se reflete na crença.

Ter fé em Deus é o mesmo que alienar-se diante de sua própria liberdade. O absurdo do mundo é absoluto devido a sua constante possibilidade. Tudo é gratuito. A vida humana não possui sentido e, para superar esta faceta da existência, o homem inventa Deus. Entretanto, cabe ao homem dar sentido a sua própria vida.

Ora, acreditar que a vida humana tem um sentido dado por Deus, não passa de uma grande ilusão. A única coisa que a vida dá ao homem é a sua liberdade de poder escolher fazer dela o que bem quiser. Se Deus não existe, cabe ao homem decidir, sozinho, o melhor caminho para suas escolhas, que conseqüentemente determinarão sua vida e sua essência.

Também critico o conceito de Deus que é propagado, pois o descrevem como uma entidade inteligível, mas que não pode ser compreendida. A única prova que temos da existência de Deus é a fé, e isso eu também critico. Pelo menos uma evidência, deveria ser critério fundamental de inteligibilidade, mas como não há provas ou evidências, acredito ser impossível aceitar a existência de Deus.

O conceito de Deus criado pelo homem une todos os desejos que o homem deseja para si. O que o homem chama de Deus, nada mais é do que a sua aspiração, o seu próprio projeto supremo de vida, todas as idéias que o homem deseja para si e que sabe que jamais conquistará, porque por mais livre e capaz que seja, ele possui limites impostos pela natureza.

A religião, assim como a superstição, anula a liberdade humana. O povo, sob o comando de Deus, é servil e escravo...sem vontade e amedrontado. Para que de fato o homem possa “viver”, Deus precisa desaparecer. “Se Deus existe, o homem é um nada, mas se o homem existe...então...Deus não existe”.

Se o homem se considera livre, e pretende manter essa sua liberdade, ele deve escapar e se distanciar de Deus. O homem deve escolher a si mesmo e, conseqüentemente, amar a humanidade em oposição ao amor de Deus. Se Deus não existe não há imposição de valores, não há firmamento nem moral por fundamento. Cabe ao home “re-significar” a ética a cada instante, “re-significar” cada valor sem refugiar-se em justificativas ou desculpas, pois está sozinho no mundo junto com outros seres tão mortais quanto ele.

O homem só desenvolve uma relação consigo mesmo quando elimina Deus de sua vida, pois passa a ter uma relação direta com o mundo, e não com “algo transcendental”. É como disse Fauerbach: “Deus não cria o homem, é o homem que cria Deus”. A fé religiosa representa as próprias qualidades e aspirações do homem que, ao sentir-se fracassado, aliena-se e constrói uma divindade superior.

Noreda Somu Tossan

“A fé e as mortes que ele causou” Parte I

Por Noreda Somu Tossan

 Depois de vários adiamentos, finalmente dou início à seqüência de postagens onde, de forma bem resumida, faço relatos sobre acontecimentos que marcaram nossa história, e que tem a “fé” como eixo para seu desencadeamento. Espero que, no decorrer dos comentários, possam ser esclarecidos alguns pontos que ficaram obscuros, devido a necessidade de sintetizar ao máximo o texto, para quer não ficasse cansativo aos leitores. Este é apenas o primeiro de uma série de artigos meticulosamente preparados para trazer aos que não tiveram a oportunidade de conhecer, o “terror em nome de Deus”. Boa leitura!

 

Não pode se dizer que o Holocausto, tido entre os maiores genocídios contínuos da história, tenha sido motivado unicamente por questões religiosas, uma vez que o objetivo final de Adolf Hitler era a conquista do mundo em nome de uma raça ariana. No entanto, ao mesmo tempo em que os nazistas diziam estar servindo a Deus ao eliminar os Judeus, eles também estavam ligados a uma série de procedimentos pagãos, de cunho religioso e esotérico. Por outro lado, a perseguição aos judeus não foi exclusividade dos nazistas. Durante séculos, eles sofreram perseguições principalmente da igreja Católica, que por muito tempo afirmaram que os judeus eram responsáveis pela morte de Jesus, aliás, um judeu.

