segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Vida, pelos olhos da Morte


Por Noreda Somu Tossan

Enxergar as coisas exatamente como elas são, pode ser uma tarefa muito difícil, mas em contra partida, pode trazer incríveis recompensas para aquelas que insistem em desconfiar de tudo que é muito agradável aos olhos, que vivem o lema: “Quando a esmola é demais, o santo desconfia". A morte é um terror para bilhões de seres humanos, mas para outros, nada mais é, do que o encerramento de um estado que é inexoravelmente transitório, onde não há temor, e aguardá-la pode não ser um comportamento pessimista e mórbido.

Schopenhauer, como sua filosofia “pessimista", muito contribuiu para que a humanidade vivesse melhor. Posso citar a exortação que ele faz ao destemor  da morte, ou, ao valor dela frente à vida sofrida e miserável  que muitos levam. Mais que o fechamento de um ciclo, a morte é o fim do sofrimento, ou seja, o retorno ao descanso, ao silêncio, à quietude. Assim como outrora descansávamos em uma sepultura que era o útero materno, descansaremos novamente, desta vez, no útero desta terra que nos acolheu e nos deu nossa porção de experiências .

Dizer para valorizar a morte, pode soar estranho, muitos podem entender que estou dizendo para desvalorizar a vida, mas também pode-se encontrar um novo significado para quem se considera um “lutador” nesta vida que, desde a primeira inspiração de oxigênio, não se mostrou nada fácil.
A vida, para grande maioria dos seres humanos, é literalmente uma luta, e tratar a morte, não como uma derrota ou um final sem glória e vergonhoso, e sim como o retorno ao silêncio da própria existência, é comparável à promessa Bíblica de um lugar de paz e tranqüilidade, onde não haverá mais dor, ou até mesmo à perspectiva budista de se alcançar o nirvana.

Schopenhauer dizia que: “Trabalho, aflição, necessidade e esforço, constituem a sorte da maioria das pessoas durante toda sua existência”, mas também afirma logo depois, algo que eleva a dignidade humana. “Para uma tal espécie, nenhum outro palco se presta, nenhuma outra  a existência”.
O próprio cristianismo é uma escancarada  "filosofia do pessimismo". O poder através do qual o cristianismo conseguiu vencer, primeiro o Judaísmo, e logo em seguida o paganismo de Roma e da Grécia, está unicamente em seu pessimismo, na declaração de que nossa condição é excessivamente deplorável e pecaminosa, enquanto o Judaísmo e o Paganismo eram otimistas.

É possível encontrar com facilidade, passagens bíblicas que nos levam a considerações deste tipo, mas olhando por outro ângulo, apresentam a morte como uma valorização da vida. Vale salientar que, nos lábios do filósofo Jesus, essas asseverações em favor da morte, ganham ares de inspiradora fé no significado da própria vida. Ex: “Aquele que tentar salvar sua vida, perdê-la-á. Aquele que perdê-la por minha causa, reencontrá-la-á”.

Na boca de Buda não foi diferente: “Olhai ao vosso redor e contemplai a vida. Tudo é passageiro e nada duradouro. Só nascimento e morte, crescimento e decadência, combinação e dissolução”. Também Epicuro disse após examinar detalhadamente a existência: “A morte não dos concerne, pois quando somos, ela não é, e quando ela é, já não somos ”.

Será que a filosofia chamada de pessimista, realmente não tem utilidade nos dias de hoje?  Será que devemos rejeitar um remédio só porque seu gosto é um pouco amargo? E ignorarmos que na existência há males muito mais amargos que este remédio, não seria uma opção alienante?

Edson Moura (baseado em estudo sobre a filosofia de Schopenhauer)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Eu sou você no futuro!


Por Noreda Somu Tossan

Gente! Cansei! Não quero mais falar de Deus! Deus não pode ser questionado. Deus jamais descerá ao nível do homem para provar que existe, portanto, vamos falar de outra coisa...sei lá, qualquer coisa.

Brincadeirinha, vamos falar do cara sim, pois assim ele ficará com raivinha de nós e quem sabe não nos aparecerá ou enviará um espírito destruidor para nos punir? (risos) 

Um dia no ano de 2062, perguntei para um velhinho passante, se ele tinha fé em algo, tipo...na ciência. Ele me fitou e disse: “A verdade não tem que ser aceita com fé. Fé é para os fracos! Eu até que creio na ciência, pois ela nos dá fatos, e contra fatos, muitas vezes não existem argumentos.

Taí, gostei desse cara. Mas quando achei que ele já tinha concluído seu raciocínio, ele bradou bem alto:

“A fé pode ser chamada de "falência intelectual". Se o único modo de você aceitar uma afirmação é tendo fé, então você está reconhecendo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos”.

Enfiei o rabinho entre as pernas e "sartei de banda", pois o cara era da pesada. Como sou muito chato, e o método que adotei para descobrir as “verdades” é o “socrático”, perguntei para ele se Jesus não fez o que dizem que fez para que nós fôssemos salvos. Ele nem sequer pensou para responder essa, foi logo vomitando: 

Velhinho:  Digamos que a redenção cristã se baseie em dois conceitos principais: “o sofrimento do indivíduo cancela o pecado do mesmo” e “o inocente (Jesus) pode cumprir a pena em lugar do culpado (nós)”. Fazer o inocente pagar pelo pecador, ainda por cima com um sofrimento improdutivo, não seria apenas um ato de vingança contra a pessoa errada e só faz juntar um mal a outro mal? 

Calei por um momento e respondi: Sim pode ser, mas o que dizer das bilhões de pessoas que acreditam que Jesus salva? Não seria presunção minha e sua, achar que nós estamos certos e elas erradas? 

O velhinho de cabelos brancos não me perdoou, deu-me outra cassetada: “ Mesmo que  5 bilhões de pessoas acreditem numa coisa que é estúpida, essa coisa continuará sendo estúpida”.

Eu: Então o inferno não existe? E nós ateus não iremos para lá? Por que o senhor é um ateu?

Velhinho: A Bíblia nos diz que Jesus foi sacrificado para nos redimir de nossos pecados e nos salvar do fogo eterno. A Bíblia também nos diz que se não acreditarmos nisto queimaremos no fogo eterno. Não é um pouco paradoxal essa afirmação? Meu jovem, eu posso dizer, sem medo de estar errado, que todos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que os crentes. Quando eles entenderem  porque é que rejeitam todos os outros deuses possíveis, entenderão porque é que eu rejeito o deus deles.

Eu: Mas o senso comum religioso nos diz que temos que aceitar os mistérios de Deus, e que no tempo certo tudo será revelado. A verdade deve ser aguardada. Dizem que eu faço perguntas demais. O que o senhor me diz sobre essa afirmação? 

Velhinho: Ora, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não (fé em Deus sem questionamentos), desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro (pode ter sido roubado), desde que ele esteja na nossa mão.

Eu: Um amigo meu, chamado “capitão”, me disse uma vez que ser ateu é uma forma de crença. Ele não está meio certo? Outro amigo chamado “prodígio”, acredita que Deus protegeu Moisés e que ainda protege sua igreja até hoje. Como faço pra provar que ele está falando besteiras?

Velhinho: Não! O “capitão”  está totalmente errado! Onde já se viu?! Dizer que ateísmo é uma crença é o mesmo que dizer que careca é uma cor de cabelo. E para o prodígio, pergunte para ele se a “assembléia de Deus” onde ele congrega lá em Campinas tem para-raios no telhado. Se tiver, é por falta de confiança em Deus. (risos do velhinho). E mais, devemos sempre questionar essa lógica que afirma um Deus onipotente e onisciente, que criou um homem falível e o culpa por seus defeitos.

