domingo, 12 de setembro de 2010

Sua opinião é sua mesmo?


Quando lemos “A República de Platão” constatamos uma dura condensação ao sistema democrático ateniense. Ele constatou um problema que se eternizou por toda a história da democracia; a “doxa” como critério e seus efeitos perversos.

Este conceito grego (doxa), que hoje podemos traduzir por opinião, era utilizado como instrumentos pelos sofistas, inimigos da filosofia platônica. Através de um caloroso discurso que envolvia apelo emocional e uma retórica sem muitos fundamentos, esses sofistas controlavam a opinião pública. E quem forma a opinião, em uma democracia, controla a política. Essa forma de controle nem sempre é racional, por isso não tem comprometimento com a verdade, na visão dos filósofos gregos.

Jean-Jaques Rousseau, em carta ao filósofo D’Alembert, afirmou categoricamente que o homem moderno vive quase sempre alheio de si mesmo. Em sociedade, vivemos muitas vezes sob a ditadura invisível da opinião dos outros. Para o Rousseau, os nossos gostos para comida, roupa, religião e parceiros matrimoniais quase nunca levam em consideração o nosso mais profundo e verdadeiro afeto.

Na verdade, para o homem burguês civilizado, a verdade sobre si mesmo já não importa mais. A opinião pública é o que determina o que nós devemos gostar ou sentir. A aprovação dos outros é o parâmetro garantido do certo e do errado...e do que é bom ou ruim para nossas vidas. Por fim, ele afirma categoricamente que é a avaliação do outro, manifestada sob a forma de opinião pública, que define se nós realmente somos felizes.

Filósofos como Denis Diderot, em sua época, perceberam não só a importância da opinião pública para a vida pessoal, como também as conseqüências que a recém criação dos panfletos e dos jornais impressos teriam. Hoje, os meios de comunicação de massa, em especial a televisão, se tornaram provas incontestáveis do quase acerto de Diderot. Quase. O único detalhe, é que os meios de comunicação nunca se preocuparam em oferecer uma influência esclarecedora e virtuosa.

Como a mais importante formadora de opiniões do século XX, a mídia se aliou aos dominantes e ao discurso senso comum para poder sobreviver. Sua postura e sua linguagem foram essenciais para garantir índices de audiência e de lucro satisfatórios.

É preciso deixar claro que a opinião pública não é a somatória das opiniões individuais, como muitos meios de comunicação querem nos fazer crer. As estatísticas sobre a avaliação do governo, dos votos para presidente, das pessoas que gostam de chocolate, do consumo de gordura por habitante ou da satisfação com o matrimônio não revela em nada o que cada um realmente sente ou pensa. O que temos na verdade é ‘um punhado de gente que seria, em teoria, representantes de milhares de pessoas.

Fica então uma pergunta: Será que nossa opinião realmente é “nossa” opinião? Ou será que apenas seguimos aquilo que o senso comum nos diz que devemos fazer...ser...ou ter?

Edson Moura

3 comentários:

  1. A nossa vida é um bordado de muitas vidas.

    Foi só sermos expulsos da caverna uterina para dar início a nossa trajetória de seres influenciáveis.
    Quem nos livrará o corpo do vírus da Influência? (olhe, não é o vírus da Influenza - rsrsss).

    Sócrates influenciou Platão, que influenciou Aristóteles, que influenciou ... (e por aí vai)

    Na verdade, somos uma colcha de retalhos ou trapos, presenteada por nossos antecessores.

    Concordas, velho Noreda?

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  2. Leví, concordo plenamente contigo. Somos um aglomerado de idéias de outros. Mas o importante na verdade, é termos consciência disto.

    Não temos como fugir da influência, mas podemos saber qunado somos apenas vítimas dela.

    Abraços mestre.

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  3. Altamirando, de fato somos uma "heterose", mas heterose que se preze deve originar seres melhores que seus pais.

    Mas gostei muito da sua fala: "...nossa opinião só é nossa quando usada pela segunda vez..."

    Abraços.

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