Alguns episódios da história servem de exemplo, como as Cruzadas e a Inquisição. Antes do início da Segunda Guerra Mundial, o anti-semitismo era muito forte no Ocidente. Em minha opinião, o holocausto demonstrou os resultados “demoníacos” que residem em nossa tradição de pregações e ensinamentos anti-semitas. Desta forma o anti-judaísmo cristão promoveu a causa nazista de várias maneiras. Ele levou os nazistas a focarem suas ações inicialmente nos judeus, e criou atitudes que permitiram que eles executassem seu programa de extermínio enfrentando pouca resistência.

Lamentavelmente a desastrosa doutrina católica preparou o caminho para Hitler e sua “solução definitiva”. Em grego o termo “Holocausto” significa uma oferenda feita em sacrifício. Foi usado no século XX para designar o extermínio sistemático, realizado pelos nazistas, de diversos grupos considerados indesejáveis, entre eles Judeus, homossexuais, comunistas, ciganos e deficientes. O número exato de mortes durante o holocausto é desconhecido. Estima-se que aproximadamente seis milhões de judeus tenham sido assassinados.

O Holocausto distingue-se dos outros genocídios da história pelo método sistemático empregado pelos nazistas. Ele foi levado a cabo em todas as regiões ocupadas pelos Alemães. Os meios usados para o assassinato em massa foram diversos, e, com o passar do tempo, foram sendo “aprimorados”, com um número crescente de vítimas. Além de execuções, os nazistas realizaram experiências médicas cruéis e bizarras em prisioneiros, incluindo crianças. Quando Hitler assumiu o poder, sua ideologia racista passou a ser empregada, defendendo a existência de apenas uma raça superior, a saber, a ariana. As demais raças eram consideradas inferiores e responsáveis pela perturbação da sociedade. Eles deveriam ser destruídas ou servir à raça superior. Foi dessa forma que teve início a perseguição aos judeus, negros, ciganos, homossexuais, doentes mentais e terminais.

Quando os judeus que eram capturados pelos nazistas, chegavam aos campos de concentração, eram separados em filas de mulheres, crianças e homens. Havia então a separação dos mais fracos, que eram encaminhados para a câmara de gás disfarçadas de chuveiros coletivos. Os prisioneiros se despiam imaginando que iam tomar banho, mas eram fulminados pelo gás mortal e, depois, enviados para o crematório. Dentes de ouro eram retirados e algumas vezes a própria pele era usada em candeeiros. Os cabelos das mulheres eram raspados antes delas entrarem nas câmaras de gás, e reciclados para confecção de produtos como tapetes e meias.

Mas você pode estar se perguntado:

O que o Edson quer dizer com isso que está escrevendo?

Na verdade, eu é quem faço algumas perguntas:

Onde estava é igreja neste momento da história? Onde estava a fé? Onde estava Deus? Em que a fé dos Judeus os ajudou? E mais:

Não foi uma fé cega que motivou o “Führer” a cometer esta barbárie? Por que o Papa Pio XII silenciou-se nesse momento? Será que lá no fundo, ele não estaria batendo palmas para o führer? De todas as hipóteses, a mais provável é que o papa Pio XII, ao escolher o silêncio no que dizia respeito ao extermínio judeu pelos nazistas, estaria apenas comportando-se como um estadista e não como um líder religioso.
"Parabéns para ele!"

Por Edson Moura

"Vamos descansar" (postado em: outroevangelho.blogspot.com)

Mais uma vez, deixo de lado algumas postagens que já estão prontas, para abordar um tema que, num primeiro momento parece não ter muito à ver com o perfil desta sala. Mas no final deste artigo, traçarei um paralelo entre o tema do escrito e a raiz do “outro evangelho”.

Há um bom tempo eu venho aplicando muito esforço em um ideal, que é absorver ao máximo tudo quanto puder em matéria de conhecimento. Percebi, já há bastante tempo, que nessa minha busca desenfreada por sabedoria, eu estava perdendo muitas noites de sono e não conseguia atingir meu objetivo. Foi quando vi um comentários de um amigo...já no finalzinho da noite, dizendo que precisava dormir, pois dormir faz bem à saúde. Procurei então, refletir sobre o assunto e acabei por escrever esta postagem.