Eu: Então essa história de que Deus me ama e quer o meu melhor, não passa de papo furado? Eu não vou para o paraíso morar com Deus? O cristianismo nos garante o céu! (risinhos sarcásticos)

Velhinho: O cristianismo nos afirma que há um ser invisível, que vive no céu e micro-gerencia nossa vida, está atento a tudo que fazemos, o tempo todo. O ser invisível tem uma lista de 10 coisas (mandamentos) que ele quer que a gente cumpra. Se você infringir qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar super especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você sim! (risinhos também sarcásticos do velhinho)

Eu: Opa! Peraí, o senhor, mesmo com esses cabelos brancos, não tem autoridade para falar essas coisas. 

Velhinho: Eu tenho tanta autoridade quanto o Papa. Eu só não tenho tantas pessoas que acreditam nisso.

Eu: Então o senhor é a favor da separação entre Igreja e Estado? Nossa moral não está arraigada à Igreja? E essa herança religiosa não nos fez uma sociedade melhor, mais amorosa e justa?

Velhinho: Por favor, não seja tolo! Eu sou completamente a favor da separação da Igreja e do Estado. Minha idéia é que essas duas instituições nos fodem o suficiente individualmente, portanto, ambas juntas é a morte certa.
Eu: Será que algum dia conseguiremos fazer com que um crente deixe de acreditar e se torne um ateu como nós? O mundo seria mais amoroso se todos fôssemos crentes? Paulo e Jesus disseram que devemos amar uns aos outros assim como amamos ao nosso Deus. A fé não é uma “prova”, segundo Paulo?

Velhinho: Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar. Como disse o ateu Friedrich Nietzsche: “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. Eles (os crentes) dizem que acreditam na necessidade da religião… Mas eles não são sinceros! Eles acreditam mesmo é na necessidade da polícia! Amor ao “nosso” Deus? Por favor, não há no mundo amor e bondade bastante para que ainda possamos dá-los a seres imaginários. Uma visita ao hospício mostrará a você que a fé não prova nada.

Eu: O senhor não aprova nenhuma religião? Algumas proporcionam uma felicidade, mesmo que ilusória. Isso não é bom para ajudar-nos a encarar a vida dura? Pessoas são felizes em seus mundinhos!

Velhinho: Não importa o quão feliz me deixe, se não é verdadeiro, se não é real, muito obrigado. É assim que penso quanto aos deuses e mitos de todas as religiões
.
Eu: A religião parece ter um ponto fraco. O senhor poderia me dizer qual seria ele?

Velhinho: Não vou criar nada, apenas vou repetir o que Epicuro disse: Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja? Então é malevolente. Se é capaz e deseja? Então por que o mal existe? Se não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Meu jovem, Se a ciência já mostrou que a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?

Eu: Para encerrar esta nossa proveitosa conversa, o que seria necessário para acabar com a fé de um crente?

Velhinho: É simples: Basta Deus existir!  Pois, se Deus existisse, a fé se tornaria desnecessária e todas as religiões entrariam em colapso.A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amém. Como já disse, a fé é a falência intelectual. Se o único modo de você aceitar uma afirmação é pela fé, então você está admitindo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos
.
Muito obrigado por seu tempo, não vou mais aporrinhá-lo com minhas perguntas. Mas antes que fosse, gostaria de saber seu nome.

Velhinho: Meu nome é Edson Moura, mas todos me conhecem por Noreda.


domingo, 19 de dezembro de 2010

O fanatismo (segundo Voltaire)


Por Noreda Somu Tossan

Fanatismo é para a superstição o que o delírio é para a febre, o que é a raiva para a cólera. Aquele que tem êxtases, visões, que considera os sonhos como realidades e as imaginações como profecias é um entusiasta. Mas, aquele que alimenta a sua loucura com a morte é um fanático. 

João Diaz, retirado em Nuremberg, firmemente convencido de que o papa é o Anticristo do Apocalipse e que tem o signo da besta, não era mais que um entusiasta.

Já Bartolomeu Diaz, que partiu de Roma para ir assassinar santamente o seu irmão e que efetivamente o matou pelo amor a Deus, foi um dos mais abomináveis fanáticos que em todos os tempos pôde produzir a superstição.

Polieuto, que vai ao templo num dia de solenidade derrubar a destruir as estátuas e os ornamentos, é um fanático menos horrível do que Diaz, mas não menos tolo. Os assassinos do duque Francisco de Guise, de Guilherme, príncipe de Orange, do rei Henrique III, do rei Henrique IV e de tantos outros foram energúmenos enfermos da mesma raiva de Diaz.

O mais detestável exemplo de fanatismo é aquele dos burgueses de Paris que correram a assassinar, degolar, atirar pelas janelas, despedaçar, na noite de São Bartolomeu, seus concidadãos que não iam à missa.      
Há também os fanáticos de sangue frio: são os juízes que condenam à morte aqueles cujo único crime é não pensar como eles. E esses juízes são tão mais culpados...tão mais merecedores da execração do gênero humano, quanto, um homem tomado de um acesso de furor como os assassinos que não podem ouvir a vós da razão.

Quando uma vez o fanatismo gangrenou um cérebro a doença é quase incurável. Eu vi convulsionários que, falando dos milagres de S. Páris, sem querer, se acaloravam cada vez mais, seus olhos encarniçavam-se, seus membros tremiam, o furor desfigurava seus rostos e teriam matado quem quer que os houvesse contrariado.

 Não há outro remédio contra essa doença epidêmica senão o espírito filosófico que, progressivamente difundido, adoça enfim a índole dos homens, prevenindo os acessos do mal porque, desde que o mal fez alguns progressos, é preciso fugir e esperar que o ar seja purificado. As leis e a religião não bastam contra a peste das “almas”. A religião, longe de ser para elas um alimento salutar, transforma-se em veneno nos cérebros infeccionados. Esses miseráveis têm incessantemente presente no “espírito” o exemplo de Aode, que assassina o rei Eglão...de Judite, que corta a cabeça de Holoferne quando deitada com ele... de Samuel, que corta em pedaços o rei Agague. Eles não vêem que esses exemplos respeitáveis para a antigüidade são abomináveis na época atual; eles haurem seus furores da mesma religião que os condena.

As leis são ainda muito impotentes contra tais acessos de raiva. Essa gente está persuadida de que o “espírito santo” que os penetra está acima das leis e que o seu entusiasmo é a única lei a que devem obedecer.

O que responder a um homem que vos diz que prefere obedecer a Deus a obedecer aos homens e que, conseqüentemente, está certo de merecer o céu se vos degolar?

De ordinário, são os velhacos que conduzem os fanáticos e que lhes põem o punhal nas mãos: assemelham-se a esse Velho da Montanha que fazia – segundo se diz – imbecis gozarem as alegrias do paraíso e que lhes prometia uma eternidade desses prazeres que lhes havia feito provar com a condição de assassinarem todos aqueles que ele lhes apontasse.

Só houve uma religião no mundo que não foi abalada pelo fanatismo, é a dos letrados da China. As seitas dos filósofos estavam não somente isentas dessa peste como constituíam o remédio para ela: pois o efeito da filosofia é tornar a alma tranqüila e o fanatismo é incompatível com a tranqüilidade. Se a nossa “santa” religião tem sido freqüentemente corrompida por esse furor infernal, é à loucura humana que se deve culpar.

Edson Moura (extraído do Dicionário Filosófico de Voltaire)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

“Eu sou você no futuro”


Por: Edson Moura

Gente! Cansei! Não quero mais falar de Deus! Deus não pode ser questionado. Deus jamais descerá ao nível do homem para provar que existe, portanto, vamos falar de outra coisa...sei lá, qualquer coisa.

Brincadeirinha, vamos falar do cara sim, pois assim ele ficará com raivinha de nós e quem sabe não nos aparecerá ou enviará um espírito destruidor para nos punir? (risos) 

Um dia no ano de 2062, perguntei para um velhinho passante, se ele tinha fé em algo, tipo...na ciência. Ele me fitou e disse: “A verdade não tem que ser aceita com fé. Fé é para os fracos! Eu até que creio na ciência, pois ela nos dá fatos, e contra fatos, muitas vezes não existem argumentos.

