quinta-feira, 8 de julho de 2010

“Tirem-me a Fé...então conhecerão o meu verdadeiro caráter”

Por Noreda Somu Tossan

O que é caráter?

Embora muitos não percebam, a palavra caráter é neutra, não tendo assim, conotação nem má, nem boa. Caráter é o termo que designa o aspecto da personalidade, responsável pela forma habitual e constante de agir peculiar a cada indivíduo, esta qualidade, é inerente somente à uma pessoa, pois é o conjunto dos traços particulares, o modo de ser dela, sua índole, sua natureza e temperamento. O conjunto das qualidades, boas ou más, de um indivíduo lhe determinam a conduta e a concepção moral, seu gênio, humor, temperamento, este, sendo resultado de progressiva adaptação constitucional do sujeito às condições ambientais, familiares, pedagógicas e sociais.

Muitas pessoas podem criticar este texto após lê-lo até o final, mas gostaria que cada um dos que se dispuserem a fazê-lo, usassem o senso crítico para, com um mínimo de honestidade, refletirem sobre o tema. Faço afirmações graves sobre o ser humano, e sei que com isso, acabo por “apontar o dedo” e acusar, mas não o faria se não tivesse um mínimo de experiência pessoal, para compartilhar de minhas idéias com o leitor.

Seríamos nós, seres humanos, nada mais que “lobos em pele de cordeiros”? Ou será que estou totalmente enganado, e minha teoria não passa de divagações de um revoltado com a casta religiosa? Veremos a seguir:

É claro que sou criticado, quando digo que quero acabar com a fé das pessoas. Mas também tenho que concordar, depois de muito refletir, que, quando se remove a fé dos homens, é bem possível (e quase certo) que efeitos colaterais surgirão. Afinal de contas, nada tenho a oferecer em troca do sentimento que busco extirpar. E quais seriam esses “efeitos colaterais”, ou como gosto de dizer, “exteriorização de personalidade oculta”?

Concordo com alguns amigos, quando me dizem que a fé é necessária ao homem, pois foi a própria fé que nos conduziu a sermos o que somos hoje. Mas discordo do fato de que ela seja de suma importância para nos tornarmos pessoas melhores. Ao mostrar ao homem que ele não precisa de Deus, posso estar correndo um sério risco de “ressuscitar” um monstro há tempos adormecido, assim como também posso torná-la uma pessoa livre das amarras de uma fé que o reprimira durante anos.

Um homem ou mulher que teme a Deus, acata a vontade de sua divindade, em detrimento à sua própria vontade. A pessoa que bebia descontroladamente, já não bebe mais, aquele que adulterava já não adultera mais, o outro que matava, já não matará, o viciado em pornografia não praticará mais este vício, e assim será com todos os desejos que outrora o dominavam, ou seja, serão sufocados.

Mas ao trazê-lo ao mundo da “razão totalmente esclarecida“ esses desejos presos no mais profundo calabouço de seu ser, sairão, ou permanecerão trancafiados, isso depende muito de um detalhe importantíssimo: Seu verdadeiro caráter.

Se não houvesse punição para a pedofilia, como seria o comportamento do homem que tem atração por crianças? Se as leis para homicídios não fossem tão rigorosas, ou simplesmente não existissem, como será que as pessoas com personalidades violentas se comportariam diante de uma provocação. Se não existisse inferno e céu, como seria a vida de milhões de pessoas que vivem oscilando entre o medo de “arder no fogo” e a “expectativa de morar na glória”?

Sem fé, sem o temor, sem as promessas de vida eterna com Deus, sem galardão, sem 72 virgens, sem reencarnação, sem “dia do Juízo”, o caráter de cada ser humano seria amplamente exteriorizado, e as conseqüências poderiam ser desastrosas.

Que faço agora?

Contínuo em minha busca pelo fim da fé, e aposto todas as minhas fichas no homem, esperando que sua inclinação para o mal seja menor que sua propensão para o bem, ou desisto de meu ideal, e aceito que Maquiavel estava certo e o homem é mau por natureza?

Será que madre Tereza continuaria cuidando dos pobres se perdesse sua fé? Quero acreditar que sim, segundo esta declaração feita por ela mesma em uma de suas várias cartas: “Se não houver Deus, não pode haver alma, se não houver alma então, Jesus, você também não é real."