Dormir é fundamental para manter a capacidade  mnêmica (link para constatação do significado) em dia. É durante o sono que as memórias são cultivadas: enquanto algumas vingam, outras se perdem. A construção da memória depende muito desse período em que o cérebro tece a trama da subjetividade e nos dá respostas aos problemas que nos afligem durante o dia.

Ao contrário do que eu pensava e do que a maioria pensa, o cérebro não descansa durante o sono...mas encontra-se em total atividade. É nessas horas que as informações coletadas durante o dia são processadas...selecionadas...gravadas e finalmente transformadas em memória permanente.

Dentre as várias funções do sono, o processamento da memória parece ser a única que exige do organismo estar realmente adormecido. Economizar horas de sono prejudica a cognição. Alguns aspectos da consolidação da memória só são acionados quando dormimos mais de seis horas ininterruptas. Quando se passa uma noite em claro, as memórias daquele dia ficam, por assim dizer, comprometidas.

Mas o que isso tem à ver com o “outro evangelho”, e com aquilo que aqui é falado? Tudo ora! Afinal de contas, nós desta sala, lutamos para que as pessoas tenham uma vida mais despreocupada...aproveitando os momentos ao máximo...brincando com os filhos...e por que não dizer: Dormindo!

Chega de vigílias em busca de Deus! Chega de noites de sono, subindo montes para buscar poder do céu! Devemos relaxar e aproveitar o pouco que nos resta das vinte e quatro horas do dia, para repousar o esqueleto, e se tivermos que subir o monte...que seja o “monte de cobertores”.
Edson Moura

Texto inspirado em comentário de Eduardo Medeiros no Blog:
 http://cpfg.blogspot.com/2010/06/sobre-nossos-demonios-

sábado, 16 de outubro de 2010

”A vingança”


Por Noreda Somu Tossan

Embora o desfecho desta história que lhes conto seja fictício, devo deixar claro que o teor do conto é verdadeiro e acontece ainda hoje bem perto de mim. A intenção minha é apenas deixar patente aos leitores que sentimentos de ira e de justiça que passam a todos os momentos por nossas cabeças, mas cabe a nós controlarmos o ímpeto vingativo e acalmar o nossos “corações” para não tornarmo-nos justiceiros insensíveis.

Resumindo ao máximo, começo a esclarecendo os motivos que levaram o Noreda a praticar tal ato. Durante cerca de dois meses ele observou atentamente o comportamento daquela mulher e daquele homem. O marido – um jovem de apenas 22 anos – saía bem cedo para trabalhar. Era quando o pastor chegava à casa do membro de sua igreja, para foder sua mulher durante horas.

Podia ver pela janela quando eles terminavam de transar e riam da total incapacidade do jovem corno em perceber que sua mulher gostava muito mais de sexo do que ele poderia oferecer. Ela dizia que a culpa era dele mesmo, pois ele preferia ir para a igreja ensaiar com a banda do que ficar em casa e dar conta do recado.

Certa vez, o pastor fez uma visita na casa com o pretexto de fazer uma campanha de oração por ali...só os três. Ao terminarem o marido foi tomar banho enquanto a mulher – jovem 19 anos – foi passar um cafezinho. Não deu outra. Eles meteram ali na sala mesmo. Rolou até sexo anal. Enfim, tudo isso irritou muito ao Noreda e o levou a tomar uma atitude radical.

Depois de abordar o pastor numa esquina escura e desmaiá-lo com um golpe na cabeça com o cabo do revólver, jogo-o dentro de um porta-malas e levo-o até o monte onde muitas vezes ele traçou a mulher do membro. Ele está sangrando muito, não me preocupei nem em averiguar se ele estava morto. Arranco-o com brutalidade de dentro do carro e começo a socar sua cara. Então ele acorda, sem entender nada ele me pede que leve o que quiser mas não o mate.

Não quero nada que você possua, eu digo.