Taí, gostei desse cara. Mas quando achei que ele já tinha concluído seu raciocínio, ele bradou bem alto:

“A fé pode ser chamada de "falência intelectual". Se o único modo de você aceitar uma afirmação é tendo fé, então você está reconhecendo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos”.

Enfiei o rabinho entre as pernas e "sartei de banda", pois o cara era da pesada. Como sou muito chato, e o método que adotei para descobrir as “verdades” é o “socrático”, perguntei para ele se Jesus não fez o que dizem que fez para que nós fôssemos salvos. Ele nem sequer pensou para responder essa, foi logo vomitando: 

Velhinho:  Digamos que a redenção cristã se baseie em dois conceitos principais: “o sofrimento do indivíduo cancela o pecado do mesmo” e “o inocente (Jesus) pode cumprir a pena em lugar do culpado (nós)”. Fazer o inocente pagar pelo pecador, ainda por cima com um sofrimento improdutivo, não seria apenas um ato de vingança contra a pessoa errada e só faz juntar um mal a outro mal? 

Calei por um momento e respondi: Sim pode ser, mas o que dizer das bilhões de pessoas que acreditam que Jesus salva? Não seria presunção minha e sua, achar que nós estamos certos e elas erradas? 

O velhinho de cabelos brancos não me perdoou, deu-me outra cacetada: “ Mesmo que  5 bilhões de pessoas acreditem numa coisa que é estúpida, essa coisa continuará sendo estúpida”.

Eu: Então o inferno não existe? E nós ateus não iremos para lá? Por que o senhor é um ateu?

Velhinho: A Bíblia nos diz que Jesus foi sacrificado para nos redimir de nossos pecados e nos salvar do fogo eterno. A Bíblia também nos diz que se não acreditarmos nisto queimaremos no fogo eterno. Não é um pouco paradoxal essa afirmação? Meu jovem, eu posso dizer, sem medo de estar errado, que todos somos ateus. Apenas acredito num deus a menos que os crentes. Quando eles entenderem  porque é que rejeitam todos os outros deuses possíveis, entenderão porque é que eu rejeito o deus deles.

Eu: Mas o senso comum religioso nos diz que temos que aceitar os mistérios de Deus, e que no tempo certo tudo será revelado. A verdade deve ser aguardada. Dizem que eu faço perguntas demais. O que o senhor me diz sobre essa afirmação? 

Velhinho: Ora, é tão condenável não querer saber se uma coisa é verdade ou não (fé em Deus sem questionamentos), desde que ela nos dê prazer, quanto não querer saber como conseguimos o dinheiro (pode ter sido roubado), desde que ele esteja na nossa mão.

Eu: Um amigo meu, chamado “capitão”, me disse uma vez que ser ateu é uma forma de crença. Ele não está meio certo? Outro amigo chamado “prodígio”, acredita que Deus protegeu Moisés e que ainda protege sua igreja até hoje. Como faço pra provar que ele está falando besteiras?

Velhinho: Não! O “capitão”  está totalmente errado! Onde já se viu?! Dizer que ateísmo é uma crença é o mesmo que dizer que careca é uma cor de cabelo. E para o prodígio, pergunte para ele se a “assembléia de Deus” onde ele congrega lá em Campinas tem para-raios no telhado. Se tiver, é por falta de confiança em Deus. (risos do velhinho). E mais, devemos sempre questionar essa lógica que afirma um Deus onipotente e onisciente, que criou um homem falível e o culpa por seus defeitos.

Eu: Então essa história de que Deus me ama e quer o meu melhor, não passa de papo furado? Eu não vou para o paraíso morar com Deus? O cristianismo nos garante o céu! (risinhos sarcásticos)

Velhinho: O cristianismo nos afirma que há um ser invisível, que vive no céu e micro-gerencia nossa vida, está atento a tudo que fazemos, o tempo todo. O ser invisível tem uma lista de 10 coisas (mandamentos) que ele quer que a gente cumpra. Se você infringir qualquer uma dessas coisas, o homem invisível tem um lugar super especial, cheio de fogo, fumaça, sofrimento, tortura e angústia onde ele vai lhe mandar viver, queimando, sofrendo, sufocando, gritando e chorando para todo o sempre. Mas ele ama você sim! (risinhos também sarcásticos do velhinho)

Eu: Opa! Peraí, o senhor, mesmo com esses cabelos brancos, não tem autoridade para falar essas coisas. 

Velhinho: Eu tenho tanta autoridade quanto o Papa. Eu só não tenho tantas pessoas que acreditam nisso.

Eu: Então o senhor é a favor da separação entre Igreja e Estado? Nossa moral não está arraigada à Igreja? E essa herança religiosa não nos fez uma sociedade melhor, mais amorosa e justa?

Velhinho: Por favor, não seja tolo! Eu sou completamente a favor da separação da Igreja e do Estado. Minha idéia é que essas duas instituições nos fodem o suficiente individualmente, portanto, ambas juntas é a morte certa.
Eu: Será que algum dia conseguiremos fazer com que um crente deixe de acreditar e se torne um ateu como nós? O mundo seria mais amoroso se todos fôssemos crentes? Paulo e Jesus disseram que devemos amar uns aos outros assim como amamos ao nosso Deus. A fé não é uma “prova”, segundo Paulo?

Velhinho: Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências… Baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar. Como disse o ateu Friedrich Nietzsche: “Fé” significa não querer saber o que é a verdade. Eles (os crentes) dizem que acreditam na necessidade da religião… Mas eles não são sinceros! Eles acreditam mesmo é na necessidade da polícia! Amor ao “nosso” Deus? Por favor, não há no mundo amor e bondade bastante para que ainda possamos dá-los a seres imaginários. Uma visita ao hospício mostrará a você que a fé não prova nada.

Eu: O senhor não aprova nenhuma religião? Algumas proporcionam uma felicidade, mesmo que ilusória. Isso não é bom para ajudar-nos a encarar a vida dura? Pessoas são felizes em seus mundinhos!

Velhinho: Não importa o quão feliz me deixe, se não é verdadeiro, se não é real, muito obrigado. É assim que penso quanto aos deuses e mitos de todas as religiões
.
Eu: A religião parece ter um ponto fraco. O senhor poderia me dizer qual seria ele?

Velhinho: Não vou criar nada, apenas vou repetir o que Epicuro disse: Se Deus deseja impedir o mal, mas não é capaz? Então não é onipotente. Se é capaz, mas não deseja? Então é malevolente. Se é capaz e deseja? Então por que o mal existe? Se não é capaz e nem deseja? Então por que lhe chamamos Deus? Meu jovem, Se a ciência já mostrou que a bíblia está errada ao nos dizer de onde viemos, como podemos confiar nela ao dizer para onde iremos?

Eu: Para encerrar esta nossa proveitosa conversa, o que seria necessário para acabar com a fé de um crente?

Velhinho: É simples: Basta Deus existir!  Pois, se Deus existisse, a fé se tornaria desnecessária e todas as religiões entrariam em colapso. A verdade não tem que ser aceita com fé. Os cientistas não seguram suas mãos todo Domingo, cantando, “Sim a gravidade é real! Eu vou ter fé! Eu vou ser forte! Amém. Como já disse, a fé é a falência intelectual. Se o único modo de você aceitar uma afirmação é pela fé, então você está admitindo que ela não pode ser aceita por seus próprios méritos
.
Muito obrigado por seu tempo, não vou mais aporrinhá-lo com minhas perguntas. Mas antes que fosse, gostaria de saber seu nome.

Velhinho: Meu nome é Edson Moura, mas todos me conhecem por Noreda.

Edson Moura

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sou ateu sim...e daí?

