quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Dilemas Ético-filosóficos"

Por Noreda Somu Tossan

Quem nunca passou por dilemas? Todos nós passamos, todos os dias, pelos mais variados dilemas. Alguns são simples como: “Corro para pegar o ônibus ou ando calmamente em direção ao ponto, para não ser visto como desesperado?” Mas quero propor-lhes dilemas mais complexos...mais existenciais. Verdadeiras “sinucas de bico”.

Este artigo tem como maior motivação a reflexão. Todos que quiserem participar dos debates que se darão (no campo das idéias) serão bem vindos. O artigo permanecerá por tempo indeterminado no topo deste blog, e peço encarecidamente que os leitores participem com perguntas ou afirmações...hipóteses ou provas científicas, mas sempre com clareza de pensamentos e nunca com respostas instantâneas, pois no decorrer dos comentários, ficarão chocados ao ver que não pensavam o que achavam que pensavam.

Peço também, que, todos que comentarem, acrescentem ao início de cada comentário, o número correspondente ao mesmo, pois assim, ficará mais fácil responder às perguntas e até mesmo consultar alguns comentários que possam parecer incoerentes ou contraditórios no decorrer da enquete.

A Física nuclear e a Química tornaram o homem o “senhor dos elementos”. Os últimos avanços da tecnologia e da ciência, na área da Biologia molecular e Bioquímica, permitem que decifremos os mapas genéticos responsáveis pela estrutura dos organismos superiores. Realizando-se a sonhada supremacia humana sobre as demais criaturas do universo, o homem poderá mais adiante, tomar nas mãos os planos e o controle das condições de nossa existência na Terra.

Mas no entanto, esses sonhos da “razão esclarecida” poderá produzir monstros que venham a nutrir fantasias perigosas. Haverá uma guerra entre a razão completamente esclarecida e a barbárie mítica? Teríamos alcançado, com o progresso da tecnociência, também o perigoso limiar em que a auto-determinação da razão se converterá em seu contrário, se considerarmos o ponto de vista ético?

Ao assimilarmos os processos naturais da vida, a artefatos construídos pelo homem, não estaríamos perdendo o sentido natural da natureza, já que o “natural” sempre foi entendido como o que cresce por si mesmo, diferente dos produtos que o homem cria? Não estaria o progresso da ciência indo de encontro à ética e à moral?

Avanços tecnológicos que interferem diretamente na constituição do homem...em sua sobrevivência por mais tempo e em novos métodos de reprodução, já vêm provocando dilemas éticos que acabaram por trazer o progresso científico para o centro de debates filosóficos. No futuro, a tendência é de que outros embates surjam à medida que o homem consiga alterar artificialmente a vida. Vamos aos dilemas mais polêmicos da atualidade:

1º- Células-tronco: O homem descobriu que essas células têm a capacidade de se multiplicar para corrigir diversos tecidos do corpo, o que é um avanço no tratamento de doenças até então incuráveis. A controvérsia aparece em algumas formas de se conseguir essas células...como coleta feita em embriões. Seria ético destruir embriões para salvar vidas?

2º- Eutanásia: Um grande debate no mundo atual é se o homem tem o direito de escolher se quer continuar vivo, ainda que sofrendo...ou se deseja dar fim à própria vida. O que você acha?

3º- Reprodução humana assistida: Técnicas de engenharia genética proporcionaram a muitas pessoas a possibilidade de ter filhos, mas podem ser usadas para manipular células germinativas com objetivos como escolher o sexo da criança que será gerada...ou mesmo visando a eugenia (apuração da raça). Você concorda?

Escrito por Noreda Somu Tossan



11 comentários:

  1. 1) "Tornou-se chocantemente óbvio que nossa tecnologia escedeu a nossa humanidade"...estaria Albert Einstein certo ao fazer esta declaração?

    A filosofia do futuro poderá dividir-se entre a "superação tecnológica" do homem, de um lado, e do outro o "apelo preservacionista à responsábilidade".

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  2. Edson, essas questões de fato, estão na pauta das discussões éticas. A ciência vai continuar sua marcha cada vez mais nos surpeendendo com novas técnicas, experimentos, possibilidades. Mas a ciência não sabe o que é ética, dignidade humana, valores. É por isso que a ciência sozinha é perigosa. Não foi Einstein quem disse que a religião sem a ciência é cega e a ciência sem a religião é manca?