Você vai morrer hoje cara! Está preparado para isso? Vou livrar o mundo de uma desgraça...uma doença que é você. Você sabe por que estou fazendo isto, não sabe? Você é um enganador, você fere um mandamento divino que é o de não cobiçar a mulher do próximo. Vou matá-lo, mas antes vou fazê-lo sofrer. Quero que tenha tempo para se arrepender.

Minha vós treme e a arma parece pegar fogo em minha mão. O aço do revólver parece ter se fundido à minha pele. A sensação é ruim e boa ao mesmo tempo. Um filme passa em câmera lenta em minha cabeça. Perguntas do tipo: “que direito eu tenho de fazer isso?” ou “o que faz de mim um cara melhor do que ele?”. Não importa, eu vou matá-lo, não cheguei até aqui para arregar agora.

Pergunto para ele se ele quer morrer. Pergunto se ele mataria um homem se soubesse que sua mulher, é possuída quatro vezes por semana em sua própria cama. Pergunto se ele já imaginou a sensação de cair de boca na vagina de sua esposa, sem saber que horas antes ela estava cheia do esperma de outro homem. Ele não reponde. Posso ouvir um homem chorando agora. Ele chora, com o rosto ensangüentado virado para o chão, a terra do monte entra em sua boca enquanto ele respira pesadamente.

Vou matar este homem. Vou morrer aqui por dentro, mas cumprirei a missão que eu mesmo me dei. Nunca pensei que fosse tão pavoroso ter a vida de uma pessoa bem no final do cano de uma arma. Quero gritar. Quero entender o porquê disso tudo, mas não grito. Olho para o céu e ele hoje está todo pontilhado com estrelas. Nunca vi um céu tão lindo. Nada me acalma, e a tremedeira, causada pela raiva, voltou.

Ele se levante e tenta virar para mim, mas eu o impeço com uma coronhada bem no nariz. O sangue jorra como um chafariz. Ele grita por misericórdia a Deus. Promete que nunca mais vai sequer olhar para outra mulher que não a dele. O Sol desponta no horizonte, já são quase cinco da manhã. Mando que ele aprecie o nasce r do Sol, pois será seu último.

Ele agora está chorando como uma criança. Eu não vou mais fazer isso, eu juro! Por favor, não me mate, eu tenho dois filhos cara!

Eu sei que você nunca mais vai fazer isso, agora eu confio em você. Mando que ele se ajoelhe de frente para mim. Olho bem dentro de seus olhos e vejo um homem apavorado, totalmente inseguro, desesperado, bem diferente daquele cara que pregava sermões moralistas enquanto traçava a mulher de um de seus membros da igreja.

Olho para o Sol mais uma vez. A arma está apontada bem entre os lhos do homem adúltero. Por um momento posso sentir a presença de Deus ao meu lado, em forma de calor, em forma de luz, mas sei que não é Ele...então, num momento de estúpidaa lucidez...

Puxo o gatilho.

Edson Moura

A vingança

Embora o desfecho desta história que lhes conto seja fictício, devo deixar claro que o teor do conto é verdadeiro e acontece ainda hoje bem perto de mim. A minha intenção  é apenas deixar patente aos leitores que, sentimentos de ira e de justiça  passam a todo o momento por nossas cabeças, mas cabe a nós controlarmos o ímpeto vingativo e acalmar os nossos “corações” para não tornarmo-nos justiceiros insensíveis.

Resumindo ao máximo, começo a esclarecendo os motivos que levaram o Noreda a praticar tal ato. Durante cerca de dois meses ele observou atentamente o comportamento daquela mulher e daquele homem. O marido – um jovem de apenas 22 anos – saía bem cedo para trabalhar. Era quando o pastor chegava à casa do membro de sua igreja, para foder sua mulher durante horas.

Podia ver pela janela quando eles terminavam de transar e riam da total incapacidade do jovem corno, em perceber que sua mulher gostava muito mais de sexo do que ele poderia oferecer. Ela dizia que a culpa era dele mesmo, pois ele preferia ir para a igreja ensaiar com a banda do que ficar em casa e dar conta do recado.