                              
Por Noreda Somu Tossan

Já dizia o sábio filosofo alemão, nacionalizado suíço, de bigode engraçado e língua afiada: "Para mim o ateísmo não é nem uma conseqüência, nem mesmo um fato novo... existe comigo por instinto”. Duas , das muitas religiões que as pessoas criaram para viver melhor, têm discrepâncias que não se pode deixar passar despercebido. O Budismo não nos promete nada, mas nos assegura muita coisa, já o Cristianismo nos promete mundos e fundos, mas não cumpriu nada nesses quase dois mil anos.

 Quando deixamos de olhar a existência hoje e focamos a vida do homem no além , ou seja, no nada, acabamos por tirar da vida a sua beleza intrínseca que é justamente a incerteza do amanhã. Para se crer no além, necessário é que se cometa o suicídio intelectual, pois diante de tanta sujeira, tal atitude se torna essencial. O cristianismo está sendo, até agora a maior desgraça da humanidade, uma vez que ele nos pede (manda) desprezar o corpo e valorizar a espiritualidade, que nada mais é do que o sonho utópico de se alcançar os portões de um céu que não existe de fato, onde encontraremos um Deus que jaz num caixão lacrado e mantido sempre à distância dos curiosos.

Qual o papel da fé nesta história sórdida? Não será outro senão, forçosamente querer que se ignore tudo aquilo que é verdade, mesmo sabendo que as ilusões são por demais fantasiosas para serem aceitas como verdadeiras ou sequer plausíveis.

O que vejo hoje são homens e mulheres de vasto conhecimento, mas sem um pingo de coragem, pois como também asseverou o bigodudo, “Até os mais corajosos raramente têm a coragem para aquilo que realmente sabem.”...e preferem esconder-se atrás de uma falsa crença de que nada sabem e por isso não podem afirmar nada também. (que pena que tenho destes)

Minha crítica, assim como a dele, é contra o idealismo metafísico e suas várias categorias, além dos valores morais que estão atrelados a ele, pois, sendo originados no mundo metafísico, não podem dar diretrizes ao mundo físico. Qual a origem dos valores? Serão eles deixados em uma pedra por Deus? É claro que não! Os valores são moldados e re-moldados por homens que não se deixam levar por contos inconcebíveis, desses que só fazem com que crianças parem de urinar na cama, mas com adultos é preciso uma nova abordagem, mais...digamos...verdadeira.

É preciso começar a desmascarar  os muitos conceitos pré-formados e as ilusões que o gênero humano criou para se defender da realidade nua e crua. Quem tem coragem de olhar sem medo, para além daquilo que fôra obscurecido pelos “valores universais”...questionar as pequenas-grandes verdades, duvidar que por trás dos ideais que moldaram o caráter da civilização atual existem desejos nocivos que foram incutidos por pessoas manipuladoras e demasiado inteligentes? 

Duvidar da moral tradicional que a religião e a política nos fez o des-favor de apresentar, não é tarefa fácil, mas as máscaras precisam ser retiradas, pois elas escondem a realidade ameaçadora...nauseante... inquietante, mas ainda assim, realidade. Difícil de encará-la? Claro que é! Mas é dela que abstrairemos a visão plena do que é a vida do homem. Uma visão autêntica da vida.
"Não posso viver uma ilusão da realidade humana".

Onde estão essas máscaras? Quais são elas? 

Contemplem um espelho e verão! 

Mas tomem muito cuidado:

 Ao retirá-las estarão expondo o ser humano da forma mais verdadeira possível e pode-se desencadear uma seqüência de explosões de forças desordenadas, algumas vezes belicosas, caracterizando a incerteza e o perigo de se ser humano de verdade.

Edson Moura

sábado, 4 de dezembro de 2010

“Deus não ouve Rap”



Deus, olhai o meu povo...da periferia
É tanta gente triste nessa cidade,
É tanta desigualdade...desse outro lado da cidade,
Mas eu tenho fé, eu tenho fé eu acredito em Deus
Olhai por esses filhos teus.

Senhor!...Oh pai senhor, olhai o meu povo sofrido...da periferia
Ah!olhando pro meu povo vejo a tristeza
Estampada em cada rosto que perdeu a beleza
A vida é embaçada pra quem está no veneno
Uma mãe vendo os seus filhos com fome...sofrendo.

Os mais ricos do mundo só fazem investimentos,
Diversão pra “boyzinhos”, pra coisa ruim e armamentos
Quanto ao meu povo investimento é zero
 O dia-a-dia não é fácil, o dia-a-dia não é belo.

Vários moleques na rua, sem endereço, drogado
Mendigo, gente sofredora, também largado
Se arrastando e com vontade de viver
Muita gente dá de frente, finge que não vê.

De que adianta vida boa e ter tudo da hora
Se o povo está no veneno, meu Deus e agora?
Eu peço ao senhor que de paz e alegria
Cuide de nós... O povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Ah! O povo é mal cuidado, ignorado, esquecido
Os ricos querem mais é ver meu povo fodido
Exploram nossa vida, roubam nosso dinheiro
Eu vejo o povo no veneno, entrando em desespero.

Irmão na ira, sem paz espiritual, se armando
Roubando, se arriscando, porque tá precisando
Apanhando na vida, passando fome, que injustiça
E quando roda, toma coro todo dia da policia.

E a cada dia o crime vai crescendo,
Essa vida deixa o povo revoltado e violento
A pobreza...a miséria, todo dia cresce
Que porra é essa? Meu povo não merece

Um dia, quem só fode a gente, vai se foder
Eles obrigam o meu povo a não ter paz para viver
Que Deus proteja os irmãos que agora estão na correria
Que deus proteja o povo da periferia.
Deus! Olhai o meu povo...da periferia.

Este é um rap escrito por Ndee Naldinho, e retrata uma realidade ainda existente na periferia de muitas cidades onde as favelas enfeitam a selva de pedra. Há  nove anos ouvi esta música pela primeira vez, e hoje, quando o ano de 2010 já está terminando, vejo que nada mudou.

Será que a força da palavra deste “Raper” não é tão forte assim? Será que o povo merece a vida que leva, por ser tão estúpido, e não perceber que o poder emana das massas? Será que a miséria é um mal necessário para se manter o equilíbrio social?
Não...não! A verdade é que Deus é um sádico e adora observar o povo se fodendo.

Desista Naldinho! Deus não houve Rap!

Edson Moura

domingo, 28 de novembro de 2010

"A esperança de se viver mais um pouco"




O que é a Vida? Seria ela um sonho?
Acredite! A vida não é um sonho.
Não este sonho tenebroso que os intelectuais dizem.

Corriqueiramente um amanhecer chuvoso, abre caminho para um pôr de Sol belíssimo
Outras vezes são nuvens sombrias que circundam o céu.
Mas logo se dissipam e dão lugar a um azul inconfundível.

Mesmo sendo feias, as nuvens negras trazem as chuvas...
Que alimentam as rosas e fazem o jardim sorrir
Não se pode lamentar este acontecimento.

Rapidamente, e sem pausa em momentos de dor,
As horas escassas da vida vão passando sem nos dar tempo para arquitetarmos um plano
Então sorrio, enquanto aproveito os primeiros momentos do resto da minha vida.

E quando subitamente a morte bate à minha porta
Quando a sensação de felicidade escapa por entre os dedos como areia fina
Quando a dor invade o meu ser, e reconheço a fragilidade de uma  efêmera existência
A esperança se vê engolida...derrotada e dominada pelo medo.

Mesmo nesses momentos de angustia, a esperança há de ressurgir
Pois ela se vê indestrutível, imortal, amiga dos fracos,
Olha bem no fundo dos meus olhos e me mostra sua beleza
Que é suficientemente forte para me trazer de volta à realidade.

