Por Noreda Somu Tossan
Era uma vez, um avião com várias personalidades brasileiras, (políticos e líderes religiosos) que estava caindo. Infelizmente (ou felizmente) não há possibilidades de salvamento, e todos morrerão, pois o avião vai se "espatifar" no chão e considerando o caráter de seus passageiros..."espatifar" é o termo mais apropriado.
Era uma vez, um avião com várias personalidades brasileiras, (políticos e líderes religiosos) que estava caindo. Infelizmente (ou felizmente) não há possibilidades de salvamento, e todos morrerão, pois o avião vai se "espatifar" no chão e considerando o caráter de seus passageiros..."espatifar" é o termo mais apropriado.
Em seus últimos momentos de vida, todos rezam...alguns oram... e confessam seus "pecados", é claro, versões resumidas, e entregam sua alma à providência divina. O avião se esbagaça no chão e os patifes (ops) morrem.
No "céu" Pedrão os recebe de cara feia. O grupo elege ali no momento um porta- voz que explica quem são e de onde vêm. Pedrão "pede" que ele se cale e diz que já sabe muito bem de toda a história deles.
- Não precisa gastar seu vocabulário, eu sei muito bem quem vocês são!
Pedrão aponta para uma pilha de papéis sobre uma escrivaninha cheia de carimbos e formulários e diz:
- Recebemos suas confissões e seus pedidos de perdão e entrada no céu.
O Porta-voz engole em seco e pergunta meio gaguejante:
- E… então?...Fomos aceitos?
Pedrão não responde. Olha em volta, examinando a cara dos "meliantes" que suplicam, aponta para cada um e manda que se identifiquem pelo crime:
- Eu fui um "Juiz Corrupto". Vendia veredictos e enganei centenas de pessoas. Estava assentado na mais alta cadeira da justiça na Terra e minha atitude compromete toda uma classe de magistrados.
- Fui um pastor muito influente no Brasil. Menti para os fiéis.
- Fui um pastor muito influente no Brasil. Menti para os fiéis.
- Sabe aquela grana dentro da Bíblia...era só a metade. Tinha muito mais dinheiro escondido no fundo da mala.
- Pratiquei o "coronelismo" no Maranhão
- Superfaturei obras públicas.
- Favoreci empresas que me apoiaram na candidatura.
Todos relataram seus podres até que Pedrão fica de "saco cheio" e manda parar.
- Seus requerimentos passaram pela "Comissão de Perdão" e foram rejeitados por unanimidade, diz Pedrão. Passaram também pelo "Painel de Aceitações", apenas por mera formalidade, e igualmente foram rejeitados por unanimidade. Mas como nós, mais que ninguém, temos que ser justos...para dar o exemplo, examinamos os requerimentos também na "Câmara Alta", da qual eu faço parte. Uma maioria esmagadora votou contra. Houve só um voto a favor. infelizmente, era o voto mais importante.
- Você quer dizer…(interpela o porta-voz)
- É! Ele mesmo. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a vontade soberana d’Ele. Isto aqui ainda é o "Reino dos Céus", e o que Ele manda..nós fazemos.
- Então nós podemos entrar?
- Você quer dizer…(interpela o porta-voz)
- É! Ele mesmo. Neste caso, anulam-se todos os pareceres em contrário e prevalece a vontade soberana d’Ele. Isto aqui ainda é o "Reino dos Céus", e o que Ele manda..nós fazemos.
- Então nós podemos entrar?
Pedrão suspira com ar triste.
- Podem. Se dependesse de mim, iam direto para o "Inferno". Mas…
E todos entram pelo "Portão do Paraíso", dando risadas e se congratulando. Um querubim que assistia à cena vem pedir explicações a Pedrão.
- Mas como é que o "Todo-Poderoso" não castiga essa gente?
Pedrão, desanimado diz:
- Sabe como é né, Brasileiro…
Edson Moura (adaptação da crônica "Habito Nacional" de Érico veríssimo)