Reputação "boa" é o que você faz quando está exposto à todos os olhares. Caráter  "bom"é o que você faz quando ninguém está te olhando, principalmente Deus"

Minha afirmativa é correta, e isso é indiscutível:

“Tirem-me a ‘Fé’, e conhecerão meu verdadeiro caráter”

Por Edson Moura







12 comentários:

  1. Edson se fosse possível daria para você colocar os textos mais de vagar para eu poder ler todos sem perder algumas reflexões que ajudaria entender toda a trama de seu pensamento, pois você postou neste blog seis textos em dezesseis dias, ou seja, um a cada quase três dias meu!!!

    Estou lendo só a metade dos seus escritos, pois tenho muita coisa para ler e comentar, eu gosto do seu modo fluente de escrever, mas quando tem muito texto em poucos dias eu não leio todos por exaustão rssr.

    As pessoas boas da religião não são as convertidas, mas as naturalmente de bom caráter, Jesus mesmo disse que só frutificaria a semente caso ela caísse em terra boa, pois as que caíssem em entre espinhos, pedras e no meio do caminho não daria fruto, ou seja, aqui esta implícito uma bondade inerente daquele que é naturalmente capas de aproveitar o melhor da religião para si mesmo.

    A religião é apenas veiculo de educação humana assim como a filosofia as artes os esportes etc que elevam o homem em disciplina, conhecimento, e contentamento mental e “espiritual” que são inerentemente neutras, sendo usado para o bem ou para o mal.

    A religião na maioria tem causado mais prisão e e retrocesso do que bem, pois ela atiça o mal, na medida em que para ele da ibope, demonizando as coisas natural da existência.

    Ninguém e em lugar algum em geração alguma, agora ou daqui a dez mil anos aniquilara a religião, pois ate mesmo um blecaute geral e destruição em massa levaria os homens ao seu estado primitivo, da onde surgiram as primeiras explicações místicas e divinas sobre o mundo.

    Se não podemos com ela, ou a ignoramos vivendo como se ela não existisse ajudando aqueles ao nosso redor que estão sendo atrasados em sua existência, ou se ajuntemos a ela, para tentarmos limpa-la um pouco de tanta obstrução que ela coloca no caminho saudável do homem para com a sua fé simples em Deus.

    Um dia precisamos acreditar em Papai do céu para poder sermos crianças melhores, mas hoje que crescermos criamos a nossa própria moralidade conforme a nobreza ou mesquinhez de nosso caráter, sabendo que muitos ainda não se tornaram adultos, ou por falta de educação ( estes podemos ajudar) ou por falta de capacidade natural ( estes precisam de sentir o fogo do inferno em seus pés). Portanto para cada pessoa uma postura diante da religião, imortalizando-a ou desmitologizando-a.

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  2. Você universalisa suas próprias experiências particulares.

    Somos egoístas por natureza. Eu sou, você é, nós somos. E o que pode nos fazer esquecer um pouco o egoísmo e olhar para o outro?

    Mas apesar de sermos egoístas por natureza, ainda assim podemos aprender a ser solidários e pensar um pouco no outro. Pela educação, pelo exemplo dos pais, pela religião, pela lei. É essa capacidade que nos diferencia dos animais. Você já viu dois lindos cachorrinhos com fome dividirem o mesmo prato sem brigar? Pode acontecer mas não é a exceção à regra. Nós, conscientemente, podemos dividir o prato com alguém.

    Então, caráter é construção ao longo da vida, assim como a moral. Personalidade é una, é o que me faz ser diferente de você. Muda-se o caráter mas não se muda a personalidade, incluindo aí, o temperamento.

    Porque homens que estudaram em boas universidades matam? Porque homens que foram criados na religião podem ser mau caráter?

    Porque existe a moral recebida e a moral construída. Nós decidimos que seguir certas regras de convivência social nos apraz ou não. Liberdade, lembra?

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  3. Agora, focando mais no teu texto:

    você diz:

    "Um homem ou mulher que teme a Deus, acata a vontade de sua divindade, em detrimento à sua própria vontade"

    Ora, é não é exatamente isso que me faz a lei e as normas de convivência sociais? Eu falei sobre liberdade, mas sabemos que não temos liberdade para fazermos o que der na telha.


    Várias coisas que nós faríamos não fazemos por causa das regras sociais e não somente por causa da religião.

    O que me impede de ir até uma mulher acompanhada e dizer na cara dela: "Tu és muito gostosa e estou logo para te comer"? Regras de convivência sociais, antes de tudo. Antes da moral religiosa dizer que tal atitude não é boa, a sociedade já te disse.

    Nisso você está certo: se não houvesse nenhuma lei que impedisse de roubar um banco eu roubaria? Se não houvesse a regra de ouro da religião judaico-cristão do amar ao próximo como a ti mesmo, o fiel amaria?