Ela se mostra corajosa, ousada, pois luta contra todas as evidências de uma vida trágica
Sem medo de nada...
Enfrenta as dúvidas que minha cabeça animal insiste em levantar
E me pergunta:

O que é a Vida? Seria ela um sonho?
Acredite! A vida não é um sonho.
Não este sonho tenebroso que os intelectuais dizem.

Porque o desespero, a angústia e a náusea, sempre serão vencidos pela esperança de viver mais alguns instantes esta vida tão maravilhosa.

Edson Moura

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ainda é cedo


O nada que preenche o vazio na minha cabeça
decompõe as crenças de infância inchando minha visão.
O coração arde vermelho no nada totalmente branco
e continua sendo um vazio totalmente cheio de nada.

Meu pensamento é esculpido em pedra sabão
desejando crer numa seqüência para a eternidade.
O tempo se encarrega de mostrar que eu não falhei
e que ainda é muito cedo para compreender a origem do novo.

Deus está morto ...

Trancafiado numa floresta de ilusão milenar
brotam idéias semeadas na escuridão da uma mente ainda jovem.
Pensamentos tentam à todo momento ultrapassar o meu crânio
 ainda é cedo para entender as coisas que os velhos já se esqueceram.

Deus está morto...

Minha mente procura a luz em meio às lágrimas
O tremular do fogo que em minha garganta habita
queima permanentemente sem consumir minha tenra carne
e ainda não é tarde para expulsar a voz que clama por liberdade

Deus está morto ..

Meu cérebro parece um calabouço para fugitivos capturados
onde um pequeno golpe pode paralisar-me para sempre.
Por isso, do meu silêncio...grito silenciosamente
e ainda é não satisfaço o desejo de gritar alto.

Deus está morto...

Se em mim houvesse alma, ela tocaria os relâmpagos nas nuvens...
e inerte cairia na areia branca de uma praia qualquer...doce...sangrando.
Extirpando minha vontade de viver no espaço de um tempo
e ainda seria cedo para que o esclarecimento total me abraçasse.

Deus está morto ..

Ele caiu num abismo de palavras cegas...
e me disse para que não fosse ao seu funeral.
Os mortos não freqüentam cemitérios...somente os vivos
Pois ao chegar lá, certamente encontraria um caixão vazio...
cheio do nada que preencheu a vida de todos até aqui .

Deus está morto?



domingo, 31 de outubro de 2010

"A vingança" parte II

...e num momennto de esdtúpida lucidez...puxei o gatilho.

 Puxei o gatilho e fiquei ali parado ouvindo o estampido do tiro ecoar pela manhã que parecia me recriminar pela minha atitude. Enquanto a fumaça da pólvora se dissipava e misturava-se com a neblina eu observava trêmulo, o corpo do homem caído ao chão. Minhas mãos sentiam o calor gerado pelo disparo, e aos poucos o cano da arma ia esfriando, enquanto eu tomava consciência do meu ato.

O Sol agora brilhava com mais intensidade, como se as ondas de calor que ele projetasse em minha direção fossem uma forma de me dizer se eu realmente estava satisfeito com meu trabalho. Uma lágrima correu pelo meu rosto, e a certeza de que aquele crápula que ficou estendido ao chão nunca mais cometeria adultério, me perseguiu pela mata enquanto eu corria em direção ao meu carro.

O sangue que escorrera de seu nariz já estava seco agora. Aos poucos ele recobrou a consciência e levantou-se meio atordoado, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Fez uma rápida verificação para ver se encontrava o buraco causado pelo projétil... mas não encontrou nada. Foi então que olhou para uma árvore à sua frente e viu a marca da bala. 

Ele não atirou em mim! Ele não atirou em mim! Meu Deus, mesmo vendo o ódio estampado em seu rosto, e tendo a chance de acabar com a minha vida sem que ninguém soubesse, ele não atirou em mim! Por quê?

Eu chego em casa e desabo em minha cama. Uma história passa por minha cabeça enquanto eu tento pegar no sono. Fiz bem meu trabalho. Com certeza ele aprendeu a lição. Isto ficou claro ao ver como ele mijou nas calças enquanto eu apontava o revólver bem no meio de seus olhos. O susto foi tanto que ele até desmaiou... eu ri neste momento.

Ninguém tem o direito de tirar uma vida, isso eu aprendi como o meu mestre. O amor incondicional, a longanimidade, a mansidão, a temperança do Galileu nunca saíram de meu coração. Embora eu não acredite em muitas das estórias que me contaram sobre aquele “profeta”, eu jamais poderia negar que tudo que ele fez e a forma como lidou com a vida...e com a própria morte, são um exemplo para as gerações que virão.

Tenho certeza que aquele homem vai pensar mil vezes agora, antes de dar um passo errado. O bilhete que deixei em seu bolso contém as ordens para o próximo passo da minha vingança. Ele terá que cumprir tudo que eu deixei escrito. A primeira coisa a fazer é abdicar do cargo de pastor depois de uma confissão pública de seus atos. Em seguida terá que pedir perdão aos membros de sua igreja por tê-los enganado por tanto tempo. 

Eu deixo bem claro que estarei vigiando-o, e se ele não completar sua missão... não terei tanta piedade da próxima vez que nos encontrarmos pela madrugada. Finalmente o sono que há muito tempo havia rompido relações comigo, chegou... vou descansar um pouco agora,deitar minha cabeça no travesseiro, sem remorso, sem culpa, sem arrependimento afinal de contas...

A noite foi de matar!

Edson Moura

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Deus não existe!

.

Por Noreda Somu Tossan

Procure entender o pensamento de um existencialista ateu. Ele tenta dizer que Deus não existe e que existe apenas um ser cuja existência precede a essência, a saber...o homem. Como diria Dostoievsk: “Se Deus não existisse tudo seria permitido”. O homem “abandonado” e “sozinho” no mundo, sem um criador no qual possa se amparar é o seu próprio criador.

O homem é o que é. Ele se constrói a partir do nada e por isso vive de angústias, de náuseas, como diria Sartre. “Tentando ser”, o homem depara-se com o desejo de ser Deus e com a angústia de jamais poder sê-lo. A idéia de Deus para o homem é de onipotência e onisciência, e o desejo de sê-lo representa ser e compreender tudo, não sofrer limites e condicionamentos, realizar-se em todos os sentidos possíveis.

Mas Deus não resolve nada. Esta é a base de todo ateísmo sartreano. Ele julgava que Deus não ajudava ou colaborava com as realizações ou problemas humanos, porque toda e qualquer experiência que o homem realiza, seja ela boa ou má, quer o leve ao prazer...à angústia ou até mesmo à náusea, é de sua inteira responsabilidade. O homem é só e, como tal, é responsável por tudo o que fizer, pois o nada de onde vem o persegue por toda a “eternidade”.

Em determinado momento da minha vida eu tive a necessidade de Deus, ele me foi dado, e eu o recebi sem compreender na verdade o que procurava. Mas este Deus por não ter raízes em meu coração, vegetou em mim durante um período de tempo...mas logo morreu.

Posso comparar “fé” com “necessidade”, pois na minha concepção, são termos similares. O homem sente a necessidade de encontrar um sentido para vida, pois, nascido sem razão ou com um propósito pré-determinado, descobre-se como angústia. Essa necessidade se reflete na crença.

Ter fé em Deus é o mesmo que alienar-se diante de sua própria liberdade. O absurdo do mundo é absoluto devido a sua constante possibilidade. Tudo é gratuito. A vida humana não possui sentido e, para superar esta faceta da existência, o homem inventa Deus. Entretanto, cabe ao homem dar sentido a sua própria vida.

Ora, acreditar que a vida humana tem um sentido dado por Deus, não passa de uma grande ilusão. A única coisa que a vida dá ao homem é a sua liberdade de poder escolher fazer dela o que bem quiser. Se Deus não existe, cabe ao homem decidir, sozinho, o melhor caminho para suas escolhas, que conseqüentemente determinarão sua vida e sua essência.

