Ao redor de uma fogueira, milhares de anos atrás, no tempo ocioso que separava o fim das tarefas diárias da hora de repousar, os nossos antepassados começaram a contar histórias. Com elas, tentavam encontrar respostas para as coisas que não compreendiam. O por quê de existir o Sol, a Lua e as estrelas que surgem e somem no céu. Quem comandava os raios e tempestades? O que acontece depois que morremos? Como tudo isso ao meu redor foi criado? E o mais inquietante: “Por que estou aqui?”
A base da mitologia é o esforço permanente e contínuo de entender o mundo e o próprio homem. Histórias maravilhosas passaram de geração à geração e, à medida que foram contadas e re-contadas, tornaram-se mais magníficas, ganharam também mais personagens e variantes. Explicações para fenômenos físicos adquiriram uma dimensão sublime.
Não existe nenhum grupo cultural ou étnico na Terra que não associe a origem do universo (mundo), dos seres humanos, da fauna e da flora, dos acidentes geográficos a uma força superior, “sobre-humana”. Deuses e heróis convivem com a humanidade desde a aurora de nossa espécie. E essas histórias, que não têm autores, ainda continuam a nos encantar.
Os mitos afiavam o pensamento abstrato, estavam presentes e alimentavam o cotidiano do homem. Por que fazer um ritual de sepultamento ao invés de abandonar o corpo para os animais comerem? Na Espanha, homens primitivos pintavam suas caçadas nas cavernas. Na África, estatuetas representavam mulheres de nádegas e seios fartos.
Para muitos arqueólogos e antropólogos, as pinturas evocavam o sagrado em busca de melhor sorte e proteção na próxima caçada. A estatueta é o símbolo da “Mãe Terra”, uma deusa da fertilidade e, para muitas culturas, a força motriz que deu origem ao mundo.
Povos de todo o planeta forjam seus heróis e deuses de acordo com aquilo que têm à mão. Os nórdicos do norte da Europa achavam que o mundo começara no embate, em um grande campo de gelo, entre o “calor” e o “frio”. Para os gregos, os deuses viviam em uma montanha, assim como para os indianos.
Os habitantes do oeste da África imaginavam que a origem do mundo era um grande “ovo cósmico” (assim como os chineses). O homem pré colombiano nascera do milho, já em outras culturas ele veio da argila, do barro, da madeira, ou do sopro divino. Em muitas das crenças, fora difícil chegar à humanidade, e os deuses criavam e destruíam vários protótipos. Ao mesmo tempo, os personagens mitológicos lidam com sentimentos humanos como: a raiva, a vergonha, o ciúme, a culpa. (sejam deuses, sejam heróis ou mortais).
Não foi por acaso que a psicologia e a psicanálise foram buscar em histórias ancestrais, os exemplos para suas hipóteses. O suíço Carl Gustav Jung defendia a existência do “Inconsciente Coletivo” (uma grande herança de imagens e símbolos que cada um de nós carrega, tal como um DNA). O próprio Freud (Fróid) usou o mito de Édipo como motivo em seus textos. Aliás, não podemos nos esquecer, que as relações incestuosas são abundantes na mitologia e a destruição do pai pelo filho, um tema recorrente.
A relação com os deuses em geral é bem complicada para nós humanos. Eles são seres superiores que ajudam os homens, lhes dão a luz do Sol, conhecimento e sabedoria. Mas também têm uma cólera divina, exemplificadas nas histórias de dilúvios e inundações da África, Oriente Médio, nas Américas, no sul e leste da Ásia e na Europa. Punições aos homens são freqüentes , e muitas delas projetam o fim dos tempos, das narrativas Astecas às indianas, cada uma à sua maneira...
Edson Moura
Fontes: "Dicionário Oxford de Mitologia Celta"
"Psicologia Analítica de Jung"
"Os Mitos antigos e o homem moderno"
"O Homem e seus símbolos, editora nova fronteira"
"Dicionário do Folclore Brasileiro"
"História del mundo Antiguo, Susan Wise Bauer"
"Anatomia da civilização, 1992 Barry J. Kemp"
"Los sacerdotes en lo egito antiguo, 1998 Madrid Elisa Castel Ronda"
"Filme Tempos modernos de Chaplin 1936"