Certa vez o pastor fez uma visita na casa com o pretexto de fazer uma campanha de oração por ali...só os três. Ao terminarem, o marido foi tomar banho enquanto a mulher – jovem 19 anos – foi passar um cafezinho. Não deu outra. Eles meteram ali na sala mesmo. Rolou até sexo anal. Enfim, tudo isso irritou muito ao Noreda e o levou a tomar uma atitude radical.

Depois de abordar o pastor numa esquina escura e desmaiá-lo com um golpe na cabeça com o cabo do revólver, jogo-o dentro de um porta-malas e levou-o até o monte onde muitas vezes ele traçou a mulher do membro. Ele está sangrando muito, não me preocupei nem em averiguar se ele estava morto. Arranco-o com brutalidade de dentro do carro e começo a socar sua cara. Então ele acorda, sem entender nada ele me pede que leve o que quiser mas não o mate.

Não quero nada que você possua. Eu digo.

Você vai morrer hoje cara! Está preparado para isso? Vou livrar o mundo de uma desgraça...uma doença que é você. Você sabe porque estou fazendo isto, não sabe? Você é um enganador, você fere um mandamento divino que é o de não cobiçar a mulher do próximo. Vou matá-lo, mas antes vou fazê-lo sofrer. Quero que tenha tempo para se arrepender.

Minha vós treme e a arma parece pegar fogo em minha mão. O aço do revólver parece ter se fundido à minha pele. A sensação é ruim e boa ao mesmo tempo. Um filme passa em câmera lenta em minha cabeça. Perguntas do tipo: “que direito eu tenho de fazer isso?” ou “o que faz de mim um cara melhor do que ele?”. Não importa, eu vou matá-lo, não cheguei até aqui para "arregar" agora.

Pergunto para ele se ele quer morrer. Pergunto se ele mataria um homem se soubesse que sua mulher, é possuída quatro vezes por semana em sua própria cama. Pergunto se ele já imaginou a sensação de cair de boca na vagina de sua esposa, sem saber que horas antes ela estava cheia do esperma de outro homem. Ele não reponde. Posso ouvir um homem chorando agora. Ele chora, com o rosto ensangüentado virado para o chão. A terra do monte entra em sua boca enquanto ele respira pesadamente.

Vou matar este homem. Vou morrer aqui por dentro, mas cumprirei a missão que eu mesmo me dei. Nunca pensei que fosse tão pavoroso ter a vida de uma pessoa bem no final do cano de uma arma. Quero gritar. Quero entender o porque disso tudo, mas não grito. Olho para o céu e ele hoje está todo pontilhado com estrelas. Nunca vi um céu tão lindo. Nada me acalma, e a tremedeira, causada pela raiva, voltou.

Ele se levante e tenta virar para mim, mas eu o impeço com uma coronhada bem no nariz. O sangue jorra como um chafariz. Ele grita por misericórdia a Deus. Promete que nunca mais vai sequer olhar para outra mulher que não a dele. O Sol desponta no horizonte, já são quase cinco da manhã. Mando que ele aprecie o nascer do Sol, pois será seu último.

Ele agora está chorando como uma criança.

Eu não vou mais fazer isso, eu juro! Por favor, não me mate, eu tenho dois filhos cara!

Eu sei que você nunca mais vai fazer isso, agora eu confio em você. Mando que ele se ajoelhe de frente para mim. Olho bem dentro de seus olhos e vejo um homem apavorado, totalmente inseguro, desesperado, bem diferente daquele cara que pregava sermões moralistas enquanto traçava a mulher de um de seus membros da igreja.

Olho para o Sol mais uma vez. A arma está apontada bem entre os olhos do homem adúltero. Por um momento posso sentir a presença de Deus ao meu lado, em forma de calor, em forma de luz, mas sei que não é Ele...então, num momento de estúpida lucidez...
Puxo o gatilho.