Também critico o conceito de Deus que é propagado, pois o descrevem como uma entidade inteligível, mas que não pode ser compreendida. A única prova que temos da existência de Deus é a fé, e isso eu também critico. Pelo menos uma evidência, deveria ser critério fundamental de inteligibilidade, mas como não há provas ou evidências, acredito ser impossível aceitar a existência de Deus.

O conceito de Deus criado pelo homem une todos os desejos que o homem deseja para si. O que o homem chama de Deus, nada mais é do que a sua aspiração, o seu próprio projeto supremo de vida, todas as idéias que o homem deseja para si e que sabe que jamais conquistará, porque por mais livre e capaz que seja, ele possui limites impostos pela natureza.

A religião, assim como a superstição, anula a liberdade humana. O povo, sob o comando de Deus, é servil e escravo...sem vontade e amedrontado. Para que de fato o homem possa “viver”, Deus precisa desaparecer. “Se Deus existe, o homem é um nada, mas se o homem existe...então...Deus não existe”.

Se o homem se considera livre, e pretende manter essa sua liberdade, ele deve escapar e se distanciar de Deus. O homem deve escolher a si mesmo e, conseqüentemente, amar a humanidade em oposição ao amor de Deus. Se Deus não existe não há imposição de valores, não há firmamento nem moral por fundamento. Cabe ao home “re-significar” a ética a cada instante, “re-significar” cada valor sem refugiar-se em justificativas ou desculpas, pois está sozinho no mundo junto com outros seres tão mortais quanto ele.

O homem só desenvolve uma relação consigo mesmo quando elimina Deus de sua vida, pois passa a ter uma relação direta com o mundo, e não com “algo transcendental”. É como disse Fauerbach: “Deus não cria o homem, é o homem que cria Deus”. A fé religiosa representa as próprias qualidades e aspirações do homem que, ao sentir-se fracassado, aliena-se e constrói uma divindade superior.

Noreda Somu Tossan

“A fé e as mortes que ele causou” Parte I

Por Noreda Somu Tossan

 Depois de vários adiamentos, finalmente dou início à seqüência de postagens onde, de forma bem resumida, faço relatos sobre acontecimentos que marcaram nossa história, e que tem a “fé” como eixo para seu desencadeamento. Espero que, no decorrer dos comentários, possam ser esclarecidos alguns pontos que ficaram obscuros, devido a necessidade de sintetizar ao máximo o texto, para quer não ficasse cansativo aos leitores. Este é apenas o primeiro de uma série de artigos meticulosamente preparados para trazer aos que não tiveram a oportunidade de conhecer, o “terror em nome de Deus”. Boa leitura!

 

Não pode se dizer que o Holocausto, tido entre os maiores genocídios contínuos da história, tenha sido motivado unicamente por questões religiosas, uma vez que o objetivo final de Adolf Hitler era a conquista do mundo em nome de uma raça ariana. No entanto, ao mesmo tempo em que os nazistas diziam estar servindo a Deus ao eliminar os Judeus, eles também estavam ligados a uma série de procedimentos pagãos, de cunho religioso e esotérico. Por outro lado, a perseguição aos judeus não foi exclusividade dos nazistas. Durante séculos, eles sofreram perseguições principalmente da igreja Católica, que por muito tempo afirmaram que os judeus eram responsáveis pela morte de Jesus, aliás, um judeu.

Alguns episódios da história servem de exemplo, como as Cruzadas e a Inquisição. Antes do início da Segunda Guerra Mundial, o anti-semitismo era muito forte no Ocidente. Em minha opinião, o holocausto demonstrou os resultados “demoníacos” que residem em nossa tradição de pregações e ensinamentos anti-semitas. Desta forma o anti-judaísmo cristão promoveu a causa nazista de várias maneiras. Ele levou os nazistas a focarem suas ações inicialmente nos judeus, e criou atitudes que permitiram que eles executassem seu programa de extermínio enfrentando pouca resistência.

Lamentavelmente a desastrosa doutrina católica preparou o caminho para Hitler e sua “solução definitiva”. Em grego o termo “Holocausto” significa uma oferenda feita em sacrifício. Foi usado no século XX para designar o extermínio sistemático, realizado pelos nazistas, de diversos grupos considerados indesejáveis, entre eles Judeus, homossexuais, comunistas, ciganos e deficientes. O número exato de mortes durante o holocausto é desconhecido. Estima-se que aproximadamente seis milhões de judeus tenham sido assassinados.

O Holocausto distingue-se dos outros genocídios da história pelo método sistemático empregado pelos nazistas. Ele foi levado a cabo em todas as regiões ocupadas pelos Alemães. Os meios usados para o assassinato em massa foram diversos, e, com o passar do tempo, foram sendo “aprimorados”, com um número crescente de vítimas. Além de execuções, os nazistas realizaram experiências médicas cruéis e bizarras em prisioneiros, incluindo crianças. Quando Hitler assumiu o poder, sua ideologia racista passou a ser empregada, defendendo a existência de apenas uma raça superior, a saber, a ariana. As demais raças eram consideradas inferiores e responsáveis pela perturbação da sociedade. Eles deveriam ser destruídas ou servir à raça superior. Foi dessa forma que teve início a perseguição aos judeus, negros, ciganos, homossexuais, doentes mentais e terminais.

Quando os judeus que eram capturados pelos nazistas, chegavam aos campos de concentração, eram separados em filas de mulheres, crianças e homens. Havia então a separação dos mais fracos, que eram encaminhados para a câmara de gás disfarçadas de chuveiros coletivos. Os prisioneiros se despiam imaginando que iam tomar banho, mas eram fulminados pelo gás mortal e, depois, enviados para o crematório. Dentes de ouro eram retirados e algumas vezes a própria pele era usada em candeeiros. Os cabelos das mulheres eram raspados antes delas entrarem nas câmaras de gás, e reciclados para confecção de produtos como tapetes e meias.

Mas você pode estar se perguntado:

O que o Edson quer dizer com isso que está escrevendo?

Na verdade, eu é quem faço algumas perguntas:

Onde estava é igreja neste momento da história? Onde estava a fé? Onde estava Deus? Em que a fé dos Judeus os ajudou? E mais:

Não foi uma fé cega que motivou o “Führer” a cometer esta barbárie? Por que o Papa Pio XII silenciou-se nesse momento? Será que lá no fundo, ele não estaria batendo palmas para o führer? De todas as hipóteses, a mais provável é que o papa Pio XII, ao escolher o silêncio no que dizia respeito ao extermínio judeu pelos nazistas, estaria apenas comportando-se como um estadista e não como um líder religioso.
"Parabéns para ele!"

Por Edson Moura

"Vamos descansar" (postado em: outroevangelho.blogspot.com)

Mais uma vez, deixo de lado algumas postagens que já estão prontas, para abordar um tema que, num primeiro momento parece não ter muito à ver com o perfil desta sala. Mas no final deste artigo, traçarei um paralelo entre o tema do escrito e a raiz do “outro evangelho”.

Há um bom tempo eu venho aplicando muito esforço em um ideal, que é absorver ao máximo tudo quanto puder em matéria de conhecimento. Percebi, já há bastante tempo, que nessa minha busca desenfreada por sabedoria, eu estava perdendo muitas noites de sono e não conseguia atingir meu objetivo. Foi quando vi um comentários de um amigo...já no finalzinho da noite, dizendo que precisava dormir, pois dormir faz bem à saúde. Procurei então, refletir sobre o assunto e acabei por escrever esta postagem.

Dormir é fundamental para manter a capacidade  mnêmica (link para constatação do significado) em dia. É durante o sono que as memórias são cultivadas: enquanto algumas vingam, outras se perdem. A construção da memória depende muito desse período em que o cérebro tece a trama da subjetividade e nos dá respostas aos problemas que nos afligem durante o dia.