    Das três questões abordadas, para mim a mais perigosa é a possibilidade da eugenia. Para mim, a possibilidade de se escolher o aspecto físico de um bebê é ir muito longe, é não respeitar a genética. Isso não acontece creio, na possibilidade de que doenças genéticas sejam tratadas já na gestação, isso sim, será uma revolução.

    Em relação às células troncos e a eutanásia, não vejo tantos problemas éticos. Volto depois, ok?

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  3. 5) Edu, só complementando:

    Mesmo que seja durante uma gestação natural,se intervirmos, com a manipulação de genes, não estaríamos ainda assim, tentando criar um ser humano..."sem defeitos"?

    Mas a pergunta que não quer calar é a seguinte:

    Como limitar o ser humano do futro, para que em seus anseios Narcizistas, ele queira também escolher, cor dos olhos...altura ideal...cor da pele...Quociente de Inteligência...e etc...

    Lembro-me de um homem que já tentou praticar esta "arte"...muitos o chamavam de "Führer".

    Abraços!

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  4. Edson, como eu disse, a ciência sem a ética é perigosa, pois a ciência não se preocupa com essas questões, por isso mesmo, deve-se sim, controlar a ciência pela ética.

    As células troncos podem ser adquiridas, como você disse, do cordão umbilical. Atualmente, em alguns países, já se pode manipular óvulos fecundados congelados que de qualquer forma seriam descartados. Nesse caso, não creio que seja aético aproveitá-los, já que seriam jogados fora. Agora, criar um banco de óvulos fecundados para isso é controverso, ainda que um óvulo fecundado não seja ainda, tecnicamente, um embrião.

    Como eu disse, sou totalmente favorável que a ciência seja capaz de curar graves doenças genéticas antes mesmo do bebê nascer, isso será uma revolução inimaginável para o bem estar da vida humana. O que ultrapassar a questão de saúde e cair na possibilidade de escolha de caracteres fisionômicos, deve ser proibido.

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  5. Deixa eu dar minha modesta opinião:

    1-Não sei.

    2-Acho que no caso da eutanásia, o ser humano tem o direito de escolher, embora se fosse o meu filho ou uma pessoa que eu amasse, eu tentaria através da conversa dissuadir desta escolha, sempre tendo a esperança de que acontecesse um “milagre” e ela se recuperasse.

    Existe tantas pessoas neste mundo que estão acabando com suas vidas lentamente, por que eu seria contra uma pessoa que esta com uma doença incurável e sofrendo muito querer tirar a sua vida?

    3-Neste caso eu sou a favor da possibilidade de que doenças genéticas sejam tratadas e quem sabe até curadas já na fase de gestação.

    Se minha esposa estivesse grávida, e a ciência tivesse recursos para curar uma doença já na fase de gestão, com toda certeza eu faria, porque qual o pai ou a mãe que em plenas faculdades mentais e amando demais o seu filho, se tivesse a oportunidade de inclusive sacrificar sua vida, para que ele nascesse saudável não faria?

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  6. 10) Eduardo, lí seu artigo na Confraria dos Pensadores fora da Gaiola e achei muito bom. Mas se eu fosse dar uma opinião lá, você já deve imaginar que ela seria: "Minha religião é a ciência". Esta mesma ciência que me causa medo....ao perceceber que o homem, com o passar do tempo e evolução tecnológicas e científicas, torna-se perigoso para si mesmo.

    Precisamos estabelecer urgentemente limites Éticos e jurídicos a as pesquisas na área da tecno-ciência.

    Pergunto: "Até que ponto, é eticamente justificável tornar disponível a base somática da personalidade?

    Para as futuras gerações de humanos, quais seriam as consequências éticas e existenciais implicadas na modificãçõe tecnológica das condições e principalmente nas referencias tradicionais...que até hoje determinaram a auto-compreenção e a auto-estima da humanidade, com seus lados positivos e nehativos....de luz e de trevas?

    continua...