    Que fique claro um ponto: não é preciso ser religioso para se ser bom caráter. Você é um bom exemplo disso, apesar de não te conhecer pessoalmente, sei que você busca ser um bom caráter. NO sentido de ser bom cidadão, de não prejudicar ninguém, de não buscar o mal para ninguém.

    Então, qual a diferença quando a religião diz que nós não devemos roubar e a lei criminal diz a mesma coisa?

    Se alguém deixou o alcoolismo, as drogas, as atitudes violentas por causa da fé, onde está o mal? Se a fé controla algo em mim que não é bom, que mal há? Não faz a lei a mesmíssima coisa?

    A verdade é que o ser humano para viver em sociedade não pode ser livre para fazer o que quiser, pois ele é antes de tudo, egoísta.

    Você ainda diz:

    "Sem fé, sem o temor, sem as promessas de vida eterna com Deus, sem galardão, sem 72 virgens, sem reencarnação, sem “dia do Juízo”, o caráter de cada ser humano seria amplamente exteriorizado, e as conseqüências poderiam ser desastrosas."

    Se serão desastrosas, porque tirar a bengala? Não aposte cegamente na boa vontade humana, você com certeza, se arrependerá.

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  4. Eu acredito que pessoas nasçam com mais propensão ao mal do que outras. Mas isso não determina quem serão no futuro. Somos seres complexos.

    Pode ser talvez que o egoísmo inato do ser humano possa um dia ser superado por vias naturais, apenas com a razão humana. Ou seja, a pessoa chegar e dizer: "não, eu preciso ajudar ao meu vizinho porque isso é melhor do que nutrir com ele uma inimizade".

    Mas até nessa suposta racionalidade, nós estaremos pensando o que será melhor primeiro para nós.

    Então, o problema do verdadeiro caráter não tem nada a ver em tirar a religião. tire as leis sociais e o resultado será o mesmo.

    Sua conclusão


    "Minha afirmativa é correta, e isso é indiscutível:

    “Tirem-me a ‘Fé’, e conhecerão meu verdadeiro caráter” "

    Desculpe Noreda, mas essa afirmação não é correta e é muito discutível. Eu não tenho a mesma fé de 15 anos atrás e nem por isso o meu "verdadeiro caráter" se manifestou...eu sou o mesmo de antes. Com os mesmos princípios morais e de caráter que eu recebi dos meus pais e da religião.

    Bem, mas vou de dar o benefício da dúvida. Não vou também universalisar uma experiência particular.


    Vamos continuar discutindo.

    Convite:

    dê uma passada na minha sala. Vou postar um artigo sobre fé em duas partes e quero a sua colaboração.

    abraços

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  5. À todos que comentaram esta postagem, quero agradecer pelo alto nível dos argumentos usados.

    Pretendo, ainda esta semana rsponder à todos, mas neste exato momento estou totalmente impossibilitado de fazê-lo, pois estou com meus filhos aqui em casa...passando férias, e como tive que dispensar-lhes atenção, não pude dar continuidade às respostas.

    Mais uma vez, obrigado à todos!

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  6. Gostei. Não necessariamente concordo com tudo, mas só o fato de você usar a reflexão já me faz gostar de seu blog.
    Sou uma pessoa sem fé, mas gostaria de o ser porque torna tudo mais fácil. Vejo como maior problema, não a fé cega e sim a religião porque é esta que estimula a outra. Tenho alguns posts que explicam muita coisa que atormentam as "boas cabeças pensantes". Se quiser, vá ao meu blog e leia O Tripé da Tragédia Humana.
    Meu caráter foi construído por pais honestos e honrados. Assim ficou mais fácil depois eu completar o que sou hoje.
    Parabéns pelo bom blog.
    Atena

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  7. Eduardo meu capitão, gostei muito do seu comentário mas acho que alguns pontos do meu texto ficaram "nebulosos para você.

    Você deve ter reparado que eu não uso apenas exemplos de fé para amparar minha afirmação, antes uso até mais, fatores sociais.

    Agora, você prefere andar ao lado de alguém transparente em seu caráter ou personalidade, ou com alguém que camufla suas intenções com o manto da fé?

    Edu, eu preciso...quero...anseio, por acreditar que o homem é bom por natureza.

    Não quero universalizar as experiências pessoais que tenho, mas admito que elas são o referencial para o que escrevo e penso.

    Todos os dias eu pego quatro ônibus lotados de seres que eu não conheço, e fico observando cada um deles, olhando seus gestos, suas faces, seu comportamento, escutando suas conversas, e daí tiro minha conclusão que estou rodeado por pessoas de bom caráter...meigas...tristes...alegres enfim...pessoas.