Ao contrário do que eu pensava e do que a maioria pensa, o cérebro não descansa durante o sono...mas encontra-se em total atividade. É nessas horas que as informações coletadas durante o dia são processadas...selecionadas...gravadas e finalmente transformadas em memória permanente.

Dentre as várias funções do sono, o processamento da memória parece ser a única que exige do organismo estar realmente adormecido. Economizar horas de sono prejudica a cognição. Alguns aspectos da consolidação da memória só são acionados quando dormimos mais de seis horas ininterruptas. Quando se passa uma noite em claro, as memórias daquele dia ficam, por assim dizer, comprometidas.

Mas o que isso tem à ver com o “outro evangelho”, e com aquilo que aqui é falado? Tudo ora! Afinal de contas, nós desta sala, lutamos para que as pessoas tenham uma vida mais despreocupada...aproveitando os momentos ao máximo...brincando com os filhos...e por que não dizer: Dormindo!

Chega de vigílias em busca de Deus! Chega de noites de sono, subindo montes para buscar poder do céu! Devemos relaxar e aproveitar o pouco que nos resta das vinte e quatro horas do dia, para repousar o esqueleto, e se tivermos que subir o monte...que seja o “monte de cobertores”.
Edson Moura

Texto inspirado em comentário de Eduardo Medeiros no Blog:
 http://cpfg.blogspot.com/2010/06/sobre-nossos-demonios-

sábado, 16 de outubro de 2010

”A vingança”


Por Noreda Somu Tossan

Embora o desfecho desta história que lhes conto seja fictício, devo deixar claro que o teor do conto é verdadeiro e acontece ainda hoje bem perto de mim. A intenção minha é apenas deixar patente aos leitores que sentimentos de ira e de justiça que passam a todos os momentos por nossas cabeças, mas cabe a nós controlarmos o ímpeto vingativo e acalmar o nossos “corações” para não tornarmo-nos justiceiros insensíveis.

Resumindo ao máximo, começo a esclarecendo os motivos que levaram o Noreda a praticar tal ato. Durante cerca de dois meses ele observou atentamente o comportamento daquela mulher e daquele homem. O marido – um jovem de apenas 22 anos – saía bem cedo para trabalhar. Era quando o pastor chegava à casa do membro de sua igreja, para foder sua mulher durante horas.

Podia ver pela janela quando eles terminavam de transar e riam da total incapacidade do jovem corno em perceber que sua mulher gostava muito mais de sexo do que ele poderia oferecer. Ela dizia que a culpa era dele mesmo, pois ele preferia ir para a igreja ensaiar com a banda do que ficar em casa e dar conta do recado.

Certa vez, o pastor fez uma visita na casa com o pretexto de fazer uma campanha de oração por ali...só os três. Ao terminarem o marido foi tomar banho enquanto a mulher – jovem 19 anos – foi passar um cafezinho. Não deu outra. Eles meteram ali na sala mesmo. Rolou até sexo anal. Enfim, tudo isso irritou muito ao Noreda e o levou a tomar uma atitude radical.

Depois de abordar o pastor numa esquina escura e desmaiá-lo com um golpe na cabeça com o cabo do revólver, jogo-o dentro de um porta-malas e levo-o até o monte onde muitas vezes ele traçou a mulher do membro. Ele está sangrando muito, não me preocupei nem em averiguar se ele estava morto. Arranco-o com brutalidade de dentro do carro e começo a socar sua cara. Então ele acorda, sem entender nada ele me pede que leve o que quiser mas não o mate.

Não quero nada que você possua, eu digo.

Você vai morrer hoje cara! Está preparado para isso? Vou livrar o mundo de uma desgraça...uma doença que é você. Você sabe por que estou fazendo isto, não sabe? Você é um enganador, você fere um mandamento divino que é o de não cobiçar a mulher do próximo. Vou matá-lo, mas antes vou fazê-lo sofrer. Quero que tenha tempo para se arrepender.

Minha vós treme e a arma parece pegar fogo em minha mão. O aço do revólver parece ter se fundido à minha pele. A sensação é ruim e boa ao mesmo tempo. Um filme passa em câmera lenta em minha cabeça. Perguntas do tipo: “que direito eu tenho de fazer isso?” ou “o que faz de mim um cara melhor do que ele?”. Não importa, eu vou matá-lo, não cheguei até aqui para arregar agora.

Pergunto para ele se ele quer morrer. Pergunto se ele mataria um homem se soubesse que sua mulher, é possuída quatro vezes por semana em sua própria cama. Pergunto se ele já imaginou a sensação de cair de boca na vagina de sua esposa, sem saber que horas antes ela estava cheia do esperma de outro homem. Ele não reponde. Posso ouvir um homem chorando agora. Ele chora, com o rosto ensangüentado virado para o chão, a terra do monte entra em sua boca enquanto ele respira pesadamente.

Vou matar este homem. Vou morrer aqui por dentro, mas cumprirei a missão que eu mesmo me dei. Nunca pensei que fosse tão pavoroso ter a vida de uma pessoa bem no final do cano de uma arma. Quero gritar. Quero entender o porquê disso tudo, mas não grito. Olho para o céu e ele hoje está todo pontilhado com estrelas. Nunca vi um céu tão lindo. Nada me acalma, e a tremedeira, causada pela raiva, voltou.

Ele se levante e tenta virar para mim, mas eu o impeço com uma coronhada bem no nariz. O sangue jorra como um chafariz. Ele grita por misericórdia a Deus. Promete que nunca mais vai sequer olhar para outra mulher que não a dele. O Sol desponta no horizonte, já são quase cinco da manhã. Mando que ele aprecie o nasce r do Sol, pois será seu último.

Ele agora está chorando como uma criança. Eu não vou mais fazer isso, eu juro! Por favor, não me mate, eu tenho dois filhos cara!

Eu sei que você nunca mais vai fazer isso, agora eu confio em você. Mando que ele se ajoelhe de frente para mim. Olho bem dentro de seus olhos e vejo um homem apavorado, totalmente inseguro, desesperado, bem diferente daquele cara que pregava sermões moralistas enquanto traçava a mulher de um de seus membros da igreja.

Olho para o Sol mais uma vez. A arma está apontada bem entre os lhos do homem adúltero. Por um momento posso sentir a presença de Deus ao meu lado, em forma de calor, em forma de luz, mas sei que não é Ele...então, num momento de estúpidaa lucidez...

Puxo o gatilho.

Edson Moura

A vingança

Embora o desfecho desta história que lhes conto seja fictício, devo deixar claro que o teor do conto é verdadeiro e acontece ainda hoje bem perto de mim. A minha intenção  é apenas deixar patente aos leitores que, sentimentos de ira e de justiça  passam a todo o momento por nossas cabeças, mas cabe a nós controlarmos o ímpeto vingativo e acalmar os nossos “corações” para não tornarmo-nos justiceiros insensíveis.

Resumindo ao máximo, começo a esclarecendo os motivos que levaram o Noreda a praticar tal ato. Durante cerca de dois meses ele observou atentamente o comportamento daquela mulher e daquele homem. O marido – um jovem de apenas 22 anos – saía bem cedo para trabalhar. Era quando o pastor chegava à casa do membro de sua igreja, para foder sua mulher durante horas.

Podia ver pela janela quando eles terminavam de transar e riam da total incapacidade do jovem corno, em perceber que sua mulher gostava muito mais de sexo do que ele poderia oferecer. Ela dizia que a culpa era dele mesmo, pois ele preferia ir para a igreja ensaiar com a banda do que ficar em casa e dar conta do recado.

Certa vez o pastor fez uma visita na casa com o pretexto de fazer uma campanha de oração por ali...só os três. Ao terminarem, o marido foi tomar banho enquanto a mulher – jovem 19 anos – foi passar um cafezinho. Não deu outra. Eles meteram ali na sala mesmo. Rolou até sexo anal. Enfim, tudo isso irritou muito ao Noreda e o levou a tomar uma atitude radical.

