sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

“Estar ou não Estar...eis a questão”

Por Edson Moura

Todos estão acostumados com a célebre frase: “Ser ou não Ser, eis a questão” recitada por Hamlet em sua tragédia. William Shakespeare, sem dúvida alguma, acabou por imortalizar uma das mais conhecidas falas da literatura mundial. Mas hoje, em pleno século XXI, poucos de nós sequer imaginam que não “somos” e sim “estamos” algo.

Sem querer massacrar a gramática, o que deveríamos perguntar às pessoas que se apresentam a nós, não é: “Quem é você?”. E sim: “Quem está você?” Explico:

A expressão “ser alguém” carrega consigo uma idéia de permanência que, na língua portuguesa, pode ser corrigida para “estar alguém” como uma perspectiva temporal, bem mais aceitável quando analisamos o comportamento do indivíduo.

As experiências que passamos no nosso cotidiano nos desafiam a nos reorganizarmos constantemente, seja reafirmando nossos valores, ou modificando-os completamente. A cada nova situação experimentada, somos colocados diante de desafios que nos transformam, trazendo à tona novas capacidades, medos, potencialidades e dificuldades que até então eram desconhecidas por nós.

Quando nos deparamos com algo novo, uma situação de pressão qualquer, o “ser” que éramos instantes atrás, pode suscitar atitudes completamente novas, tornando-nos um outro “eu”. É claro que esta atitude não representará uma ruptura total com o “ser” que éramos no passado, mas, modificará, muito ou pouco, o que passamos a ser daí para a frente.

Muitos imaginam que eventos traumáticos são os que mais colaboram para que uma pessoa mude de comportamento, mas não é bem assim, pelo contrário, os eventos cotidianos podem se mostrar muito mais reveladores do que os grandes acontecimentos. As mudanças traumáticas e repentinas com certeza podem ser percebidas com mais clareza dos que as alterações cotidianas, mas o fato de algo acontecer em escala reduzida, quase imperceptível, não o torna menos importante na complexa montagem de um ser humano.

Se hoje eu olhei com desejo uma garota que não passou dos 12 anos ainda, ou se eu não socorri uma pessoa acidentada, por estar mais preocupado com o meu horário de assistir ao Jornal Nacional, essa atitude, talvez inesperada por mim mesmo, esteja revelando que minha ética é diferente do que eu pensava até instantes atrás.

Essas transformações inerentes ao ser humano ficam mais fáceis de serem percebidas quando aumentamos o espaço de tempo. Ao compararmos nosso “eu” de agora, com o “eu” de 15 minutos atrás não nos é revelado uma grande mudança, embora já tenhamos mudado. Mas, quando comparamos o “eu” de hoje, com o “eu” de 15 anos atrás, as transformações tornam-se mais evidentes. Quais eram minhas crenças?... Minha perspectiva de vida?... Quais roupas eu considerava bonitas?...Com quais amigos que eu preferia conversar e etc...

Se nos encontrássemos com nós mesmos há 20 anos, sentiríamos orgulho, ou vergonha? Resumindo:

Hoje você é uma pessoa completamente diferente da pessoa que era há 20 anos, mas, ao mesmo tempo, carrega traços da pessoa que era no passado. Portanto, posso reescrever esta última frase. Ela ficaria assim:

Hoje você “está” uma pessoa completamente diferente da que “estava” há 20 anos, mas, ao mesmo tempo, carrega traços da pessoa que “estava” no passado. E lembre-se: “O mesmo homem jamais poderá banhar-se no mesmo mar”.

Edson Moura

13 comentários:

  1. Texto bem coerente, e que faz pensar realmente. Não é a mudança gramatical simplesmente, mas a mudança de conceitos.

    Eu prefiro o ser pelo fato de minhas mudanças serem mais sutis e graduais. Para mim combina mais com a ideia de "ele é uma criança", ou "ele é tão esperto". Mas, realmente, algumas pessoas sempre "estão" pessoas diferentes.

    Abraço

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  2. Sandro, obrigado pelo comentário. De fato, uma criança "é" uma criança, pois estamos falando de estado físico. Por Exemplo: Posso dizer que "sou"uma pessoa agora, e serei a mesma daqui a poucos minutos. No entando, a parte que mudará, não será a físiológica e sim a comportamental, sendo assim, continuarei "sendo" uma pessoa, mas não a mesma.

    Abração Sandro, gostei muito do seu comentário, ainda podemos levantar outro tema, sobre o que é ser alguém, que tal?

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  3. Olá Edsinho, voltou senhor filósofo, que bom.