    O texto tem como objetivo, a reflexão...peço bem no início dele, que os leitores sejam honestos consigo mesmos e observem o ser humano que está dentro de cada um.

    Não persistirei nesta minha busca por "tirar a bengala" dos claudicantes...mas aquilo que eu acho que mfez bem...pode fazer bem também ao meu irmão...amigo...vizinho.

    Valeu capitão, seu comentário foi muito contundente.

    abraços calorosos!

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  8. Atena, seja bem vinda à minha sala, espero que volte mais vezes.

    Quanto ao seu comentário:

    Que bom que não concorda com tudo..ufa! fiquei até mais aliviado agora. Muito do que escrevo, é feito no calor do momento, por isso, meus textos podem ter algumas incoerências com outros textos já postados.

    Também não tenho "fé"...assim penso. Mas já fui em crente muito fervoroso. Hoje procuro ler o máximo que posso sobre psicologia...filosofia...psicanálise...e neurociência. Só munido destas armas que capacitam nossa persepção do real, é que posso viver tranquilamente.

    Meu caráter, assim como o seu e do Edu meu amigo aí em cima, também foram moldados por pais honestos e relacionamentos saudáveis, mas com a religião, infelizmente o que aprendi foi somente negar as pulsões que constituem o ser humano, e acho que isso não é muito bom, pois não nos damos a chance de deixar que as pessoas ao nosso redor nos ajudem a enxergar nossos defeitos.

    Sei que você é pós-graduada em psicologia, e talvez eu tenha falado um monte de bobagens agora, mas é assim que eu vejo o mundo...mesmo sem fe!

    Obrigado pela contribuição!

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. atena para vc, gosto muito desta frase.

    Se houver fé na mentira, há inocênia do crente. Mas na mentira da fé ha condenação do pastor.

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  11. Meu amor,

    Esta é a segunda vez que leio este post...

    Senti uma ampla vontade de comentar após a primeira leitura, mas eu precisava de uma aval sua para finalmente poder teclar com os meus dedinhos aqui...rsrs...e como você me autorizou, vamos lá..

    Eu concordo muito com você, quando diz que a fé pode ser uma película que encobri o caráter de uma pessoa....pois também no meu modo de pensar, embora hoje eu ainda seja uma pessoa aderida de muita fé, muitos frequentam igrejas e demonstram ser o que não é, simplesmente para manter um padrão de personalidade fiel....fiel à Deus, fiel à igreja...ao irmãos da igreja....

    Eu aposto na bondade humana, mas não vou omitir que acredito que uma grande parte de pessoas têm propensão para a maldade....

    Mas penso, que...assim como pessoas escondem-se atrás de suas fabulosas "fés", escondendo seus devidos caráters....existem pessoas também muito boas munidas de fés, e que apenas a utilizam como complemento para agir com mais amor e bondade....

    O que não podemos é generalizar....

    Se um dia as pessoas agissem por bem delas...e para o bem de todos, sem temer a Deus, sem fazer coisa errada...ou se fizerem também, assumirem e pedirem perdão para os outros e não apenas se preocupando com o perdão de Deus unicamente...eu acho que assim as pessoas seriam mais humanas...

    As vezes penso, que as pessoas se prenderam tanto à fé...tanto à religião...que eles se esqueceram do humanismo...que são humanos e rodeados por humanos.....

    Muitos vivem para um deus...para uma religião direcionada a um deus...e esqueceram-se de viver, de amar, de serem o que são....

    Precisamos conhecer as pessoas, e não mais continuar pensando que as conhecemos quando na realidade não a conhecemos....

    Se vemos uma pessoa dentro da igreja, seguindo a risca todos os mandamentos, pensamos que conhecemos a sua "bondade", mas não a conhecemos....pois ela pode estar ali encenando uma papel que nem mesma ela percebeu a ridicularidade....

    Para mim, a fé é má no sentido em que ela encobri as pessoas...que ela mutila o homem, levando-o a ser o que não é.....

    E para mim a fé é boa no sentido, em que ela insista na revelação da verdadeira identidade do ser humano, munindo-o de amor próprio e não falso..

    Beijos meu lindo.

    Acho que depois eu vou comentar mais alguma coisa...é que agora já estou cansada, pois comentei em muitas salas hoje.

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  12. Não, não, Edson. É que quando a gente se aventura por caminhos desconhecidos o mal pode estar sempre à espreita, e se quisermos ir sozinhos tudo bem, mas quando outros podem ir atrás de nós aí é que é preciso mais responsabilidade.

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