Depois de abordar o pastor numa esquina escura e desmaiá-lo com um golpe na cabeça com o cabo do revólver, jogo-o dentro de um porta-malas e levou-o até o monte onde muitas vezes ele traçou a mulher do membro. Ele está sangrando muito, não me preocupei nem em averiguar se ele estava morto. Arranco-o com brutalidade de dentro do carro e começo a socar sua cara. Então ele acorda, sem entender nada ele me pede que leve o que quiser mas não o mate.

Não quero nada que você possua. Eu digo.

Você vai morrer hoje cara! Está preparado para isso? Vou livrar o mundo de uma desgraça...uma doença que é você. Você sabe porque estou fazendo isto, não sabe? Você é um enganador, você fere um mandamento divino que é o de não cobiçar a mulher do próximo. Vou matá-lo, mas antes vou fazê-lo sofrer. Quero que tenha tempo para se arrepender.

Minha vós treme e a arma parece pegar fogo em minha mão. O aço do revólver parece ter se fundido à minha pele. A sensação é ruim e boa ao mesmo tempo. Um filme passa em câmera lenta em minha cabeça. Perguntas do tipo: “que direito eu tenho de fazer isso?” ou “o que faz de mim um cara melhor do que ele?”. Não importa, eu vou matá-lo, não cheguei até aqui para "arregar" agora.

Pergunto para ele se ele quer morrer. Pergunto se ele mataria um homem se soubesse que sua mulher, é possuída quatro vezes por semana em sua própria cama. Pergunto se ele já imaginou a sensação de cair de boca na vagina de sua esposa, sem saber que horas antes ela estava cheia do esperma de outro homem. Ele não reponde. Posso ouvir um homem chorando agora. Ele chora, com o rosto ensangüentado virado para o chão. A terra do monte entra em sua boca enquanto ele respira pesadamente.

Vou matar este homem. Vou morrer aqui por dentro, mas cumprirei a missão que eu mesmo me dei. Nunca pensei que fosse tão pavoroso ter a vida de uma pessoa bem no final do cano de uma arma. Quero gritar. Quero entender o porque disso tudo, mas não grito. Olho para o céu e ele hoje está todo pontilhado com estrelas. Nunca vi um céu tão lindo. Nada me acalma, e a tremedeira, causada pela raiva, voltou.

Ele se levante e tenta virar para mim, mas eu o impeço com uma coronhada bem no nariz. O sangue jorra como um chafariz. Ele grita por misericórdia a Deus. Promete que nunca mais vai sequer olhar para outra mulher que não a dele. O Sol desponta no horizonte, já são quase cinco da manhã. Mando que ele aprecie o nascer do Sol, pois será seu último.

Ele agora está chorando como uma criança.

Eu não vou mais fazer isso, eu juro! Por favor, não me mate, eu tenho dois filhos cara!

Eu sei que você nunca mais vai fazer isso, agora eu confio em você. Mando que ele se ajoelhe de frente para mim. Olho bem dentro de seus olhos e vejo um homem apavorado, totalmente inseguro, desesperado, bem diferente daquele cara que pregava sermões moralistas enquanto traçava a mulher de um de seus membros da igreja.

Olho para o Sol mais uma vez. A arma está apontada bem entre os olhos do homem adúltero. Por um momento posso sentir a presença de Deus ao meu lado, em forma de calor, em forma de luz, mas sei que não é Ele...então, num momento de estúpida lucidez...
Puxo o gatilho.

Edson Moura

sábado, 2 de outubro de 2010

As colunas (parte III)

 Ao aproximarem-se da maior e mais poderosa de todas as colunas, Logomeu e Psiquemom estagnaram atônitos. Era magnífica...imponente...soberana sobre toda e qualquer coluna que eles já tinham visto. Entreolharam-se e por um momento Logomeu detectou medo nos olhos brilhantes de Psiquemom. Ele (Logomeu) não culpava Psiquemom por ter este tipo de sentimento, afinal de contas, muitos já haviam chegado até ali mas o que restara dos bravos guerreiros era apenas um amontoados de ossos aos pés da coluna que nem sequer fora arranhada pelas investidas dos desconstrutores que por ali se aventuraram.

Precisamos destruí-la amigo! Disse Logomeu.

Esta coluna tem atraído nossos irmãos por milênios. Povos de todo o mundo são capturados pela crença de que esta coluna deu origem ao nosso mundo e a todos os outros mundos que existem na vastidão do universo. Nós “sabemos” que isso não é verdade...ou melhor, sabemos que não existem provas de que isso seja verdade. Não precisamos temer aqueles que nos apedrejam por tentarmos acabar com a ilusão de que a origem se deu desta forma. Não podemos recuar agora. Vamos em frente!

Mas Psiquemom, por ser mais cauteloso que Logomeu, achou por bem, não investir contra a ela. Psiquemom dizia que não tinha certeza de que estavam certos. Dizia que tanto existia a possibilidade de tudo ter origem num só lugar...num só ser, como também poderia ser verdadeira a teoria de que o homem, assim como todas as espécies do planeta teriam surgido espontaneamente de uma evolução lenta e exponencial.

O temor de Psiquemom não era de ser punido pelo senhor daquela coluna, mas sim, os efeitos que poderiam causar aos fiéis seguidores da mesma. Muitos alienadunianos haviam se apoiado nesta crença para que suas vidas ganhassem um significado. Muitos haviam saído do fundo do poço e hoje gozavam de uma felicidade que jamais o existencialismo logomeuniano poderia proporcionar-lhes. Seria irresponsabilidade, ou como dizia Psiquemom, burrice, afirmar que a coluna era uma construção humana e não que o homem era uma construção da coluna.

Eu continuarei a caminhada Logomeu! Disse Psiquemom.

Você optou por ficar e lutar, mas eu apenas continuarei a caminhar, buscarei respostas mais adiante pois depois de tantos anos caminhando lado a lado, tudo que consegui foram mais perguntas. E cada dia que passa as perguntas tornam-se mais difíceis. Sei que não vou convencê-lo a seguir comigo, também sei que você jamais trairia suas convicções, pois, como você mesmo diz: “não é saudável para um alienaduniano, ir contra sua consciência”. Você saiu de uma caverna que era a crença cega na coluna, mas agora, entrou em uma nova caverna que é o ceticismo radical. Eu porém, prefiro não entrar com você nesta caverna. Vou continuar caminhando e quem sabe um dia encontrarei respostas para minhas indagações?

E Logomeu chorou. Chorou como nunca antes havia chorado. Ele entendia que o amigo precisava de mais tempo para pensar, e sabia também que desta vez ele não poderia influenciá-lo. Uma coisa era certa: Ambos haviam experimentado a fé na coluna durante anos, e justamente por este motivo, os dois tinham o total direito de falar que a coluna não existia...que era uma farsa...que fora inventada pelo próprio homem para confortá-lo das mesmas inquietações que afligiam Psiquemom agora. Na incerteza de uma vida sem sentidos, a melhor coisa a fazer é não tirar aquilo que, de certa forma, dá sentido à vida de muitos.

Psiquemom partiu. E quando já estava distante da coluna em que Logomeu ficara, olhou para trás. Viu o amigo investindo contra a coluna com toda sua força. O suor lhe corria ao rosto, as mãos sangravam pelas arremetidas contra a gigantesca coluna, as armas que trouxera para a batalha, já estavam despedaçadas. A luta era desleal. Logomeu era uma formiga diante da pilastra da fé alienaduniana.

Sentiu vontade de voltar e lutar com o amigo, mas Psiquemom também sabia que não podia fazer isso. Logomeu, assim como ele, também precisava de um tempo sozinho. Precisava domar a fera que existia dentro de si, para só então entender que a coluna que ele tenta desesperadamente derrubar a golpes de mão...nem sequer irá arranhar...

Edson Moura