    "Quando nos deparamos com algo novo, uma situação de pressão qualquer, o “ser” que éramos instantes atrás, pode suscitar atitudes completamente novas, tornando-nos um outro “eu”. É claro que esta atitude não representará uma ruptura total com o “ser” que éramos no passado, mas, modificará, muito ou pouco, o que passamos a ser daí para a frente."

    Ou será que vem à tona o que somos e não sabemos?

    "
    Muitos imaginam que eventos traumáticos são os que mais colaboram para que uma pessoa mude de comportamento, mas não é bem assim, pelo contrário, os eventos cotidianos podem se mostrar muito mais reveladores do que os grandes acontecimentos[...]"

    Concordo plenamente com você.

    Beijos.

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  4. Fala Edsonsinho, lindinho, gostosinho, viadinho, bebesinho tudo bem com você? Respeite meu descanso sabatico uahsuahsuahsua!

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  5. Gresder, vou respeitar seu descanso, afinal, sei que estás escrevendo um novo tratado sobre sexualidade, e, à medida que fores postando, irei comentando.

    Abraços mano!

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  6. Altamirando, ainda vou responder ao seu comentário, não pense que deixei de lado. Apenas preciso de um pouco mais de tempo para que minhas palavras não sejam superficiais. Sei que és um bom debatedor, e também sei que posso aprender muito com você.]

    Ps. Fiquei muito contente ao saber que agora és integrante da Confraria dos Pensadores fora da Gaiola. Seja bem vindo!

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  7. Eu estou em outra sempre, mas me sinto o moleque que eu fui um dia, me sinto o mesmo de dez anos atrás, de vinte anos atrás. Sou escravo absoluto do meus Ser, mesmo que este esteja em constate mudança.

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  8. Pois é Gresder, sempre podemos nos "sentir" os mesmos de 10 anos atrás, mas não estamos entende?

    "Sentir" é diferente de "estar", embora para sermos algo, precisemos sentirmo-nos algo.

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  9. Vou postar na Confraria sim Edu, só preciso saber quando é minha vez. Estou meio perdido no cronograma da Confraria mas não deixarei de escrever algo por lá.

    Abraços Edu!

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  10. Edson Moura, obrigado pela observação, mas não me superestime, sou só um curioso leitor. Bem!..
    O meme, apesar de mutante, não transmite características contidas no DNA.Como exemplo; as fisionômicas e/ou fisiológicas.
    Nós trazemos caracteristicas da personalidade de nossos pais e também de seus dons através do meme. A ciência já consegue provar que alguns transplantados herdam, através do órgão, algumas características sensitivas, como a musicalidade, do doador. Os bons ensinamentos são difíceis de serem transmitidos. É bom rever o critério de adoção, pois seu adotado pode ser filho de um pária. Não nascem borboletas em ninho de escorpião. A culpa é do meme. He,he,he...
    Abraços

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  11. Mais uma novidade pra mim Altamirando. Eu que pensava que os traços de personalidade sempre seriam transmitidos ou inseridos, unicamente pelos fatores ambientais. Exemplo de um casal homossexual que adota uma criança gerada de pais absolutamente héteros, os fatores ambientias como, convívio, educação no lar, comportamento dos pais, seriam o agente causador de uma futura homossexualidade, e não apenas o Meme.

    Ou no caso de uma menina, filha de uma prostituta com um cafetão, estaria ela condenada a carregar "maldição" que sua mãe deixou-lhe?

    Um sábio da antiguidade disse certa vez:

    "As uvas verdes que os pais comeram, jamais amargaram a boca de sua descendência".

    Abraços Altamirando.

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  12. Altamirands interessante você citar Sorbone, mas acredito (ou quero acreditar) que o ser tem uma chance de ser totalmente diferente, do que são seus pais, pois o inverso dessa situação nos é apresentado constatemente, ou seja, filhos de pessoas íntegras, inteligentes, notórias, geniais, que não herdaram de seus pais nem uma centelha das qualidades, como é o caso de Eduard Einstein, o filho do gênio que fora esquecido em um sanatório.

    Se o homem realmente estiver fadado a carregar os genes e os memes de seus genitores, podemos então dizer que não há esperança para a humanidade. Não posso aceitar a máxima popular "filho de peixe, peixinho é".

    Sorbone pode até não transformar em dama uma herdeira-memética de meretriz, mas sendo assim, Harvard também não pode tranformar o filho de um lenhador em filósofo.

    Abraços!

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  13. Em parte até que você tem razão, Edson Moura. A natureza humana sofre transformações indefectíveis. Existem paridades inexpugnáveis como a Sorbone e a filha da prostituta, Harvard e o filho do lenhador e a escola que transformou um vendedor de laranjinha morrente em presidente sem sair do analfabetismo. Nestes casos há exclusão do gene, meme e meio. He, he..
    Abraço.

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