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  7. 11) Eduardo e Marcio, a ciência libera para a maneira de agir e pensar do homem, um extraordinário potencial, que altera a concepção tradicional de seus limites e extenção, e eu acredito que os efeitos da intervenção tecnológica (genética...crio-preservação...entre outras) têm um poder enorme e cumulativo de destruição...e as consequências podem ser irreversíveis.

    O excesso de poder impõe ao homem este dever de proteger-se de si mesmo. (vejam o exemplo da política, onde, por termos um presidente com "muito poder"...necessitamos de outros três poderes para que ele não se deixe levar pela sua própria sede de mais poder. Acho que a proposta original é de Montesquieu)

    Pois bem, e assim acorre que a técnica, essa obra fria e pragmática da astúcia humana insere o homem num papel que apenas a religião muitas vezes lhe atribuíu...o de administrador e guardião da criação.

    Pergunto aos dois:

    Ao passo que nós caminhamos rumo ao desconhecido e utópico futuro científico, não é de se estranhar que dentro de 50 ou 60 anos, nós já tenhamos descoberto uma maneira de fazer com que nossa espécie viva cada vez mais. Pois bem. E quando nós conseguirmos atingir este patamar...e finalmente levarmos o homem a viver pelo manos 200 anos, quanto tempo seria necessário para que a Terra entrasse em colapso por ter 15 bilhõesde habitante e nós tivessemos que começar a:

    1º Fazer controle ne natalidade..por meio de concientização...e depois por meio de coerção.

    2º Fazer uma seleção mais apurada (eugenia) do ser humano que vai nascer, afinal, num mundo com controle de natalidade...quem vai querer um filho com defeitos?

    3º Legalização do aborto, Este seria apenas um reflexo do tópico acima..Enfim não precisariamos mais de tanta burocracia e discussões éticas para abortar um feto...era só fazer e pronto.

    4º Uma limpesa étinica seria necessário. Primeiro a exclusão do convívio social...depois a execução. (Onde será que eu já ví esse filme hein?)

    5º E por fim, para mentermos o "equilíbrio" e a sustentabilidade da vida no planeta, veriamo-nos obrigados a começar a matar aqueles que já pasaram dos 70 anos, pois precisaríamos dar a chance de uma nova geração nascer.

    Moral da história:

    É necessário apenas uma "catástrofe existencial" como essa que acabei de "imaginar", para anularmos todo o bem que a tecnologia e a ciência já fizeram...e pôr um fim a história. humana

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  8. 12) Meu grande ídolo Sócrtates, não gostava de ciências muito sofisticadas, embora as conhecesse todas. Ele dizia que o conhecimento sofisticado exige um esforço extra que tra o tempo do estudante da busca humana mais básica e importante....a da "perfição moral"

    Abraços e parabéns Marcio..e Eduardo que tiveram coragem de expôr seus pensamentos nesta sala!

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  9. 13) Errata:

    Onde escrevi "tra o tempo"...leia-se "tira o tempo"

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  10. Edson, pois volte à confraria e escreva que a ciência é a sua religião.

    Você levanta questões muito importantes. Eu posso concordar que o humano em nós pode ficar cada vez menos humano no futuro devido ao excesso de tecnologização da vida e a instância que poderia manter o equilíbrio da dignidade humana, a fé em DEus e a ética, estão a cada dia sendo questionadas (principalmente a fé em Deus), devido à ditadura da relativização radical dos costumes.

    Mas eu não me permito ser tão pessimista quanto você. Creio que a humanidade do futuro terá uma consciência ecológica, espiritual, humana, como em nenhuma outra época.

    Mas para isso, valores fundamentais para a vida, para a dignidade, para a liberdade, têm que ser preservadas. O velho decálogo está mais atual do que nunca.

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  11. Eduardo, valeu a tentativa, mas não voltarei à Confraria. Tenho acompanhadop todos os debates por lá, e confesso que o dedo já coçou umas boas vezes..mas controlei o ímpeto.

    Edu, eu não sou tão pessimista assim...este é apenas o meu método de análise. Eu exagero...apélo...forço o raciocínio, mas na verdade, tenho minhas convicções bem estruturadas.

    Gosto de falar de assuntos polêmicos...só para ver até onde vai a fé...ou a razão dos leitores.

    Minha intenção é que apenas pensemos com mais responsabilidade sobre os possíveis desfechos da evolução tecnocientífica.

    Abraços!

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