Edson Moura

sábado, 2 de outubro de 2010

As colunas (parte III)

 Ao aproximarem-se da maior e mais poderosa de todas as colunas, Logomeu e Psiquemom estagnaram atônitos. Era magnífica...imponente...soberana sobre toda e qualquer coluna que eles já tinham visto. Entreolharam-se e por um momento Logomeu detectou medo nos olhos brilhantes de Psiquemom. Ele (Logomeu) não culpava Psiquemom por ter este tipo de sentimento, afinal de contas, muitos já haviam chegado até ali mas o que restara dos bravos guerreiros era apenas um amontoados de ossos aos pés da coluna que nem sequer fora arranhada pelas investidas dos desconstrutores que por ali se aventuraram.

Precisamos destruí-la amigo! Disse Logomeu.

Esta coluna tem atraído nossos irmãos por milênios. Povos de todo o mundo são capturados pela crença de que esta coluna deu origem ao nosso mundo e a todos os outros mundos que existem na vastidão do universo. Nós “sabemos” que isso não é verdade...ou melhor, sabemos que não existem provas de que isso seja verdade. Não precisamos temer aqueles que nos apedrejam por tentarmos acabar com a ilusão de que a origem se deu desta forma. Não podemos recuar agora. Vamos em frente!

Mas Psiquemom, por ser mais cauteloso que Logomeu, achou por bem, não investir contra a ela. Psiquemom dizia que não tinha certeza de que estavam certos. Dizia que tanto existia a possibilidade de tudo ter origem num só lugar...num só ser, como também poderia ser verdadeira a teoria de que o homem, assim como todas as espécies do planeta teriam surgido espontaneamente de uma evolução lenta e exponencial.

O temor de Psiquemom não era de ser punido pelo senhor daquela coluna, mas sim, os efeitos que poderiam causar aos fiéis seguidores da mesma. Muitos alienadunianos haviam se apoiado nesta crença para que suas vidas ganhassem um significado. Muitos haviam saído do fundo do poço e hoje gozavam de uma felicidade que jamais o existencialismo logomeuniano poderia proporcionar-lhes. Seria irresponsabilidade, ou como dizia Psiquemom, burrice, afirmar que a coluna era uma construção humana e não que o homem era uma construção da coluna.

Eu continuarei a caminhada Logomeu! Disse Psiquemom.

Você optou por ficar e lutar, mas eu apenas continuarei a caminhar, buscarei respostas mais adiante pois depois de tantos anos caminhando lado a lado, tudo que consegui foram mais perguntas. E cada dia que passa as perguntas tornam-se mais difíceis. Sei que não vou convencê-lo a seguir comigo, também sei que você jamais trairia suas convicções, pois, como você mesmo diz: “não é saudável para um alienaduniano, ir contra sua consciência”. Você saiu de uma caverna que era a crença cega na coluna, mas agora, entrou em uma nova caverna que é o ceticismo radical. Eu porém, prefiro não entrar com você nesta caverna. Vou continuar caminhando e quem sabe um dia encontrarei respostas para minhas indagações?

E Logomeu chorou. Chorou como nunca antes havia chorado. Ele entendia que o amigo precisava de mais tempo para pensar, e sabia também que desta vez ele não poderia influenciá-lo. Uma coisa era certa: Ambos haviam experimentado a fé na coluna durante anos, e justamente por este motivo, os dois tinham o total direito de falar que a coluna não existia...que era uma farsa...que fora inventada pelo próprio homem para confortá-lo das mesmas inquietações que afligiam Psiquemom agora. Na incerteza de uma vida sem sentidos, a melhor coisa a fazer é não tirar aquilo que, de certa forma, dá sentido à vida de muitos.

Psiquemom partiu. E quando já estava distante da coluna em que Logomeu ficara, olhou para trás. Viu o amigo investindo contra a coluna com toda sua força. O suor lhe corria ao rosto, as mãos sangravam pelas arremetidas contra a gigantesca coluna, as armas que trouxera para a batalha, já estavam despedaçadas. A luta era desleal. Logomeu era uma formiga diante da pilastra da fé alienaduniana.

Sentiu vontade de voltar e lutar com o amigo, mas Psiquemom também sabia que não podia fazer isso. Logomeu, assim como ele, também precisava de um tempo sozinho. Precisava domar a fera que existia dentro de si, para só então entender que a coluna que ele tenta desesperadamente derrubar a golpes de mão...nem sequer irá arranhar...

Edson Moura